quarta-feira, 30 de março de 2011

A agonia da história

     Acompanhei, esta semana, as notícias dando conta do incêndio que destruiu parte do prédio da UFRJ, na Urca, e fiquei imaginando a tristeza que acometeu uma gama de gente que fez parte das coisas que se passaram por alí, além do universo de pessoas que lutam pela preservação do patrimônio público.
     Pela tomada aérea da foto nos jornais é possível apenas calcular os custos do reparo de toda aquela área avariada pelo fogo. Algum tipo de recurso certamente será deslocado para reconstruir um pouco do que foi perdido. Mas, uma parte considerável do que foi construído naquele lugar vai ser representado pela lacuna que sempre vai existir, pela omissão do poder público, pela irresponsabilidade social, pelo descaso com nossas riquezas, pelo despreparo em lidar com coisa pública.
     Na verdade, este é mais um caso a se somar aos inúmeros eventos de destruição do patrimônio histórico que pecam pela falta de fiscalização.
     Muito antes de as chamas consumirem um pedaço do conjunto arquitetônico da UFRJ, a nossa história contemporânea vem dando mostras de que a sociedade como um todo dá muito pouca importância aos nossos registros históricos.
     Não faz muito tempo e relembramos os incidentes de infiltrações na Biblioteca Nacional, os furtos de objetos do Museu Nacional, além de peças do mobiliário urbano que vêm, sistematicamente, sendo usurpado, numa prática que já faz parte do cotidiano social.
     Ao longo desses tempos de alienação cultural, um universo de cidadãos adotaram o conceito primário de que se pode reconstruir, por intermédio de tecnologia de ponta, algo que foi acidentalmente vilipendiado. Com isso, os elementos do passado vão se esvaindo no mesmo compasso do crescimento urbano.
    Cada  pedestre que atravessa a rua, cada motorista que inferniza o rush, o estudante alienado, o trabalhador descrente, o agente público corrupto, todo mundo respira essa atmosfera de futuro incerto, e acaba cvontribuindo para o cenário que vai se desenhando, enquanto não se cobra do legislador a parte que lhe cabe.
    Por enquanto, pelas marcas que a história da administração pública deixa, ainda não há garantias de que esse processo de deterioração terá fim  

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