quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O samba não tem fronteira

      Li uma reportagem sobre uma tese de doutorado que o músico Felipe Trotta fez sobre o samba e suas vertentes, fazendo a separação entre o Samba de raiz e o Pagode nos anos 90, cujo trabalho acabou reacendendo uma velha polêmica quanto à forma e o conteúdo que cada um utiliza em suas produções.
      Não é de hoje que as manifestações culturais sofrem as influências de outras vertentes do mesmo segmento, acrescentando ou suprimindo elementos próprios de uma época ou lugar.
      A própria Semana de Arte Moderna, em 1922, já admitia essa mistura de coisas como parte do processo que impera hoje em dia, apregoando apenas que se utilizassem os elementos da cultura brasileira, sem a interferência de movimentos vindos de fora do país.
      Depois que Villa-Lobos botou o “Trem Caipira” para rodar pelo Brasil uma gama de artistas consagrados se valeram desse expediente para exaltar a beleza brasileira. Se o eterno maestro conseguiu promover a mistura do popular com o erudito, não foi difícil fazer esse entrelaçamento, que aos olhos de muita gente pode significar a descaracterização da história.
      E no samba não foi diferente, mais ainda pela influência de elementos religiosos presentes em suas manifestações, dada a sua origem histórica, daí a variedade de cadências e compassos. Talvez esteja aí o divisor de águas da rica e linda história do samba. Além do Samba de raiz e do Pagode, também o Samba-canção, o Samba de breque e o Samba-enredo alternam componentes de exaltação dos amores e dos protestos, como cultura romântica, socializante ou politizadora que deve nortear qualquer forma de manifestação cultural.
      O samba como segmento aglutinador de massa precisa ter essa premissa básica sempre, independentemente da forma e conteúdo com que vai se manifestar e difundir a mensagem nela inserida.
      A legitimidade do samba não pode ficar restrita a um único ritmo, justamente para não se criar fronteiras nesse enfrentamento inútil.
   

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