terça-feira, 27 de setembro de 2011

Vida em questão

     Vida em questão. Na efervescência da rotina que cumprimos ao longo de nossa caminhada o mote que inicia essa breve explanação revela a preocupação com as perdas que sofremos por ocasião de algo que não deu certo nas coisas que planejamos. Mas se tem alguém em quem confiar; aquele que representa fielmente as nossas aspirações; em quem confiamos nossos mais nobres desejos, é natural que a indignação tome o espaço da esperança que acalentamos.
     Pela própria característica de misericordiosos que sempre fomos, desde a época da conquista do fogo, dos refugiados das grandes guerras, do êxodo rural, a vida nossa e a dos outros fica sempre em primeiro plano. Quando estamos por um fio pela imprevisibilidade que cerca a natureza humana a tragédia pode ter a dimensão muito menor que a causada pelas vacilações do homem público.
    Agora acompanhamos esses eventos nos hospitais públicos do Rio de Janeiro que ilustram muito bem até aonde vai a competência humana e a responsabilidade do homem público. Na vida atribulada que nossos governantes levam, a mediocridade e o respeito pela vida humana são dois extremos de mesmo vetor, quando a vida pública passa pelo crivo da sociedade. E exemplo é o que não falta.
     Semana passada, um idoso só conseguiu internação numa outra unidade porque um familiar recorreu à justiça para garantir a transferência. No Hospital de Saracuruna, outro idoso não resistiu à espera e morreu antes mesmo de ser atendido naquela unidade.
     Lembro muito bem que no primeiro dia de seu mandato, o governador Sérgio Cabral foi ao Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, e prometeu que seria implantado ali, naquela unidade, o melhor modelo de saúde pública em nosso estado.
     Não é de hoje que vemos essas aberrações que ultrapassam gerações e mandatos de governo. No caso específico do Estado do Rio de Janeiro, compreendemos que a dimensão do problema se confunde com a própria geografia do território fluminense, e o governador precisa da ajuda do governo federal para resolver a questão. E para nossa própria desgraça, existe um problema muito maior para ser resolvido.
    Muito tem se discutido sobre a questão da saúde publica no Brasil, com ênfase no esforço que o governo federal vem fazendo para angariar mais recursos para o setor, como forma de melhorar a qualidade dos serviços prestados, cujos efeitos podem ser verificados pela calamidade em que se encontra uma gama de unidades hospitalares espalhadas pelo país, seja da esfera municipal, estadual ou federal.
    Com o descarte definitivo da CPMF pelo Congresso, as atenções estarão voltadas para a Emenda 29, que estabelece um patamar mínimo de 10% das receitas para investimentos no setor, faltando apenas o Executivo definir a fonte de tais recursos. De qualquer forma, esta pode ser a última tentativa do governo federal de criar uma nova taxação para a combalida área de saúde no país, considerando até que num passado próximo essa CPMF fomentou a Saúde e o quadro de penúria não se reverteu.
    Para o empresário Jorge Gerdau, presidente da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, vinculada à Presidência, enquanto houver deficiência de gestão como tem na área da Saúde, é preciso, não fazer aumento de impostos. Segundo ele, a carga tributária já tem um nível que não deveria permitir pensar em novos impostos.
    Agora que a sociedade começa a se mobilizar pela transparência com a coisa pública o advento de um novo tributo não seria bem-vindo. E a cada vez que surgem relatos de descaso com a vida humana e registros de irregularidades, como aconteceu recentemente em unidades federais do Rio, apontadas pela Controladoria Geral da União, mais a opinião pública questiona a forma como está sendo conduzida essa administração pública.
     A representatividade que se dá por atitudes também revela o desprezo pela vida quando uma questão de alta relevância não é tratada com a atenção devida.
     Vida em questão é a esperança de um próximo pleito, é a imagem da primeira impressão que fica; a certeza de ser bem representado em seus mais nobres anseios. Não são poucos os que sabem que uma vida dura muito mais que um simples mandato. 
 

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