segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Arqueologia em foco

     A humanidade não se cansa de buscar respostas para sua longa e imprevisível caminhada. Mas em toda essa trajetória um paradoxo marca o desprendimento do homem quando ele remexe o ar que respira e a terra em que pisa. Na velha lida de revolver a terra, visando o progresso, eis que o indivíduo acaba desconstruindo parte de sua própria história.
     O Centro Brasileiro de Arqueologia(CBA), pelo envolvimento nas discussões a respeito da arqueologia, e a participação efetiva nos principais eventos ligados à pesquisa científica, se notabilizou por sua longa e incansável luta para trazer para a sociedade o reconhecimento da arqueologia como ciência imprescindível para os principais projetos do país.
   Nesse sentido, a arqueologia está mais visível aos olhos da sociedade que pode, perfeitamente, refletir sobre a importância do arqueólogo, cuja atribuição está intrinsecamente ligada aos elementos do passado e do futuro que nos espera, considerando a tão alardeada questão da sustentabilidade que deve nortear quaisquer discussões acerca do meio-ambiente e demais empreendimentos em prol do bem-estar da sociedade.
     O CBA completa agora cinquenta anos, neste dia 21 de novembro, numa trajetória de muita luta e várias frentes, acompanhando os principais projetos de infraestrutura e meio-ambiente, com soluções de preservação do patrimônio público e garantia de sustentabilidade em eventuais ações empreendedora que ponham em risco as heranças culturais e históricas, sejam eles, os sambaquis, alvo constante da expansão imobiliária no litoral do estado do Rio de Janeiro; os conjuntos arquitetônicos, frequentemente solapados pelas reformas urbanas nas grandes cidades; e outros patrimônios ambientais, sistematicamente degradados pelas ocupações irregulares do solo urbano.  
      Mas, toda a expectativa de celebração de tão sublime momento não fica restrita ao caráter festivo da data.  Na verdade, dentro desse cenário de comemoração, a comunidade científica vem a público externar sua preocupação quanto ao futuro da arqueologia no Brasil.
      No momento em que o CBA completa meio século de existência, todo o universo de pesquisadores, incluindo bacharéis em arqueologia e profissionais que tenham especialização, mestrado e doutorado nessa área, leva consigo e para a pesquisa de campo a esperança pelo reconhecimento do arqueólogo em nível nacional. Depois de instituir o Dia nacional de Arqueólogo, comemorado em 26 de julho, a entidade agora parte para a sua principal bandeira: a regulamentação da profissão de arqueólogo no país, onde a proposta vem sendo discutida desde 1974.
      Não é difícil imaginar o quanto essa indefinição toda vem causando prejuízos ao patrimônio histórico do Brasil. Em 2005, a deputada federal Laura Carneiro apresentou o Projeto de Lei nº 6145 para regulamentar a profissão de arqueólogo. Ainda hoje seu discurso continua atual, demonstrando que não só o passado, como também o futuro ficam comprometidos frente ao que, naquela época,  ela já classificava como descaso com o patrimônio arqueológico do Brasil. “O crescente desenvolvimento brasileiro, ocasionando a ocupação desordenada de áreas, gera o confronto entre a importância de serem abertas novas frentes ao progresso e a necessidade de preservação e resgate das manifestações culturais passadas”, acrescentou a deputada.
    Há quem acredite que esse momento difícil para a arqueologia no Brasil se dá devido ao pouco interesse e a desunião dos arqueólogos, divididos em entidades de pensamentos antagônicos. Ao longo desse anos, várias entidades foram criadas, como associações e sindicatos, para assegurar a integridade moral e profissional, mas que ficou no zero, devido à interferência de grupos feudais e corporativistas no território brasileiro. E esse desencontro entre entidades que não falam a mesma língua causa uma batalha ideológica que acaba emperrando o processo de reconhecimento do arqueólogo,  por conta de interesses corporativistas.
     Enquanto se arrasta o projeto de regulamentação da profissão do arqueólogo, a qualidade, eficácia e métodos empregados em projetos pelo país ficam comprometidos, em meio ao crescimento cada vez maior de profissionais com pouco conhecimento em arqueologia, envolvidos em projetos de engenharia, que passam por cima de questões éticas, por exemplo, para atingir uma meta empreendedora e ao mesmo tempo degradante e sem nenhuma preocupação com a sustentabilidade.
      Apesar desse cenário que se verifica hoje, a comunidade científica espera que a arqueologia chegue a um nível de amadurecimento em termos de legislação e procedimento.
    Pelo tempo e incerteza de tão intrincada questão fica parecendo que esse imbróglio ocorre por falta de representatividade dessa honrosa categoria. Mas o CBA vai prosseguir com a sua bandeira, reiterando o seu compromisso de esclarecer à sociedade a importância da arqueologia na realidade brasileira.
 
  

    


sábado, 22 de outubro de 2011

Reza forte

     Quando começou essa primavera sem sol, sem praia, tudo meio esporádico, borocochô, como dizia minha vó, pensei, tem algo bizarro no ar. Esses desdobramentos da semana vieram confirmar os prognósticos do mês passado, quando já se vislumbrava o inferno astral se instalando no Rio de Janeiro.
     Esse monte de dinheiro que o petróleo proporciona para o nosso estado, deixou de ser um direito adquirido para se transformar no objeto de cobiça de quem não está sentado em cima das bacias, mas pode reclamar o seu quinhão, considerando que a federação pode resolver distribuir como quiser, desde que ela fique em vantagem, porque, é aquela história, né, quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é burro ou não tem arte.
     Agora o Sérgio Cabral e os senadores fluminenses vão ter que se desdobrar até saber o que a presidente Dilma Rousseff vai fazer com essa batata quente nas mãos, caso o Congresso resolva oficializar essa rapinagem nos cofres do estado do Rio de Janeiro. Se antes, quando a gente nadava nesses royalties, já faltava investimentos maciços em áreas importantes, imagine agora sem essa merreca no tesouro do estado.  
     Que mal maior pode padecer o povo do Estado do Rio se o governador não encontrar alguma saída para o problema? Caso haja algum tipo de negociação para reverter esse quadro, um prejuízo qualquer vai haver, como forma de compensação, e o povo certamente vai pagar a conta, com arrocho nos impostos, enxugamento da folha do funcionalismo, essa velha conhecida engenharia financeira que o governo adota para não sair mal na fita, mesmo atropelando a Lei de Responsabilidade Fiscal.
    E eu aqui pensando que a gente ia poder contar com essa grana para sempre, proporcionando a qualidade de vida que estamos esperando há tempos, sobrevivendo das deficiências dos serviços públicos, que hoje em dia afeta todas as classes sociais do território fluminense.
    Os próximos capítulos dessa novela prometem, e o Supremo Tribunal Federal pode ter que decidir o destino da população do Estado do Rio de Janeiro, a não ser que a presidente considere os votos daqui importantes para uma possível reeleição. De qualquer forma, o governador vai precisar de muita habilidade, não só para convencer os parlamentares que vão votar essa partilha, como também para dar uma destinação mais satisfatória para tão vultoso recurso, porque essa riqueza que o nosso estado sempre ostentou ao longo desses anos não trouxe muito desenvolvimento para o estado.
    Vamos torcer para que tudo dê certo, porque quando imaginávamos que nossa desgraça chegou ao limite, eis que a FIFA resolve estragar a nossa festa durante a Copa, resolvendo que a seleção só jogará no Maracanã se Neymar e cia levarem a parada para a final.
     Eu, sinceramente, não sei qual o próximo infortúnio a pairar sobre nós. Eu só sei que eu também trabalho como todo mundo, também corro atrás do prejuízo.
     Então, vê aí quem jogou pedra na cruz, porque eu é que não fui...!
 




segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Balançando o berço da história

     Eu costumo andar nos trens da Central e não é difícil perceber umas placas afixadas nos vagões, alertando sobre a proibição de manifestações religiosas no interior dos trens, amparada por decisão judicial.
     Muita gente se incomodava com aquele barulho ensurdecedor das pregações sempre acaloradas, de invocações estridentes e ferrenhas, de testemunhos intermináveis, que duravam quase o tempo do trajeto até Japeri. Era a palavra de Deus que acabava sempre embalando o sono de muita gente, que depois de um dia exaustivo aproveitava para cochilar até chegar ao seu destino. Apesar do balanço do trem e dos níveis de decibéis naquele vagão de atmosfera festiva, nada abalava a vida de quem viajava naquele trem que chacoalhava também o leite das crianças.
     E como no meio de toda aquela multidão na hora do rush há certamente uma diversidade de práticas e costumes, inclusive de crença religiosa, isso por si só já seria motivo de desavenças pelo choque de opinião. Mas, não. Nunca houve confronto algum, que configurasse uma guerra santa. E a proibição em questão só se deu por conta do ordenamento que reprimiu também o fumo no interior dos trens.
      Estou contando esta passagem no mesmo instante em que 24 cristãos coptas foram massacrados em uma manifestação que começou pacífica, e ainda persiste, no Egito.
    Aqui no Brasil, não somos um primor de povo, de imagem imaculada, de comportamento exemplar. Nossas práticas também deixam a desejar, no que diz respeito ao futuro de nossas gerações. Nosso conjunto de regras não chega a frear o ímpeto dos ordinários, e o mais miserável dos indivíduos também conhece os atalhos para a sobrevivência. Mas somos também misericordiosos, filantropos. Se acontece uma tragédia a gente logo se mobiliza para juntar cobertor, fralda, água, remédio e doar sangue.
        De qualquer forma, estamos sempre fazendo um esforço para que sejamos uma sociedade mais justa. Recentemente, aconteceu na Praia de Copacabana um evento pela intolerância religiosa, onde pessoas de várias correntes se juntaram para celebrar o que pode ser a chave para um mundo melhor. Não costuma se ver esse tipo de encontro em outro lugar do planeta.
      As divergências religiosas que eventualmente ocorrem ficam restritas às instituições, partidos políticos e veículos de comunicações que procuram ampliar o seu espaço. O poder central não interfere, pois somos um Estado laico e a Constituição  garante a liberdade de expressão a todos.
    Lamentavelmente, o que ocorre no Egito é que o governo cerceia a liberdade das pessoas, com perseguição, porque a questão religiosa está intrinsecamente atrelada ao poder. Isso é grave, considerando que o Egito é o berço dessas três religiões do ocidente, que tentam agora impor, cada uma, a sua verdade, que nunca será absoluta. Num passado bem distante, o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo estavam ungidos no mesmo ideal de consagração universal. Infelizmente, com o passar dos tempos essa irmandade foi se dissipando, com esse sinistro expediente de desconstruir sua própria história, matando e morrendo em nome de um ser supremo.
      Mesmo que não sejamos um exemplo para o mundo, um modelo a ser seguido, pelo menos fazemos a nossa parte. E não é de hoje. Quando várias outras culturas foram incorporadas à nossa, por força da imigração maciça, o sincretismo religioso surgiu como um processo natural, com o entendimento de que é possível dividir o mesmo espaço, apesar das diferenças.
      Parece que depois que Anwar Sadat morreu pala causa, em 1981, a intolerância se oficializou naquele país, se impregnou no tecido social, na raiz que poderia brotar uma árvore frondosa.
        Ainda dá tempo de balançar o berço da historia, para nascer uma nova era.
   
   
   
   
   
     
       

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Que Deus é esse?

      Afinal de contas, em que Deus querem transformar o Steve Jobs? Tudo bem que vivemos numa sociedade politeísta, Deus disso, Deus daquilo, mas o fato de o Steve ter trazido uma solução para uma tendência que já se verificava, de convergência de mídia, não faz dele um ser supremo. Há muito tempo que a tecnologia anda junto com a evolução humana, e até há bem pouco tempo atrás a invenção da roda era considerado o grande feito humano, pelos desdobramentos na vida de todos até hoje.
      Além do mais, todas as conquistas e descobertas apenas se encaixam dentro das necessidades das comunidades e civilizações, desde a época em que vários grupos distintos se digladiavam para sobreviverem em seu meio social e das forças da natureza, por isso começaram a trabalhar a pedra, lascada e polida. 
      Não se pode desprezar a inteligência e desenvoltura de Steve Jobs no seu conceito de interação humana pelo meio virtual, mas não temos ainda a certeza de que esse estreitamento entre os povos e grupos sociais vai fazer todo mundo evoluir, não no sentido de acumular bens de consumo, mas de protelar o fim da raça humana, trabalhando sua própria evolução, através do entendimento. 
    Enquanto se comemora a criação de um mecanismo que estreita os laços, isso também pode servir de discórdia, haja vista o que aconteceu durante as duas Grande Guerras, quando se promovia em cada edição do conflito as novidades da indústria armamentista, como forma de manter a paz(?) no mundo. Isso sem contar as grandes descobertas que nasceram de mentes imaculadamente puras e acabaram virando objeto de  discórdia. Certamente, Albert Einstein não queria causar todo esse reboliço quando deixou o legado da fissão nuclear para a humanidade, assim como Alfred Nobel, inventando a dinamite, que poderia ser usado em projetos de construção, não de destruição.
     Muita gente pode até achar que estou querendo detonar o Steve Jobs, não dando importância ao seu feito, não é isso. Só que ele já vinha trabalhando em cima de possibilidades que já existiam, pela disponibilidade de recursos que a própria ferramenta oferecia, que outros já tinham aprimorado. Com certeza o seu trabalho vai servir de objeto para melhorar o nível de excelência, mais pela demanda, pela necessidade.
     Dentro do universo da comunicação, em que a informação precisa fluir num canal cada vez mais estreito, não demora muito as novidades de Steve Jobs serão coisas do passado.
     Quando lembramos das dificuldades que outros gênios de outrora tiveram para implementar seus projetos, lembramos dos grandes escritores, que conseguiram eternizar suas obras, sem uma grande ferramenta para difundir. Os grandes cineastas, Charles Chaplin, que conseguiu fazer tudo aquilo, mesmo com os parcos recursos da época; Roberto Rossellini, que filmou " Roma cidade aberta" com restos de negativos de filmes recuperados nos escombros da Segunda Guerra.
      Pois, é! Estou convencido de que a mente humana ainda não atingiu o seu apogeu em um grande feito, o que inviabiliza esse endeusamento inútil.
      
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domingo, 9 de outubro de 2011

Máquina emperrada

     Não é de hoje que a economia mundial vem dando sinais de fraqueza. E a cada vez que aparece um foco de crise vai se desmanchando também a ideia de onda passageira que os teóricos e especialistas insistem em classificar.
    Nesse esforço que a comunidade europeia vem fazendo para levantar a moral e a economia da Grécia, o entendimento é que não foi feito o dever de casa naquele país. Mas o que pode parecer um caso isolado de uma nação soberana com suas finanças debilitadas, revela também indícios de um modelo que já não é interessante e eficiente sob o ponto de vista prático.
      Se nações poderosas, com suas economias altamente fortalecidas, já ligaram o sinal de alerta, imagine os países que dependem de capital externo para sobreviver.
      Agora que a Grécia desponta como a bola da vez, dentro de um Bloco Econômico instável desde a sua origem, em Maastricht, surgem questionamentos à respeito desse mecanismo de relação intermitente entre as nações, como paradigma do capitalismo. Os Estados Unidos, como baluarte da economia mundial, já começaram a balançar a sua roseira, num claro sinal de esgotamento dos recursos empregado nesse capitalismo cheio de vícios que ajudaram a emperrar cada vez nais o sistema.
      Ao longo desses anos de globalização, as principais potências mundiais foram criando mecanismos, não para facilitar a fluidez do capital no mundo, mas defender seus interesses, suas fronteiras, com protecionismo que até hoje surte efeito nos países em desenvolvimento, como o Brasil, Rússia, Índia e China, que só conseguiram se destacar no cenário internacional por causa de seus prósperos mercados consumidores, objetos de cobiça das grandes corporações.
      No entanto, apesar da imensa área de atuação em nível global, o capitalismo em nenhum momento atingiu o seu grau máximo, tanto no espaço físico, como no nível de excelência. Dentro do espectro geográfico do planeta, o continente africano está, até hoje, relegado ao ostracismo. O poder voraz do capitalismo não conseguiu fazer daquela região um mísero mercado consumidor. Quem mais lucra naquele continente é a indústria bélica, fomentando conflitos sem fim, recheando de sangue e pavor a miséria que brota da terra.
    Com o papel do Estado cada vez menor nas grandes nações, foi confiado aos maiores grupos econômicos vender também os serviços básicos, cuja qualidade já não traz o bem-estar que se almeja. A classe média sofre no bolso a mesma angústia de quem não tem acesso à uma escola de qualidade e um hospital que atenda com presteza.
      Agora, com esse clima de bancarrota rondando o primeiro-mundo, urge a necessidade de um amplo debate para se rever esse modelo completamente inviável para os dias de hoje. O dinheiro que circula no planeta só gera lucra, não trabalha em cima de valores humanos. Os grandes investimentos não têm contrapartida social e ambiental, leia-se indústria automobilística, que recebem incentivos de seus governos para emporcalharem as grandes cidades de gás carbônico, sem nenhum projeto de sustentabilidade.
     Antes de se discutir os rumos do capitalismo, é bom que se saiba que de todas as vezes em que os mais ricos se reuniram, não se chegou à consenso algum, porque cada um quer sempre puxar a brasa para a sua sardinha. Isso aconteceu nos fóruns mundial e social, em Davos, Kioto, Copenhagen, Rio e mais.
      A presidenta Dilma Rousseff disse na abertura da Assembleia Geral da ONU que essa crise não se dá por falta de recursos, mas por falta de clareza de ideia.
      Diante das incertezas de um futuro promissor para o planeta, o pito da presidente pode ajudar a endireitar essa máquina emperrada. 

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Maracanazzo

     Cheguei a imaginar que a extinção da geral do Maracanã fosse a única alteração para  os preparativos para a Copa de 2014, mas eis que depois daquela conversa fiada sobre a questão da cobertura do estádio, que deveria ser alterada em função das exigências da FIFA, e com isso, precisaria de mais grana, a atmosfera que paira para muito mais além dos tapumes tem agora uma nova fragrância.
     Foi um custo para segurar a onda de uma geração desvairada, que bebe, dirige, torce, cospe, pisa, amassa e mata, às vezes, tudo isso ao mesmo tempo. Agora, os desvarios dessa tribo louca e estúpida ficam restritos aos berros  e gritos de guerra cuspidos dos bicos secos.
    Um trabalho árduo que os Senhores da lei e o Rei da Cocada Preta compactuaram para esmorecer o destempero das hordas multicoloridas.
     Da outra vez que teve Copa do Mundo por aqui, estávamos engatinhando na arte de ganhar alguma coisa, e o primeiro grande desafio naquele palco emergente ficou só no ensaio. Seria a primeira oportunidade para esbravejar "Yes, we can", pelo menos no mundo da bola.
   Tudo bem, subimos algumas vezes depois no pódium, mas os índios e caciques da pátria de chuteira inauguramos a subserviência que passava das quatro linhas, um estágio mais avançado do a-gente-joga-bola-mas-não-sabe-ganhar. Depois disso, todo mundo que vinha para cá ganhava no par-ou-ímpar e escolhia o time à dedo, tipo dedo no superávit primário, dedo na política cambial, dedo nas remessas de nossas reservas, enfim, só corneteiro...
    Agora que finalmente cortaram o barato da rapaziada que costumava beber na intensão do inimigo, os malandros da FIFA resolveram peitar a nossa hegemonia, intercedendo para que ingleses, alemães, escandinavos e outros pés de cana não sejam incomodados em seu tour etílico.
    Tudo indica que neguinho vai abrir as pernas, a não ser que Dilma Rousseff resolva inaugurar uma nova era. Como ela disse para os países ricos que a atual crise econômica se dá pela falta de clareza de ideia, tomara que seu discurso não seja auto-referente, sob pena de criarmos jurisprudência pela vacilação, jogando em seu próprio campo, casa cheia e o escambau.
    Essa flexibilização da Lei da Copa que a FIFA quer apitar, passando por cima do nosso estado de direito, seria a institucionalização da pantomina brasileira.
    Na outra Copa que ocorreu aqui, a única coisa que desmoronou a nossa soberania foi o gol do Gighia.