segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Ficou para 2016

      Ainda impera na cultura esportiva o velho estigma do vice-campeão como símbolo do fracasso, quando, na verdade, é louvável perder apenas para o melhor da competição, aquele que se esmerou do começo ao fim para chegar aonde chegou, com as glórias e o triunfo ainda construídos fora das quatro linhas.
      Se havia expectativa de uma equipe se sagrar campeã é porque houve uma preparação em tempo hábil, capaz de preparar o atleta a enfrentar qualquer intempérie, sendo ele praticante de modalidade individual ou coletiva, seja o adversário um competidor tradicional ou um emergente, que a essa altura do campeonato já se enquadrou numa nova tendência que se verifica, da prevalência do conjunto, sem essa de salvador da pátria.
      Ao ver o desempenho da seleção mexicana de futebol na final olímpica, ou a performance da equipe russa de vôlei masculino, não foi difícil perceber que na força desses grupos havia muito mais que a questão técnica envolvida. A concentração, a força e a persistência não são fundamentos como um bom passe, o chute ou a cortada certeira, mas elementos fundamentais, que se não estão na regra do jogo, pelo menos complementam todo um conjunto de valores que formam um verdadeiro campeão.
       Agora não adianta mais ficar discutindo porque a seleção brasileira só resolveu reagir quase no final do jogo; ou tentar achar explicação para o esmorecimento da equipe sob o comando de Bernardinho. Chega de medalhões que ficam o tempo todo se olhando na tela do estádio, e o outro que bate forte no braço depois de uma cortada, para mostrar que está em quadra porque tem sangue na veia, e não porque é filho do técnico, e acaba enchendo os brios do oponente e esvaziando sua própria hemoglobina.
      Independente de sermos os próximos anfitriões dos Jogos Olímpicos, urge a necessidade de um novo modelo de formação de um atleta ou equipe em toda a extensão da palavra, sem as inconveniências do estrelismo dentro das quatro linhas; sem a panelinha de dirigentes de clubes ou entidades esportivas com visões completamente dissonantes de um amplo projeto de potência olímpica, considerando que o Brasil disputa os Jogos em quase todas as modalidades participantes.
       A participação do poder público em eventos esportivos não pode ficar restrita apenas a patrocínio e gastos exorbitantes em obras de infraestrutura. É preciso estender o projeto olímpico para a área da educação pública, através de parceria com a iniciativa privada e as entidades esportivas. A escola pública pode perfeitamente formar verdadeiros cidadãos-atletas, dentro dos valores que um eficiente projeto educacional pode difundir, na base, para renovar a mentalidade de futuros competidores.
        Aliás, em tempos de eleição, não há nos discursos dos candidatos qualquer menção sobre o que pode ser feito para reverter esse quadro tímido de grandes conquistas no cenário olímpico; não se conhece nenhum projeto que possa recuperar o pouco tempo que falta, para, pelo menos ficarmos entre os 10 primeiros em 2016, com bem sugeriu o ministro dos esportes Aldo Rebelo.
       Agora, o Comitê Olímpico Brasileiro fica fazendo as contas na manjada equação de investimento/n° de medalhas, também projetando para os Jogos aqui no Rio um desempenho melhor do Brasil nas disputas, sem definir efetivamente algum critério lógico que traga bons resultados, de fato.
      Espera-se que Eduardo Paes não traga de volta apenas a experiência de construir buracos de Metrô com mais eficiência, como bem recomendou o prefeito de Londres Boris Johnson, naquele clima descontraído que destoa da seriedade da organização de um grande evento esportivo, cujo organograma vai muito mais além das maquiagens urbanas que a municipalidade costuma implementar para fazer bonito depois de acesa a pira olímpica.    

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