sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A arte do desencanto

      Um dia desses vinha passando pela Avenida Atlântica e vi um monte de quadros expostos à venda, bem em frente a um famoso hotel. Desacelerei um pouco o carro para vislumbrar aquela pequena, mas deslumbrante galeria ao ar livre, como que a confortar a rotina massante que vivemos todos os dias, de trânsito caótico, da efervescência que uma grande metrópole respira.
      Por alguns segundos pude perceber o quanto a arte nos conforta das dores do mundo. Eram rostos humanos, paisagens e naturezas mortas na dimensão exata de como a arte deve ser politizadora, socializante ou, pelo menos, romântica. Foi gratificante pensar que um sujeito anônimo representava ali, dentro de pequenas e imensas molduras nossos mais nobres anseios e aspirações, de como a arte nos impulsiona pelos valores que herdamos dos semelhantes de outrora.
     Como nem tudo é perfeito, logo percebi que me transportei do céu ao inferno, rapidamente, sem precisar dobrar a esquina. Em meio àquela profusão de óleos, pasteis e crayons surge, de repente, figuras humanas com número abaixo, em cavaletes claudicantes, suporte de mentes vacilantes e obscuras, como uma extensão medonha da vernisssage que eu acabara de vislumbrar. O realismo em nuances diferentes, no mesmo vetor, na mesma calçada. O bem e o mal ocupando o mesmo espaço e tempo.
      Fui obrigado a disfarçar meu repentino desencanto para não perder a direção. Por um momento parecia que eu caminhava em linhas tortas, sem destino. A sensação de não saber para onde ir se confundia com a desesperança que toma conta das ruas, do futuro incerto por sermos mal representados em nossos projetos de vida, de sociedade, de humanidade, enfim.
        Se algum dia arte e a política andaram de mãos dadas, esse tempo já vai muito longe, porque hoje elas são dissonantes, antagônicas. A arte congrega os homens; a política desagrega. A arte acompanha a evolução dos tempos; a política distorce o tempos dos homens.
        Pobre homem moderno, que espera que a arte da política um dia seja a alavanca do progresso e da evolução humana. Infeliz do homem que se esquiva da arte para enaltecer a política dos homens sem arte.
       A arte e a política só se equivalem pelo caráter perene de suas ocorrências. Uma pela nobreza, a outra, pela miséria.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Tiro certo

     A providencial e rápida resposta da força policial para desmantelar e prender os facínoras que barbarizaram os jovens em Mesquita jamais vai aplacar a dor dos familiares das vítimas, e tampouco o estado de choque que se abateu mais uma vez sobre a população fluminense, mas representa o melhor que a sociedade espera das forças de segurança do estado do Rio de Janeiro para fechar o cerco sobre quem vem sistematicamente tirando o sossego dos cidadãos.
       Já passou da hora de o governo estadual estender a implantação da Unidades de Polícia Pacificadora nas demais localidades da região metropolitana do Rio, de modo que a atual política de segurança contemple as outras cidades do estado que também têm regiões conturbadas e carentes de policiamento.
      Nas comunidades cariocas, as UPPs de uma certa forma inibiram a ação de bandidos, apesar dos números tímidos que se tem verificado nessas áreas ocupadas, mas é evidente que sua eficácia pode ser sentida no momento em que o poder público ampliar o raio de ação dessa importante empreitada, porque o terror que toma conta da população afeta a todos, e qualquer reação imediata da polícia traz alento a todos também. Nesse sentido, é preciso que o braço armado do governo amplie sua área de atuação com a mesma intensidade com que o poder paralelo age.
      Mesmo que os outros municípios não tenham a influência política junto ao governador, sem sintonia política, ou recursos suficientes para pagar abono extra a policiais lotados em áreas conflagradas, como acontece na cidade do Rio de Janeiro, ainda assim o governo estadual deve se fazer presente permanentemente em qualquer localidade que haja foco de tensão, com a iminência de confronto que sempre coloca o cidadão comum nesse fogo cruzado.
         A população de Mesquita e de todo o estado do Rio vêm ao longo de todos esses anos torcendo para que o governo estadual dê sempre um tiro certo como este.