terça-feira, 31 de dezembro de 2013

2013 não vai terminar agora

   Há sempre um balanço a se fazer ao final do ano, tendo sido o período conturbado ou não. Mas, o esgotamento das folhinhas do calendário não coincide com o resultado de todas as ações de 2013. Porque é sempre assim: fica sempre alguma coisa para o ano seguinte. Já faz parte da nossa cultura deixar um restinho para terminar depois.
   Desde o sujeito que vai empurrando seus sonhos, aos governantes que vão sempre reeditando suas agendas de acordo com suas conveniências, numa manobra que desconstrói completamente os cálculos gregorianos.
  O interessante é que muita coisa sem muita importância foi realizada com mais afinco, ao passo que o que era realmente necessário ficou em segundo plano. E como não é novidade vermos subverterem a ordem das coisas todo ano, fica difícil traduzir em bons números todo o esforço empregado ao longo de 2013.
  De qualquer forma, não há nada que tenha sido tão emblemático e significante que as manifestações de junho, em meio às incertezas que provocaram essa inquietude em toda aquela massa que saiu às ruas.
   Nada se compara ao clamor da população depois de um período de inércia e passividade, no momento em que se avolumavam cada vez mais os malfeitos, a embromação, o desprezo e a falta de zelo com a coisa pública.
   Se ficaram tantas coisas para o ano que vem, nada poderá mais ser realizado à revelia do povo.
   Eu costumo dizer que falta às ações do agente público a lucidez que sobra nos atos mais simples das figuras anônimas, sempre entregues às suas lutas diárias, sem, contudo perder as esperanças.
   Mas as maiores aspirações sociais dificilmente tomarão corpo pelas mãos de um ato isolado, ainda que tivéssemos um grande herói, um grande líder, cujo espírito de decisão dependeria única e exclusivamente do envolvimento geral nos principais projetos voltados ao interesse coletivo.
   É nesse sentido que o grito das ruas marcou esse ano de 2013, num momento de congraçamento pelas causas mais urgentes, reivindicadas por mais e mais vozes que em tempos anteriores só eram comuns em ambientes de entretenimento e lazer.
   Se estamos longe de inaugurar uma nova era para o cenário do Brasil, pelo menos se ensaia a revolução que vai culminar com o esgotamento dos malfeitos, há séculos impregnados no tecido social da nação brasileira.
   Em 2014 teremos dois eventos com focos diferenciados na agenda do país. Em meio à Copa do Mundo e eleições, grande parte da população certamente saberá separar o joio do trigo, o que poderá revelar outros desdobramentos no cenário político, assim como a total observância às regras práticas e socialmente viáveis na execução dos principais projetos para o Brasil, por parte do poder público.
   Considerando a timidez com que os principais agentes políticos reagiram ao chamamento popular em 2013, não há dúvidas de que a opinião pública vai acenar com novas manifestações, até que as três esferas de governo correspondam, sem vacilações, aos anseios da sociedade.
   Existe uma dívida muito grande que será cobrada com fôlego e vigor renovados para 2014, à medida que as representações políticas continuarem hesitando em reverter esse quadro caótico da atual realidade brasileira.
   Feliz Ano Novo a todos os brasileiros, e muita luz para encarar os desafios que virão.
              
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Obrigado a todas as pessoas que prestigiaram esse breve espaço ao longo de 2013!
  

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Os sinos que não dobram

   Nada poderia ser mais angustiante para a Irene agora que as luzes vão se acendendo em todos os pontos de seu trajeto cotidiano, nas fachadas, nos postes, nas árvores, nas vitrines, no mesmo ritmo do corre-corre frenético ao final de mais um ano de celebrações pelas conquistas do período, ou de juntar os caquinhos pelos revezes de um ano conturbado como foi o da Irene em 2013.
   Vão passar muitos calendários e primaveras até que a senhora da bolsa marrom desmanche a tristeza estampada como maquiagem e conserve apenas a saudade dos tempos em que tudo tinha outras cores, outras formas, outras luzes.
  As bodas de ouro, o passeio matinal, o comprometimento ao longo desses anos, a árvore frondosa dessa união, tudo são marcas de uma história que tomou outro rumo com a ausência de seu mais fiel companheiro de todas as horas.
  Se não podemos resistir ao nosso próprio fim, pelos menos temos o desafio de sobreviver ao passamento de todos daqueles que nos rodeiam, sem, no entanto, conviver com aquelas dores profundas. E as angústias da Irene certamente ela não carrega em sua velha bolsa marrom. Simplesmente estão estampadas em meio às rugas.
  Fica até mais fácil para quem chora até hoje uma grande perda compreender esse enredo trágico da Irene.
  Apenas coincidiu de ser no Natal, mas seria tão doloroso quanto em outros momentos o infortúnio de quem perdeu seu amado. E a Irene vai passar por muitos Natais com esse vazio, assim como o sujeito que dorme sob a marquise; a família desalojada pelas enchentes; o desempregado que não teve o que comer; o pai em frangalhos, que enterrou sua filha por causa de uma bala perdida e todos os outros farrapos humanos.
   Para essas pessoas, as luzes de Natal não têm o brilho intenso. Elas sobrevivem da dor alheia, porque eu e mais de um milhão de outros seres mortais também compartilhamos a miséria e a desgraça como sendo nossas também.
  Para essas pessoas, os sinos não dobram.


domingo, 22 de dezembro de 2013

A questão dos ônibus continua

   A prefeitura do Rio anunciou novo aumento do preço das passagens de ônibus, como parte dos procedimentos com os quais estamos acostumados a conviver no apagar das luzes do final de ano.
   Independente do reflexo que isso pode ter nas ruas, como aconteceu recentemente, o Sr. Eduardo Paes tem contas a acertar com a população. Quando houve toda aquela pressão para a Câmara dos Vereadores investigar transparentemente o serviço que as empresas de ônibus prestavam para a cidade, em nenhum momento o prefeito se dispôs a contribuir com as informações que o legislativo municipal precisava para conduzir os trabalhos daquela Casa.
   No auge da composição da CPI dos Ônibus, ele apenas se limitou a creditar aos vereadores da Comissão a responsabilidade pelos trabalhos que a população exigia, no momento em que os integrantes da CPI não representavam o grupo ideal para a conclusão dos trabalhos, pela ligação direta que os nobres condutores tinham com o executivo municipal.
  Com o esfriamento das manifestações, a CPI dos Ônibus acabou não prosseguindo, e tanto a prefeitura, como a Câmara dos Vereadores ficaram devendo à sociedade as respostas que poderiam esclarecer as causas da ineficiência do principal sistema de transporte terrestre da cidade do Rio de Janeiro.
  Agora, o Tribunal de Contas do Município vem alertando a prefeitura sobre a majoração dos preços das passagens dos ônibus, cujo sistema passa por uma análise do plenário do TCM, que não consegue concluir a auditoria dos serviços desse modal por falta de dados que a municipalidade e as empresas de ônibus ainda não encaminharam ao Tribunal, como relata o presidente do órgão, Thiers Montebello, que acrescenta ainda que nessa apuração que o TCM realiza inclui-se também a qualidade do serviço, além das contas do setor.
   E o próprio conselheiro do órgão, Ivan Moreira, declarou que além da dissonância com a prefeitura, há também dificuldades em se captar informações junto às empresas, o que levou o conselheiro à conclusão bem pessimista sobre a questão. Em reportagem para o jornal O Globo, dia 21, Moreira não se furtou a descrever o cenário que ilustra a área de atuação dos ônibus na cidade. Segundo ele, “Não parece possível negar que há irregularidades e obscurantismo nessa modalidade de serviço público”.  
  Se a CPI dos Ônibus não se libertou do corporativismo que costuma imperar nas casas legislativas, pelo menos o Tribunal de Contas do Município faz valer sua independência em prol da população do Rio de Janeiro, tramitando com a lisura que a opinião pública sugere na prestação de contas à sociedade.
  


terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O STJD não sabe julgar

    Não podia ser diferente que no dia seguinte ao julgamento do STJD que redesenhou a tabela do Campeonato Brasileiro, com o rebaixamento da Portuguesa, houvesse essa enxurrada de críticas por parte da opinião pública.
   Tudo bem que há toda uma paixão clubística como cenário da execração pública que o Fluminense sofreu com essa decisão judicial remexendo o resultado do Brasileirão disputado em campo.
   Mas pela indignação que eu presenciei nos bares, em volta das manchetes dos jornais e no trem, não me parece que esse barulho todo tenha como alvo principal a figura do tricolor das Laranjeiras, especificamente e sim, a moralidade como um todo, que falta também em outros cenários da vida brasileira.
  A diversidade de opiniões que grassou nas ruas só se difere pelo teor das considerações, mas tem em comum a lucidez que, segundo a grita geral, faltou no veredicto do judiciário desportivo.
  E já que todo mundo deu sua opinião, algumas até descabidas, eu fiquei também inclinado a me posicionar sobre um desfecho mais adequado ao comportamento, tanto do Fluminense quanto da Lusa, durante o tempo em que tudo isso se passava dentro das quatro linhas.
   Apesar de o STJD ser bem claro quanto às sanções aos clubes que põe em campo jogadores em situação irregular, é preciso observar se as penalidades impostas estão de acordo com a imprudência do time punido.
  Para começo de conversa, os eventuais prejuízos e benefícios que ambos os clubes, Fluminense e Portuguesa, obtiveram no final da disputa não se deram em função de um confronto direto entre os dois.
  O jogador Héverton não foi escalado imprudentemente num jogo contra o time carioca. A única situação em que poderia haver uma punição mais severa ao clube paulista, com perda de pontos, era se o atleta em questão tivesse influenciado o resultado de um confronto entre ambos. Se o Héverton entrasse em campo e revertesse um placar adverso a sua equipe, o Fluminense poderia, sim, reivindicar a reparação de um eventual prejuízo em função da escalação infeliz do jogador.
  No mais, a Lusa só ganhou um ponto no jogo em que o jogador foi escalado.
  Nesse sentido, os 4 pontos que a Portuguesa perdeu só culminou com o seu rebaixamento porque a diferença de pontos na parte de baixo da tabela era pequena.
  Seguindo essa linha de raciocínio, o STJD foi rigoroso demais, considerando que o clube paulista conquistou em campo os pontos que o livraria do descenso, enquanto que o Fluminense, em função de atropelos de sua administração ao longo do campeonato, não evoluiu o suficiente para evitar a sua queda.
  A responsabilidade da entidade de justiça desportiva do futebol brasileiro está em estabelecer parâmetros e critérios confiáveis na execução de penas previstas, de modo que a principal modalidade esportiva do Brasil mantenha intacta a credibilidade que falta a seus gestores.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Quantos lados tem uma bola?

   O enigma em torno da esfera mais notável do mundo não se restringe as suas implicações geométricas, apenas. Mesmo com toda especulação em torno de seus raios, área e circunferência, é fácil reproduzir naquele contorno e interior os dois universos do mundo da bola e seus desdobramentos no planeta chamado futebol.
  Se as leis da física não permitem alternativas à exatidão das coisas, a matemática do velho esporte bretão tem fórmulas que extrapolam completamente a lógica do cálculo puro e simples.
  Longe de imaginar, no entanto, que as várias interpretações das leis brasileiras têm seu pioneirismo na legislação do futebol. O difícil é acreditar que não havia o propósito de construir essas variantes de leitura das normas disciplinares em vigor no país no instante de suas formulações.
   O poder do julgador diante dessa liberdade para traduzir as letras da lei não pode, em nenhum momento, tornar a arte de fazer justiça plena um ofício meramente infeliz e bizarro, dissonante da nova ordem.   
  Tão importante quanto se adequar aos novos tempos, é imprescindível que os rigores da lei operem a ordem em qualquer instância, sem que isso banalize na realidade do futebol ou de outros quadrantes as aberrações que têm despontado no horizonte ultimamente.
  A urgência de novos tempos para o futebol brasileiro sugere um só caminho, sem volta, sem atalhos, de mão única.
  Passemos a bola para o STJD.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O Rio em alerta

   Não se pode demonizar o prefeito Eduardo Paes pelo caos em que se encontra a situação do Rio de Janeiro, porque em outras gestões houve a promessa de obras de intervenções urbanas que pudessem efetivamente amenizar eventuais prejuízos causados pelas chuvas que inviabilizam completamente a cidade.
  Mas também não podemos endeusar o atual prefeito pelo visível esforço para acabar com esses transtornos. Num primeiro plano, é evidente que há uma preocupação em se preparar a cidade do Rio para a Copa do Mundo e Jogos Olímpicos.
  Antes que se proponha a administrar uma cidade como o Rio de Janeiro, qualquer candidato sabe da agenda que precisa ser seguida para que a população não sofra todos os anos com esses problemas que já fazem parte do calendário da cidade.
  Nunca é demais lembrar que o Rio de Janeiro é um território de relevo e geografia complexos, em que é preciso um estudo altamente técnico, por meio do qual se permitirá gerenciar com resultados mais promissores os riscos que grande parte dos moradores corre regularmente.
  A Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e, principalmente, a GeoRio têm feito esforços fora do comum para socorrer possíveis vítimas  de deslizamentos e alagamentos, em função do sistema de alerta que a prefeitura implantou recentemente, o que, de uma certa forma, evita danos maiores.
  Técnicos e especialistas, incluindo engenheiros, geólogos, geógrafos e físicos, têm promovidos importantes debates e discussões, alertando o poder público sobre a urgência de projetos de urbanismo, levando em conta justamente essa complexidade que o mapa da região fluminense apresenta.
  Eu participei de alguns desses encontros no Clube de Engenharia e puder perceber a seriedade com que estudiosos de importantes centros acadêmicos, como UFRJ, UERJ, UFRRJ, têm apresentado soluções comprovadamente eficazes na questão da ocupação do solo urbano, tratamento de lixo e água e outros procedimentos de cunho urbanístico, cuja excelência depende exclusivamente do detalhamento desses estudos.
  Infelizmente, o poder público, tanto o governo estadual e municipalidade, não costumam participar dessas discussões, apesar de receber o convite para tal, de modo que importantes soluções para o Rio de Janeiro ficam longe da agenda do governo.
  Nesse sentido, as regiões mais críticas, incluindo a periferia da cidade e a região metropolitana, sofrem com desabamentos, alagamentos e deslizamentos de terra, constantemente.
  O Programa de Aceleração do Crescimento que as três esferas governamentais promovem na cidade do Rio é uma oportunidade única para se colocar em prática os mais relevantes projetos traçados, não só para a cidade maravilhosa, como para toda a região fluminense.  

   

domingo, 8 de dezembro de 2013

Ascensão e queda

   A culpa pela má campanha de um time ao final de uma temporada recai automaticamente nas costas do técnico e do próprio elenco, cuja avaliação passa pelo crivo dos torcedores, antes mesmo de especialistas, comentaristas e demais palpiteiros se debruçarem sobre os reais motivos do rebaixamento de um grande clube.
   Mas a dimensão de uma tragédia como essa na história do Fluminense e do Vasco da Gama vai muito mais além do que a competência da comissão técnica e dos jogadores, que dentro de suas limitações técnicas e profissionais de cada atleta, de uma forma ou de outra, marca sua passagem pelo clube, mesmo com um revés assim.
   Muito se fala sobre reformulações do futebol, como se novas estratégias assentadas dentro das quatro linhas fossem o suficiente para dar o ar de modernidade que o futebol brasileiro ainda não acompanha de outras praças.
    Quando o dirigente negocia jogadores importantes do elenco em pleno andamento do campeonato, como é o caso Fluminense, por mais competente que seja o técnico da equipe, dificilmente o time vai conseguir manter o nível que a equipe mantinha antes dos desmandos do cartola. Porque é impensável que um clube seja campeão brasileiro e no outro ano, rebaixado.
   É nessa circunstância que os ares de modernidade que pairam já em outras praças ainda não fincaram terreno nos campos do Brasil. As relações pouco transparentes de gestores e patrocinadores acabam sempre influenciando a formação das equipes e, consequentemente, no desempenho do grupo, por força de interesses que de uma forma geral degradam a imagem do futebol como um todo.
   Isso tudo porque os clubes brasileiros, em sua maioria, são comandados por pessoas que entendem muito pouco de administração e menos ainda de futebol. Portanto, fica difícil um clube atingir o nível das equipes mais competitivas e promissoras do mundo, quando não há no comando alguém que tenha vivido todas as fases de evolução do futebol, alguém que venha se atualizando constantemente, acompanhando de perto os novos caminhos que o futebol vem trilhando nesses últimos tempos.
  Apesar de toda a história brilhante que construiu ao longo de sua carreira como jogador, Roberto Dinamite não deu mostras de que tenha evoluído como alguém que se propõe a comandar e manter viva toda a tradição de um grande clube como o Vasco da Gama.
   Com isso, torcedores das Laranjeiras e da Colina vivem a angústia de acompanhar a ascensão e queda de dois clubes que por suas conquistas contribuíram para engrandecer o nome do Brasil no cenário do futebol.
   Mais do que se reerguer, o grande desafio é mudar as cabeças pensantes nos grandes clubes. E as de Fluminense e Vasco da Gama não fogem à regra.
       

A ira do torcedor

   As imagens desagradáveis que o Brasil inteiro presenciou no jogo entre o Atlético Paranaense e o Vasco da Gama revela com exatidão a desorganização do futebol brasileiro em todas as suas nuances.
  Não é de hoje que são registradas cenas lamentáveis de selvageria entre torcedores e ninguém até hoje tomou providências para que se elimine de vez a violência nos estádios de futebol. 
  Nem o advento do Estatuto do Torcedor foi o suficiente para trazer segurança nas arquibancadas e no entorno dos estádios. Toda vez em que dirigentes são responsabilizados sobre confrontos de torcidas, estes sempre imputam a culpa nas forças de segurança local, a polícia, que tem sempre um discurso pronto para se eximir de culpa também.
  Já o torcedor brigão, ou marginal, como queiram, também tem suas garantias de que tudo continuará como antes. Qualquer processo que implique uma eventual punição corre sempre no âmbito da justiça comum, cujas letras, parágrafos e incisos oferecem uma infinidade de atalhos para que o infrator seja sempre beneficiado.
  Quando aqueles torcedores do Corinthians provocaram a morte do menino em Oruro, na Bolívia, só houve punição por parte da justiça daquele país. Aqui, muito pelo contrário, além de não ter tido nenhum tipo de discussão acerca desses absurdos, pasmem, um integrante daquele grupo preso na Bolívia foi flagrado novamente num confronto com torcedores rivais, no Estádio Mané Garrinha, em Brasília.
  No caso específico desse incidente em Joinville, entre a torcida do Atlético Paranaense e do Vasco da Gama, certamente vai haver aquele velho jogo de empurra entre dirigentes e a polícia local acerca da segurança do evento, sem, é claro, nenhuma perspectiva de que alguém vai ser responsabilizado, enfim.
  Ao final de toda temporada do futebol brasileiro, há sempre um balanço de tudo que ocorreu o ano inteiro dentro da seara do velho esporte bretão. E essa questão da violência que assola o futebol do Brasil fica sempre para uma outra ocasião.
  Com isso, a impunidade continua com cadeira cativa no futebol brasileiro.
  Desse jeito, não há como aplacar a ira do torcedor.

  

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Mandela nas mentes humanas

   A África do Sul não é o único país onde o separatismo culminou em grandes conflitos, assim como a exclusão não ficou restrita apenas à questão racial.
  Mas foi na África do Sul onde nasceu o grande líder a conduzir com sabedoria a bandeira contra a barreira do preconceito que chegou a extremos em outras nações também.
   A liberdade, igualdade e fraternidade, tão propaladas em revoluções de outrora, principalmente na Revolução Francesa, não chegaram a desenhar novos horizontes porque os baluartes daquela revolta apenas tomaram para si as rédeas de um sistema extremamente excludente das mãos da monarquia e da Igreja.
   As feridas do colonialismo e da escravidão deixaram cicatrizes em todos os recantos de população afrodescendente, inclusive no Brasil.
   E se na África do Sul o apartheid não foi totalmente erradicado, pelo menos a luta de Nelson Mandela não foi em vão, haja vista o mapa geopolítico implantado naquele país após sangrentas batalhas e do poder de diálogo do maior líder político da era contemporânea.
   Além da mensagem de paz e tolerância, Nelson Mandela deixou um exemplo a ser seguido por todas as nações envolvidas nessas diferenças de etnias e classes. Nenhum país poderá atingir um nível considerável de desenvolvimento humano e social enquanto perdurar essas divisões que o atual sistema insiste em perpetuar.
   Qualquer projeto de cunho social, político e econômico só terá progresso quando as mudanças propostas estabelecerem oportunidades sem privilégios e exclusões. Numa dimensão global, o próprio continente africano precisa estar inserido nas mudanças desse atual modelo de economia mundial arcaico, protecionista e corporativista.
   Portanto, apaguem-se dos anais da história todas as revoluções que não mudaram o rumo das coisas e eternize nas mentes humanas a revolução de quem nunca se sentiu inferior, apenas igual.
  Nelson Mandela ontem, hoje e sempre. Porque a luta continua.

   

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Lazer interrompido

   Pelo caráter multicultural que a Lapa tem, principalmente nos fins de semana, de alternativas mil para todas as tribos, tanto para quem aqui vive quanto para os visitantes, o poder público bem que poderia dispensar atenção especial na questão da segurança, sem que isso implique desguarnecer outras áreas, de entretenimento ou não, que também demandam proteção policial eficiente e permanente.
   Como se não bastassem os dissabores por que passa a população em seu cotidiano normal, estende-se ao momento de lazer a agonia do carioca nos principais quadrantes da cidade, onde há aglomerações de pessoas em busca de diversão e descanso.
   Assim como acontece nas imediações da Lapa, todos os dias, recentemente o Rio reviveu o inferno dos arrastões nas praias e como sempre o policiamento se mostrou ineficaz, sem a regularidade que a ocasião exige, o que mostra que a política de segurança é muito mais oportunista, eventual, do que preventiva.
   Hoje, costura-se cada vez mais um processo de integração de grupos sociais distintos, depois que as redes sociais ampliaram esse movimento incessante de troca, Nesse sentido, essas concentrações urbanas ganharam importância e dimensão suficientes para despertar um intercâmbio crescente, mas também a cobiça de bandidos, pela vulnerabilidade desses espaços, dada a desproporção da oferta de segurança.
  A Lapa representa hoje uma grande referência cultural e turística, e por isso, cada vez mais exposta aos olhos do mundo pela diversidade, liberdade e democracia. Por outro lado, fica mais visível o descompasso entre a realidade local e a propaganda que os governantes fazem dessa imagem arranhada, no momento em que o povo brasileiro dá exemplo de convivência para o mundo.
  Em agosto de 2011, quando houve aquele trágico acidente com o bonde de Santa Teresa, o poder público deixou à mostra o descaso com as maravilhas que podem nos trazer benefícios, o despreparo para administrar nossas riquezas e belezas.
 Seja qual for o viés com que o governo hesita nos expedientes de gestão pública, o mais grave são as perdas humanas. E quando a integridade física da população fica comprometida, até mesmo em seu instante de lazer, qualquer medida sazonal será mero paliativo para vender uma boa imagem do Rio de Janeiro.   

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Nilton Santos nunca morrerá

    Quando Nilton Santos ousou ultrapassar a metade do campo para investir lá na frente, partir para cima do adversário, fazer as vezes de um atacante impetuoso e bater de frente com seu oponente, outros defensores com a mesma visão progressista para aquela época certamente tiveram a petulância de avançar além dos domínios de um mero lateral que apenas defendia a retaguarda.
   A diferença é que Nilton Santos promoveu sua sorte e ousadia com maestria e elegância, sabedoria e malícia, elementos essenciais para se enquadrar um grande boleiro na galeria dos maiores astros do velho esporte bretão.
  Tanto na seleção brasileira quanto no Botafogo, poucos envergaram com a energia do grande mestre a velha camisa 6 por ele imortalizada. 
   Toda vez que aventarem a ideia de escalar o scratch de todos os tempos, Nilton Santos figurará sempre lá na lateral esquerda, porque a Enciclopédia é atemporal, seja com bola de meia ou a contemporânea, com efeito visual; seja em campo de várzea ou da verdejante zona do agrião.
   Se existe um divisor de águas no mundo do futebol, Nilton Santos é que representa essa nova era, da dinâmica dos destacados estrategistas à desenvoltura de quem poderá um dia se tornar um ícone dentro das quatro linhas, tão ou menos brilhante que Nilton Santos.
   Eu desconfio até que muito da filosofia pregada em preleções, pranchetas e outras geringonças ainda não está à altura do que Nilton Santos inaugurou para a glória do futebol moderno.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Deixou chegar, o Flamengo é campeão

   Não poderia haver outro resultado que não fosse o triunfo do Flamengo no Maracanã. Uma festa que reproduziu fielmente os velhos tempos do maior do mundo, sem as imposições do tal padrão FIFA.
   A festa que se viu nessa nova conquista do Flamengo, além de reeditar os maiores feitos, consagra também a glória do grande estádio do povo e a identidade de quem nunca perdeu sua majestade, mesmo com outra roupagem.
   E a paixão de uma grande torcida se confunde com a história de um grande palco, de um grande templo.
   Em nenhum momento o adversário de agora, o Atlético Paranaense, demonstrou o ímpeto de quem almeja desbancar o Flamengo diante de sua grande nação, que apesar do fôlego inflacionário do novo sistema, pagou mais do que podia para representar o que sempre foi alma do futebol carioca: o envolvimento total e irrestrito da torcida do Flamengo ao projeto do rubro-negro de conquistar essa Copa do Brasil, num ano que começou cheio de incertezas quanto o futuro do time nesta temporada.
   Se no Campeonato Brasileiro o Flamengo amargou sucessivos revezes, sem perspectiva de se manter no topo da tabela, na Copa do Brasil, o Flamengo em nenhum momento demonstrou a apatia da outra disputa.
   E se a torcida rubro-negra fez a sua parte em momentos vacilantes da equipe, não seria diferente nessa Copa do Brasil, cada vez que o time do Flamengo suplantava um adversário e prosseguia na competição. Cabia então ao time corresponder em campo a toda confiança da grande nação rubro-negra.
   Então, imperou aquilo que já virou um eterno clichê: deixou chegar.
    Pois, é. Uma vitória para coroar uma grande conquista e blindar sua imensa torcida, que apesar de todo esforço financeiro para se adequar ao novo Maracanã, tem agora o mérito de gritar bem alto.
   É campeão!

terça-feira, 19 de novembro de 2013

No rastro do mensalão

   A corrupção no Brasil não é coisa que vai se extinguir com uma simples canetada, ordens de prisão, uma nova interpretação das letras da lei, dos regimentos e das artimanhas.
   Nos tempos em que era preciso dar uma satisfação para a comunidade internacional de que o Brasil inaugurava de fato uma nova era, a democracia reinstalada por aqui era vendida lá fora sem os vícios dos sistemas e regimes anteriores.
   Quaisquer aberrações e distorções no curso da nação brasileira ficavam completamente ilesas de execuções sumárias ou pouco convincentes para os padrões do que a sociedade como um todo considerava hostil e maléfica.
   Nesse espaço de tempo em que a corrupção dura no país, já impregnada no tecido social, os instrumentos jurídicos de que dispomos, mesmo não traduzindo impecavelmente as punições devidas, à altura de grandes danos causados, é o mínimo de resposta que o Supremo Tribunal Federal poderia dar à opinião pública, agora que a insatisfação popular ganhou as ruas.
   Os desdobramentos de um processo longo e extenuante como foi o caso do mensalão, apesar dos meandros que uma legislação arcaica oferece aos malfeitores da coisa pública, num primeiro olhar, pelo menos reverte a impunidade, alvo de indignação tanto quanto dos malfeitos em si.
   No entanto, a mesma inclinação e fôlego que o Supremo Tribunal Federal demonstrou para repaginar os mecanismos jurídicos, agora sob o olhar mais atento da população, terá sido em vão se os outros poderes não seguirem esse mesmo ritmo. Até porque, estão nos ambientes do Legislativo e do Executivo a gênese de todas as maquinações políticas que afrontam e deturpam a administração pública.
   Vale lembrar que esse processo nefasto engendrado pelos mensaleiros teve similares em gestões anteriores, que chegaram a derrubar presidente, e em outros momentos, simplesmente caíram no esquecimento por força do corporativismo que por vezes tinha voz ativa no círculo jurídico.
   Se o desfecho da Ação Penal 470 vai ter efeitos nebulosos nas hostes do Partido dos Trabalhadores, só a cúpula da legenda poderá apagar essa mancha na história de quem mais levantou a bandeira da moralidade pública.
   Na verdade, a engenharia dos mensaleiros e de outros grupos políticos de outrora não é exclusividade do âmbito federal. Como ocorreu em São Paulo, na esfera estadual e municipal, vindo à tona agora, outras siglas de destaque no cenário político também podem ter implicações nas administrações de outras unidades da federação, o que faz do combate à corrupção um projeto de ordem nacional, com ênfase em grandes reformas política, eleitoral e penal, sobretudo.
   Para que no rastro do processo do mensalão não fique apenas o ensaio de um novo horizonte.

    

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Filipinas em ruínas

   Quando um país como as Filipinas é assolado por uma grande tragédia não é novidade que várias nações se apressam para enviar provisões de toda ordem, com o intuito de, pelo menos, amenizar a dor de vítimas de desastres naturais de grandes proporções.
   Muito tem se discutido sobre programas de prevenção de acidentes naturais, principalmente nos países onde há uma incidência maior desses sinistros.
  Em 2004, quando a Indonésia foi varrida por um tsunami, especialistas do mundo inteiro ventilaram a possibilidade de dotar aquele país de tecnologia capaz de prever outros acidentes, evitando grandes tragédias e, consequentemente, perdas humanas.
   Com muitas dificuldades as Filipinas certamente vão reconstruir, mesmo que num tempo longo, toda a área agora destruída por mais uma catástrofe. Mesmo que a economia local permita ensaiar algum projeto para evitar outros prejuízos para a infraestrutura do país, o governo filipino precisará de aporte tecnológico vindo de outras nações para solucionar um problema que faz parte do cotidiano do país asiático, pela sua localização geográfica em área de constantes turbulências.
  Para os países que conseguiram erradicar esse problema dentro de seus domínios, como o Japão, de grande potencial econômico, fica a contribuição na forma de conhecimento adquirido em pesquisas que demandam altos recursos, precisamente bem distantes da realidade financeira das Filipinas.
   Inaugurando a Semana Internacional da Ciência e da Paz, o Secretário-Geral da ONU, Ban ki-moon alertou que grande parte do mundo está excluída de avanços científicos. Dentro dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio que a ONU promove se encaixa perfeitamente essa questão do conhecimento que o órgão pretende disseminar.
  Ao acrescentar que a comunidade internacional tem a responsabilidade de proteger toda a humanidade contra os usos destrutivos da capacidade científica, é bom lembrar que o poder científico também pode trazer tantos benefícios quanto a educação e agricultura moderna, por exemplo.
  Os efeitos de desastres naturais na infraestrutura dos países vitimados e, principalmente, em vidas humanas, já obriga a inclusão de futuros projetos de prevenção de acidentes na questão da sustentabilidade, tão propalada em encontros anteriores.
   A iminência de aumento do aquecimento global sugere uma corrida urgente de todas as nações, sob pena de essas tragédias terem conseqüências mais drásticas num futuro próximo.
   Porque as nações que sistematicamente poluem o planeta têm muita culpa nessa recente tragédia nas Filipinas, agora em ruínas.


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Por que a Perimetral?

   Já não era surpresa para ninguém que a interrupção e posterior derrubada da Perimetral fosse trazer transtornos ao trânsito da região portuária.
   Não se esperava, no entanto, que a prefeitura se abstivesse de um planejamento mais profundo, antes de demolir o Elevado, por onde passa cerca de 60 mil veículos por dia.
   As duas vias binárias dificilmente vão comportar a mesma carga de veículos com o mesmo fluxo, já que estas funcionarão com paradas frequentes, devido aos semáforos em suas extensões, o que certamente vão comprometer o tráfego local na hora do rush.
   Dentro do projeto arquitetônico e urbanístico que a prefeitura pretende implementar para a região estão incluídos empreendimentos de cunho comercial e residencial, provocando uma massa adicional de pessoas se deslocando para aquele local a todo instante, de modo que o modelo de mobilidade urbana concebido para aquela área talvez não absorva o futuro contingente esperado.
   Numa cidade como o Rio de Janeiro, imersa em problemas estruturais a serem solucionados, nenhum projeto de intervenção urbana terá alguma funcionalidade se ficar restrito apenas ao caráter estético.
   Enquanto os arautos do paisagismo e da superficialidade vêem a Perimetral como um monstrengo a manchar o cartão-postal da cidade, os mais racionais e imbuídos numa causa mais ampla e sustentável enxergam outros obstáculos para o mesmo projeto de modernização da zona portuária.
   Se a questão da mobilidade urbana é parte fundamental do projeto Porto Maravilha, há que se compensar a ausência da Perimetral, considerando a sua importância ao longo desses anos como uma das vias de ligação entre pontos de grande demanda da cidade.
   Mais do que o Elevado, agora em vias de extinção, a Rodoviária Novo Rio é o grande fator de estrangulamento, principalmente em horários de pico, e ninguém até hoje conseguiu colocar em prática um antigo projeto de remoção daquele terminal, que pode efetivamente equacionar, em patamares significativos, os frequentes engarrafamentos na região.
   As soluções de que a população precisa vão muito mais além das preocupações com o panorama e o relevo da cidade maravilhosa.

   

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A Cedae como sempre

   Como é dura a vida nessa selva de pedra! Dificilmente o cotidiano do Rio de Janeiro corre no seu curso normal, sem atropelos.
   Parece que o infortúnio na vida do carioca já faz parte até do calendário da cidade. A cada dia um evento novo, diferente.
   Não demora muito vão começar a confeccionar aquelas folhinhas de fim de ano, já com os percalços marcados em vermelho, junto com os feriados e as fases da lua para o próximo ano.
  Enchentes, alagamentos, engarrafamentos constantes, trens lotados, assaltos, tudo contribui enormemente para a efervescência do Rio de Janeiro em toda sua plenitude.
   Os dissabores pelos quais passam habitantes e forasteiros se confundem com a perspectiva de se vislumbrar novos contornos para a cidade maravilhosa, em cujas obras e projetos espalhados por todos os cantos a população espera brotar uma nova urbe.
   A arquitetura dos sonhos não é a que remexe a paisagem e o relevo. É a que funciona no dia a dia da população.
   A Cedae, que nunca foi um primor na prestação de serviços, se tornou, nesses últimos tempos, a grande vilã no Rio de Janeiro, pelos recorrentes registros de contratempos para os moradores.
   A cidade fica praticamente paralisada, toda vez que há alguma mudança, intervenção urbana ou serviço de reparo de toda ordem.
   A essa altura do campeonato, é difícil saber qual o maior absurdo nessa história toda: a falta de perspectiva quanto ao restabelecimento do fornecimento de água ou pagar R$ 4 mil por um caminhão-pipa?   

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Dilma acertou em Libra

   Tão logo encerrou o leilão de Libra, começou a enxurrada de críticas a respeito da composição dos consórcios que irão explorar as águas profundas daquele campo nos próximos 35 anos. Apesar do novo formato que o governo federal já tinha sinalizado especificamente para o campo de pré-sal, grande parte dos especialistas não se deu por satisfeito pelo desfecho de todo o processo, acrescentando que a Petrobras poderia, sim, ter tirado mais vantagens do que parece indicar esse novo modelo.
   Mesmo com toda a projeção que havia em torno do potencial petrolífero do território brasileiro, seria quase impossível que a Petrobras se tornasse totalmente independente nos trabalhos de prospecção numa área de dimensões continentais.
   Ainda que a empresa detenha tecnologia de ponta para executar com excelência todas as etapas de produção de petróleo, o montante de recursos necessário para alavancar o projeto em águas profundas não se encaixaria no orçamento da empresa, numa época em que a Petrobras ainda tinha que exportar um volume muito maior do produto para o abastecimento interno, e ainda promover uma sistemática engenharia financeira para que a gasolina, por exemplo, fosse menos dispendiosa para o consumidor.
   O próprio fracasso do Pró-Álcool, na década de 70, contribuiu para que a Petrobras gastasse um montante considerável de recursos, que poderia, já naquela época, está sendo utilizado em projetos futuros de energia alternativa, em cujas matrizes o Brasil demorou a investir, considerando a diversidade de recursos naturais disponíveis em nosso território.
  As gestões passadas, principalmente durante o Regime Militar, não conseguiram implementar esses projetos com os quais as outras nações já acenavam, pela urgência de novas formas de energia, principalmente pela preocupação com o meio-ambiente e a questão da sustentabilidade.
   Mesmo com todo o discurso ufanista do passado, ninguém foi capaz de proteger a nossa riqueza dos predadores de outrora. Qualquer projeto que dependia de capital externo não trazia os resultados que a sociedade brasileira esperava, deixando sempre a economia do Brasil em frangalhos, vulnerável, em função das dívidas que o país acumulava com essas transações cheias de dúvidas e incertezas.
   Agora, a presidenta Dilma Rousseff inaugura um novo modelo de partilha no leilão de Libra, em que a Petrobras fica mais protegida, com a fatia maior na distribuição dos lucros e o petróleo brasileiro finalmente possibilitando investimentos maciços em saúde e educação, e ainda assim uma gama de teóricos de plantão não vê o horizonte que esse novo processo pode descortinar para a população brasileira, com a iminência de geração de empregos, principalmente, tão logo o projeto de Libra comece a movimentar outros setores da economia brasileira.
   O governo federal foi muito feliz em sua decisão e a Dilma muito feliz em seu discurso. Não se esperava outra coisa da presidenta.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Os riscos de Libra

   As implicações que cercam o leilão de Libra vão muito mais além dos serviços de prospecção e produção de petróleo oferecidos pelo governo brasileiro a consórcios de capital estrangeiro.
   Não há dúvidas de que esse novo regime de partilha criado pelo governo federal pode trazer mais vantagens para a população nos contratos que serão assinados agora com as empresas que vão explorar o petróleo brasileiro nas próximas décadas, bem diferente do modelo antigo, de concessão, em que o governo recebia apenas os impostos devidos.
   As garantias de que essa nova descoberta do pré-sal vai trazer benefícios reais à sociedade brasileira vai depender unicamente da competência e transparência com que os órgãos envolvidos no repasse dos royalties irão empregar vultosos recursos, especialmente na área de saúde e educação, como ficou decidido por lei no Congresso Nacional, através de proposta da presidenta Dilma Rousseff recentemente.
   O objeto maior de preocupação fica por conta da segurança de toda a tecnologia adquirida através de pesquisa e inovação das principais ferramentas para o trabalho de perfuração já utilizada nos outros campos de grande porte.
   Se a Petrobras hoje é a empresa mais moderna do mundo no expediente em águas profundas, foi também, ao longo desses anos, muito vigiada e monitorada em momentos importantes do processo de desenvolvimento de sua tecnologia de ponta, como ficou comprovado em recentes descobertas de casos de espionagem, da qual a Petrobras foi vítima também.
   Agora, cabe ao governo federal se precaver dos perigos que rondam as áreas estratégicas, principalmente na área de petróleo, até hoje objeto de disputa de grandes nações dependentes dessa riqueza para alavancar suas economias, por meio do fortalecimento do parque industrial.
   Em cinco anos, prazo previsto para o começo da produção em Libra, é possível encontrar meios de blindar todo o projeto desenvolvido até agora, que permitiu que a Petrobras chegasse a esse patamar de uma grande empresa, assim como minimizar os impactos de eventuais acidentes ecológicos provenientes dos trabalhos que serão realizados futuramente naquela área.  

   

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Ao mestre com justiça

   A Tia Vanda era uma professora muita enérgica, autoritária, a ponto de bater fortemente com o apagador na carteira para silenciar o burburinho, o falatório, a balbúrdia que se instalava em sala de aula. Ela chegava a morder a língua com a onomatopeia de um cão raivoso como ameaça maior a tão impertinentes pirralhos que éramos.
   Sua reprimenda à frente dos colegas era como um açoite em praça pública a quem se atrevesse com desobediência.
   Para sorte de outras gerações que passaram pelo crivo da Tia Vanda, não era possível que coubesse nas vestes daquela bruxa apenas a substância dos grandes tiranos. Era inaceitável que não houvesse naquela índole maquiavélica um naco qualquer da essência de uma fada.
   E tinha. Se o conforto dos rebentos é o afago de suas amas-secas, para nós, pupilos da Tia Vanda, a ternura reservada vinha dos traços de giz, rabiscando para os mais frágeis seres de cara para a lousa envelhecida a sapiência em linhas tortas, de garranchos, no papo reto cuspindo o futuro em forma de sopa de letrinhas, soprando o conhecimento para quem estiver sentado, prestando a atenção, senão te puxo as orelhas.
   Não sei por onde anda a Tia Vanda. Talvez ela nem esteja mais envolvida com birra, teimosia, ditado, conselho de classe e reunião de pais.
   Pode ser que nem esteja mais nesse plano. Se estiver, certamente estará imaginado os engenheiros, advogados, jornalistas, garis, professores e tantos outros que ensaiaram seus projetos, construíram seus próprios sucessos e fracassos, e que sobreviveram para relembrar os sonhos, as utopias, as fantasias e os desejos que a Tia Vanda ajudou a realizar.
   Nas lembranças que eu tenho da Tia Vanda não tem as agruras do magistério, as impertinências do poder público com as outras tias de todos os recantos.
   A justiça para a Tia Vanda é o afeto dos nossos governantes para a classe mais importante desse país.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Expansão urbana e insustentável

   O Jornal Destak, distribuído nas ruas do Rio, publicou uma reportagem sobre dados do IBGE, dando conta de que o tempo médio gasto na ida ao trabalho na região metropolitana é de 47,3 minutos.
   Não é difícil chegar a esse número, mesmo com toda a diversidade de trajetos percorridos, oriundos de várias partes do Grande Rio com destino ao Centro da cidade e Zona sul, regiões que concentram a maior parte da população ativa da região metropolitana em seu local de trabalho.
   Ainda que a pesquisa focalize o inferno diário do trânsito do Rio, com ênfase nos usuários de carro e ônibus, há que se levar em conta os outros modais, trem e metrô, principalmente, que contribuem enormemente para o martírio diário da população fluminense.
   Se a prefeitura do Rio está fazendo algum esforço para melhorar a qualidade do sistema de ônibus na cidade, com promessa de aumento da oferta de coletivos à população, é pouco para equacionar o problema de transporte urbano do Rio de Janeiro.
   A própria pesquisa mostra o tempo de deslocamento na região metropolitana, que inclui as pessoas vindas da Baixada Fluminense, Niterói, Alcântara e São Gonçalo, que de uma forma ou de outra, utilizam os serviços da SuperVia, MetrôRio e Barca S/A.
   No futuro, por mais excelente que seja o sistema viário nessas regiões onde a prefeitura está investindo, com a Transcarioca e a Transoeste, ainda assim a mesma gama de pessoas continuará se deslocando para o Centro, Zona Sul e Barra da Tijuca, pela Avenida Brasil, Ponte Rio-Niterói, Linha Vermelha e Linha Amarela, além da outra parcela que desembarca também todos os dias na Central do Brasil, cujos trens trazem uma massa considerável da Baixada e Zona oeste.
   Portanto, não é difícil perceber que esse problema de mobilidade urbana ultrapassa os limites do que Eduardo Paes pode e deve fazer.
   Nesse momento em que as três esferas de governo estão irmanadas em projetos para o Rio de Janeiro, perde-se a oportunidade de implantar na região do Grande Rio um modelo que abranja efetivamente toda a população fluminense, nesse velho trajeto casa-trabalho-casa.
   Algumas intervenções que a prefeitura do Rio vem desenvolvendo para a cidade têm em sua agenda apronto para os Jogos Olímpicos de 2016, mas sem as garantias do tal legado à população, lembrando que o ex-prefeito César Maia também tinha essa premissa básica quando da preparação para o então Pan2007 e não houve nenhum resultado que configurasse algum legado para a cidade.
   Agora, especialistas sugerem outros projetos de adensamento urbano para os subúrbios do Rio, com vistas a empreendimentos imobiliários nessas localidades esquecidas pelo poder público, mas que desperta a cobiça de grandes construtoras pela especulação em áreas agora mais valorizadas.
  Na verdade, é preciso, sim, adensar essas regiões fora do eixo Centro-Zona Sul, mas com políticas de trabalho e renda também, de forma a fixar uma parte da população ativa do Grande Rio em seus locais de origem, pulverizando, assim, um grande contingente populacional que se desloca rumo ao Centro da cidade do Rio de Janeiro todos os dias.
   Seria uma forma de desafogar o trânsito do Rio e melhorar a qualidade de vida das camadas menos favorecidas, com investimentos e parcerias que atraíssem grandes empresas para essas regiões distantes do Centro.
   Mesmo que os resultados venham em longo prazo, basta vontade política das três esferas de poder.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

A vez de Marina Silva

   Pode ser que até a eleição presidencial qualquer pesquisa de opinião não consiga traduzir efetivamente o comportamento do eleitorado, tanto para rejeição como para alinhamento a um determinado candidato.
  Se a cada pleito surge um fenômeno de voto a desbancar a situação, Marina Silva difere pela forma inusitada com que se enveredou para a próxima disputa presidencial.
   Para os principais protagonistas do atual jogo político é inegável o estardalhaço que a ex-senadora já deve estar causando ao se juntar à legenda que mais pode incomodar e desconstruir um longo processo de alternância de poder, que em toda eleição que se preza há sempre um candidato emergente ou do segundo escalão querendo interromper. Uma marca da Velha República, aliás, o alvo para o qual Marina Silva disparou em sua primeira explanação como filiada ao PSB de Eduardo Campos.
   Se Marina Silva vai sofrer rejeição ou apoio pela inusitada aliança, é cedo para mensurar essa nova corrente. O mais importante é que surge em um momento crucial do cenário político uma nova força capaz de desmanchar a polarização entre o PT e o PSDB nos últimos 20 anos.
   O PT com a máquina administrativa à mão, e o PSDB pela força nacional, certamente não medirão esforços para neutralizar essa corrente política emergente quando os palanques forem armados, na tentativa de desqualificar, tanto o PSB em seus polos regionais, quanto o Rede, ainda no ventre de Marina.
   No entanto, nenhum discurso com ataques diretos à Marina Silva e Eduardo Campos não poderá ignorar os protestos desse ano pré-eleitoral. Como ficou evidente nas manifestações pelo país afora, há uma grande repulsa aos partidos políticos, o que pode beneficiar uma eventual chapa formada pelo governador de Pernambuco e a ex-senadora, considerando o histórico e a trajetória política de ambos, pelo menos até aqui, imaculados aos olhos da opinião pública.
   O único elemento que pode remexer os números da massa pró-Marina/Campos é o estigma que cada um carrega no currículo: Eduardo Campos pouco conhecido em outros colégios eleitorais; e Marina por suas posições em relação à questões controversas, cujas discussões ainda dividem o eleitorado, que por força de aspectos culturais ainda é conservador na hora de direcionar o seu voto.
   Com isso, muita gente ainda torce o nariz para o baixo clero político, toda vez que alguma figura emergente desponta na cena política propondo discussões e debates sobre temas complexos como drogas, aborto, armas, meio-ambiente, religião e outras reformas de que o Brasil precisa.
   Assim como já ocorreu com outros proponentes aos cargos públicos mais importantes do país, não há dúvidas de que Marina Silva será açoitada por grande parte da população teleguiada pela elite política, mídia, Igreja e grandes corporações com discursos bem formatados para excluir o negro, o gay, o nordestino, o evangélico, o babalorixá e outros expoentes do círculo do poder.
   Definitivamente, Marina Silva não é a personificação da pureza. Ainda bem. Pois o Brasil não precisa de gente pura, e sim, de pessoas íntegras. E isso a Marina é, até que provem o contrário. 

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Qual é o futuro da educação?

   Antes de o sinal bater, se apenas um professor esteve em sala de aula cumprindo o seu horário, nem que seja para revisar matéria passada, não terá sido de todo mal mais um dia muito pouco produtivo nesse ano letivo já comprometido pela falta de seriedade com que vem sendo tratada a questão da educação há muito tempo.
   E o tempo em que os alunos permanecem no pátio esperando a hora da saída apenas ratifica a obrigação do poder público, nesse caso, da municipalidade, de cumprir a sua função de tutor do aluno quando este adentra pelo portão da escola.
   Para os pais de alunos, apreensivos com o futuro que cerca seus rebentos fica a expectativa de que um dia amadureça essa velha relação entre o governo e os representantes da categoria, que ao longo de décadas travam batalhas que passam ao largo do bom senso e da responsabilidade de conduzir a questão educacional de acordo com a urgência que se verifica: de adequar os debates, os projetos e as metas às necessidades atuais; de resgatar uma enorme dívida como efeito dos indicadores sociais que tanto afligem pais e educadores.
   Não é saudável para os professores que o Plano de cargos e salários proposto pela prefeitura contemple os profissionais de forma paulatina, a longo prazo, sem a valorização devida a que a classe faz jus, sem a visão de investimento que a área de educação necessita.
  Assim como também não é salutar para a administração pública que o sindicato da categoria faça propostas exorbitantemente absurdas, fora da política salarial agradável para ambas as partes, mesmo não atingindo o patamar orçamentário que a lei estabelece.
   Na verdade, a questão salarial do magistério é apenas o primeiro passo para trazer novos horizontes para a educação pública, cuja excelência depende exclusivamente da satisfação dos professores à frente dos bancos escolares de formar mais e mais gerações empreendedoras através do conhecimento.
  Enquanto a política educacional for tratada de forma politiqueira, de parlamentares representantes de instituições particulares fazendo lobby para atravancar a excelência do ensino público, em vez de se atentar para a qualificação dos professores e a infraestrutura das escolas, com vistas a novas ferramentas, só para começar esse longo processo, dificilmente a sociedade vai vislumbrar resultados promissores que possam efetivamente construir um novo país.
   Qual será o futuro da educação, enquanto houver essas picuinhas, esses simulacros em torno de questão tão relevante? O governo fingindo que está buscando novos rumos para o ensino público, e o sindicato fingindo que a greve não paralisou o serviço.
   A molecada está lá no pátio da escola esperando a resposta antes de o sinal bater.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Não há bom senso no futebol

  Um grupo de jogadores das séries A e B se reuniu para reivindicar algumas mudanças no futebol brasileiro, com vistas, principalmente, à carga de jogos de um calendário para lá de extenuante para uma parte considerável dos boleiros.
  Fora do curso dos clubes de futebol, dificilmente a CBF e as Federações vão atender aos pedidos do movimento.
   Com relação à redução dos jogos, item principal da lista de reivindicações do grupo, o Campeonato Brasileiro só sofreria alguma alteração se diminuíssem o número de clubes participantes do torneio, a não ser que ressuscitassem aquela velha fórmula de disputas por grupos e chaves, em detrimento do bem-sucedido mecanismo de pontos corridos.
   Nesse caso, os clubes é que iriam se levantar para deixar quieta essa fórmula que deu certo para todos, inclusive com a anuência das federações, cujo poder depende do apoio de alguma agremiação que eventualmente fosse alijada em virtude da mudança proposta.
  Já ventilaram também a possibilidade de extinção dos Campeonatos Estaduais como alternativa de enxugamento do calendário, o que implicaria uma compensação ao prejuízo político e financeiro também das Federações.
    E para o corporativismo do futebol não ficar restrito à entidade maior, às representações nos estados e aos próprios clubes, eis que as emissoras que detêm os direitos dos certames não moveriam muita palha para flexibilizar o calendário, considerando as altas receitas que o televisionamento dos jogos proporciona, por conta de contratos já firmados com clubes e marcas.
   Em política não há bom senso, só interesses. E no meio futebolístico não é diferente essa prática de esgotamento do outro extremo frágil, como o torcedor, que à espera de grandes espetáculos, não tem nenhuma satisfação garantida, e o atleta, que apesar de ser recompensado com salários vultosos, também sofre na pele o arrocho que o mundo do futebol herdou da vã política.
   Mas, não se pode atribuir apenas à ganância de dirigentes, clubes e mídia o esgotamento físico de atletas profissionais. Com a inserção cada vez maior de novas tecnologias no preparo de jogadores, o futebol vai aos poucos renovando e modificando o universo dos principais protagonistas do espetáculo do futebol, tal qual acontece em outras modalidades esportivas.
   Com o tempo, por mais que se invista em ferramentas de ponta para excelência de jogadores, a estrutura física e biológica de atletas com mais idade não conseguirão acompanhar essa evolução que sugere resultados imediatos dentro das quatro linhas.
   Com isso, a experiência de jogadores já rodados não será suficiente para o entrosamento pleno em esportes coletivos como o futebol. Tanto que técnicos atentos a essa nova tendência já mesclam seus planteis com jogadores da base, jovens, com mais vigor físico, de forma a acompanhar e atender uma nova demanda de táticas mais eficientes para ocupação do espaço em campo.
   Com toda a consideração e respeito à trajetória de grandes jogadores que contribuíram para a história do futebol com sua arte e talento, é bem provável que renomados boleiros abreviem suas carreiras por força das circunstâncias.
   E são justamente estes que lideram esse movimento.
     
   

domingo, 22 de setembro de 2013

Brasileirão quase no fim

  Não quero acreditar que o Campeonato Brasileiro já está chegando ao fim, antes mesmo da última rodada, ou seja, com o Cruzeiro campeão antecipadamente.
  Ao longo das 16 rodadas que ainda faltam para serem disputadas, os rivais diretos do time de Minas Gerais podem perfeitamente igualar ou superar essa marca estupenda da Raposa até agora. 
  Se tem uma coisa que é instigante no Campeonato Brasileiro é a imprevisibilidade da disputa.
  Se o Cruzeiro conseguir manter essa vantagem expressiva até o final será um grande feito, mas a história do Campeonato Brasileiro mostra que isso é muito pouco provável, mesmo com a ótima campanha e a regularidade do atual líder do Brasileirão.
  Com a retomada da Copa do Brasil, as equipes que estão nessa outra disputa, Botafogo, Grêmio, Atlético-PR, Internacional e Corinthians, principalmente, vão ter de se esmerar para conciliar as duas disputas. E a vantagem do Cruzeiro vem justamente desse fator, pois o líder, por já ter sido eliminado da Copa do Brasil, vai ter mais tempo para administrar essa distância que o separa de seus concorrentes.
   Pode ser até que a Copa do Brasil passe a ser a prioridade dessas equipes nela envolvidas, primeiro que é um campeonato de nível nacional também, que garante ao seu vencedor uma vaga na Libertadores, objeto de desejo e prêmio de consolação de quem não conseguir suplantar o líder Cruzeiro.
  Mas as outras equipes que estão na iminência de rebaixamento terão automaticamente jogos decisivos até a última rodada, o que pode remexer no posicionamento da tabela, com o acirramento da disputa nos jogos restantes do Brasileirão.
   No entanto, não há garantias de que o Cruzeiro vai se beneficiar disso, porque a Raposa também enfrentará os times que estão na degola, permitindo resultados inesperados até a reta final.
   Como as equipes brasileiras já estão acostumadas com esse calendário torturante, de disputas paralelas, não será nenhuma surpresa se o Cruzeiro for alcançado antes do término do campeonato. Vai depender da capacidade de superação, do poder de reação de cada equipe.
   De qualquer forma, é muito cedo para dizer que o Cruzeiro será campeão, antecipadamente ou na última rodada.
   
  

sábado, 21 de setembro de 2013

Os mitos e as lendas do Rock in Rio

   Definitivamente o Rock in Rio não é só um palco de estrelas ascendentes ou o último ciclo daquelas que estão no limiar de seus derradeiros brilhos.
   Aquilo é uma ágora, onde a competência de discorrer sobre os sonhos, os amores, os projetos e todas as outras condições humanas não permitem que a diferença estética e ideológica das bandas, das musas e dos handsomes estabeleça a supremacia de um  sobre o outro.
  Nem mesmo a hierarquia subliminar entre Palco Mundo e Sunset é capaz de desconstruir a democracia que o evento vem renovando a cada edição.
   E o Rock in Rio é um evento tão igualitário que ninguém tem um tempo excepcionalmente maior que o outro para expor a sua mediocridade ou o seu refinamento.
   Se o Festival foi concebido com esse propósito de conexão de tribos, de ideais, não podia mesmo ser uma seara apenas de metaleiros, embora o progressismo do metal esteja sempre à frente de qualquer outro barulho vindo dos batuques, dessa nova fornada pop e de todas essas misturas de ritmos e gêneros que sempre teve espaço nas edições do Rock in Rio.
  Não é difícil enxergar os fantasmas que aparecem a todo instante no espetáculo das luzes, nas performances, nos timbres, nas batidas e nas coreografias. Desde os astros que se foram àqueles que ainda pisam neste plano, eles aparecem em cada apresentação como a sombra de seus seguidores.
   É como se o Fred Mercury, o Michael Jackson, o Kiss, os Rolling Stones, o Guns N' Roses, o U2, Bob Dylan, além de Bob Marley, Ella Fritzgerald, Chuck Berry, Louis Armstrong e outros expoentes estivessem presentes em tempo real.
  São os sofistas, que de uma forma ou de outra, persuadiram as gerações seguintes, cada um em sua vertente teatral ou circense.
  A influência musical e o alinhamento irrestrito ao estilo de outras épocas. A musicalidade, a poesia, a mensagem inserida nas letras, nos requebros, eternizadas e atualizadas em novos arranjos e batidas, sobem ao palco como herança de tudo que já foi discursado, tocado e cantado para outras grandes plateias.
   O sucesso e o brilho das próximas edições do Rock in Rio vão depender sempre dos mitos e das lendas vivas.


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A voz do Supremo

   Não surpreende que o Supremo Tribunal Federal atenda aos anseios políticos, na sopa de letrinhas em que configura o regimento da Corte.
   A diferença é que no caso do mensalão parte da elite política fica na berlinda com a iminência de perda da liberdade, cassação e mancha na biografia das figuras mais carimbadas do famoso escândalo.
   Na época em que o STF se alinhava ao Executivo, com a força dos membros que este indicava para aquela Corte, as picuinhas entre os ministros do Supremo Tribunal Federal não careciam desse alvoroço todo, dessa disputa para saber quem conhece mais o regimento da Casa, até porque não havia a pressão popular como fiel da balança, num tempo em que não se usavam máscaras, apenas mordaças.
   Considerando a independência de um órgão como o STF, não há dúvida de que, como bem frisou o decano Celso de Melo, as decisões da Corte não poderão ser assentadas por força de fatores externos, em detrimento de suas próprias diretrizes.
   Porém, os membros do Supremo não podem esquecer que, além da observância ao amplo direito de defesa, suas atribuições de fiel defensor da Constituição sugerem reparações a eventuais distorções e danos à sociedade brasileira, como foi verificado nas investigações do processo do mensalão, no que diz respeito, principalmente, à questão do desvio de dinheiro público.
   Disso, o Supremo Tribunal Federal não poderá fugir, independente dos percalços e artimanhas dos embargos infringentes e do chamamento popular.
   Porque, os meandros que a lei oferece e os atalhos nele percorridos também permitem que o Supremo Tribunal Federal engrosse o coro das ruas, sem desordenar seus dogmas e diretrizes.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

UPP na berlinda

   Em meio à indefinição na investigação do Caso Amarildo o governador Sérgio Cabral declarou que o erro de um policial não chega a manchar esse importante projeto de segurança implementado nas comunidades carentes.
   O chefe do executivo estadual seria a última autoridade a considerar o sumiço do pedreiro um fato isolado de todo esse projeto concebido para diminuir os números da violência que beiravam níveis alarmantes nas classes menos favorecidas.
  A suposta participação de traficantes da Rocinha como segunda hipótese no desaparecimento de Amarildo já revela que, pelo menos naquela comunidade, a Unidade de Polícia Pacificadora implantada ali não conseguiu extirpar do cenário local o poder paralelo que ao longo de todos esses tempos atormentou a vida dos moradores, que viram na chegada do aparelho policial àquela localidade um horizonte de paz.
  Seria desastroso para Sérgio Cabral a opinião pública acreditar que há na explanação do governador admissão de que houve participação de um integrante da corporação envolvido naquele sinistro, o que, num primeiro olhar, revela a falta de preparo no intrincado caso, cheio de incertezas quanto ao seu desfecho.
  Enquanto o Caso Amarildo não for esclarecido de fato, haverá, sim uma mancha nesse projeto de diminuição dos números da violência que assola a Rocinha e outras comunidades, onde também há registros de conflitos entre a força policial e moradores.
   Se for para o governador mandar sempre papo torto nas poucas vezes em que aparece em público, é melhor que ele fique refugiado até chegar a hora de entregar as chaves do Palácio e dos helicópteros.
   
   

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

A Petrobras aos olhos do mundo

   Não adianta mais ficar discutindo por que toda a tecnologia empregada para fazer perfurações nos campos de petróleo não foi utilizada também para proteger o segredo nos trabalhos de prospecção que a Petrobras desenvolve e aprimorou ao longo de sua história.
   Num passado não muito distante, quando o governo americano interferia explicitamente na política brasileira, mais precisamente na área econômica, outros setores, como mineração, podem ter sido espionados e o governo brasileiro não tomou nenhuma precaução no sentido de se resguardar de possíveis prejuízos. 
   Agora que os Estados Unidos aprenderam a encontrar petróleo com mais eficiência, resta saber o que o governo brasileiro vai fazer para se garantir de eventuais compensações, caso os americanos aproveitem esse conhecimento adquirido em futuros empreendimentos, nem que o governo tenha que acionar organismos internacionais para eventuais reparações, apesar da promessa do presidente americano em esclarecer esses fatos.
   Que a Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos bisbilhotava a vida brasileira, isso é fato e notório. O que não podia era acreditar que apenas os regime e sistema políticos do Brasil estavam sendo vigiados, no momento em que setores estratégicos poderiam colocar o Brasil em pé de igualdade com outras nações, que apesar de poderosas economicamente, não detinham a capacidade de produzir petróleo em escala considerável, como o Brasil já havia sinalizado em projeções anteriores.
    No caso específico de Dilma Rousseff, por toda sua história de luta no passado, é lógico que a presidenta não ficaria de fora desse expediente de espionagem engendrado pelos americanos.
   Para o povo brasileiro, é importante que a presidenta prossiga em seus esforços para diminuir a distância social que os recursos de nossas riquezas podem promover, sem que haja interferência por parte de políticas expansionistas completamente alheias ao desenvolvimento do Brasil.
   Mais do que saber o que foi descoberto a respeito da Petrobras é conhecer os propósitos da Agência americana com informações tão importantes que possam deixar o Brasil vulnerável em futuros projetos, principalmente na questão do Pré-Sal, a menina dos olhos do governo e da sociedade brasileira.
   Que a Petrobras fique exposta aos olhos do mundo por sua grandeza e importância, mas sem desmoronar a soberania brasileira.

domingo, 8 de setembro de 2013

Independência de uns, morte de outros

   Eu fiz um passeio pela Avenida Presidente Vargas neste sábado que na verdade foi uma viagem. Já vai longe o tempo em que eu morava na Rua General Pedra e a gente tinha direito de assistir ao desfile das Escola de Samba e à Parada Militar. 
  No intervalo entre o profano e o cívico, eu cresci acostumado com aquele nacionalismo exacerbado, as pipas ao vento, a gude na búlica, as damas do meretrício estragando o triângulo pelo tempo do prazer, e a minha infância revivendo Carnavais, Malandros e Heróis, que Da Matta aprofundou em seu papo reto.
  A cartilha que ficou depois muita gente já não segue, pelas incongruências que o tempo tratou de mostrar. A independência, cada um procura para si mesmo, a coletividade fica para depois. Deve ser por isso que a porrada está comendo solta por ai. Só sobrou a morte, para uns, aos poucos, ou do país, de uma vez por todas.
  Com o tempo, a própria Avenida Presidente Vargas foi mostrando o quanto o Brasil evoluiu dentro da proposta que apenas o sistema sugeria, como ficou claro no fluxo cada mais constante de carros, ônibus e o metrô que se tornou o novo usucapião da minha velha rua, que eu só vejo no imaginário, da janela do trem, ainda procurando a pipa que caiu do outro lado do muro da Central, a menina que ficava na janela, quando eu passava para buscar o pão.
  Saudosismo à parte, naquela época os jornais estampavam o espetáculo dos generais, o glamour dos canhões e a cadência do que caminhava para ser um Brasil independente da fronteira para dentro. Se hoje a manchete do dia seguinte retrata a revolta, a violência e o inconformismo, alguém errou na receita.
   Nos arredores da Avenida Presidente Vargas, Zumbi, Tiradentes, Marcílio Dias, Estácio de Sá e outros baluartes da libertação e reconstrução estão dando cambalhotas no túmulo.
   Até a Tia Ciata.
  
   
  

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

A SuperVia-Crúcis

   Em matéria de transtornos e desculpas esfarrapadas a SuperVia não é diferente das demais empresas de serviço público do Estado do Rio de Janeiro.
   Em meio ao sofrimento diário dos usuários do sistema, quase passa despercebido a declaração dos representantes da empresa de que os últimos problemas enfrentados pelos passageiros tiveram origem em atos de vandalismo, com danos à rede aérea, invasões e roubo de cabos, que segundo a empresa teriam prejudicado a circulação dos trens.
   Ora, se a SuperVia faz questão de anunciar que investiu R$ 40 milhões em um Centro de Controle Operacional de última geração, acredito eu e uma gama de frequentadores que isso por si só já seria suficiente para solucionar pequenos velhos problemas.
   Segundo reportagem do jornal O Globo, a parafernália tem sistema de comunicação integrada, plano de contingência e painel digital com informações de todo o sistema abrangendo 11 ou mais município da região  metropolitana.
   Com tudo isso a concessionária não conseguiu identificar a origem do problema ao longo dia do incidente.
   Ou a SuperVia está precisando capacitar melhor seu quadro técnico para operar seu "moderno" sistema ou a própria concessionária, na figura de seus gestores, não tem capacidade para atender tamanha demanda diariamente.
   Pelo volume de multas aplicadas pela Agência reguladora (Agetransp), só este ano, mais de R$ 280 mil e mais 66 boletins de ocorrência registrados, o poder público poderia rever essas concessões longas no setor de transportes públicos.
   Como acontece na questão dos ônibus, há prejuízos cotidianos aos passageiros dos trens urbanos que precisam ser reparados à população através de ampla investigação de mais um serviço deficiente prestado.
   Durante a Jornada Mundial da Juventude, em junho, eu, que faço o trajeto diariamente até Brás de Pina, onde moro, pelo ramal de Duque de Caxias, só presenciei carros novos rodando naquele itinerário, numa clara demonstração de boa imagem e eficiência aos visitantes que circularam por aqui durante aquele evento.
   Sexta-feira passada, dia 30 de agosto, a Banda do Cordão da Bola Preta fez uma apresentação na Central do Brasil, como parte de um projeto cultural que a SuperVia promove ao público, com distribuição de prêmios e apresentadores exaltando a preocupação da concessionária em agradar seus clientes.
   Por enquanto, essa é a única coisa que a SuperVia tem feito para confortar os usuários de tão combalido sistema.

sábado, 31 de agosto de 2013

O explícito e o oculto

  O companheiro Zuenir Ventura discorreu com muita propriedade sobre a relativização de posições ideológicas, ao apontar as ambiguidades de decisões que despertam as mais acaloradas discussões, como no caso dos médicos cubanos, que segundo o jornalista, ainda alimentam as rusgas da Guerra Fria, nesse embate sobre se é saudável ou não para o Brasil trazer esses profissionais daquele país.
   No mais recente episódio de confrontação de forças, choque de opiniões, a chegada ou fuga do senador boliviano também reacende o velho debate entre as relações com países de posturas distintas e os argumentos da atitude humanitária do diplomata, para uns, e o alinhamento à política de Evo Morales para outros.
   Agora, nesses tempos de redes sociais, em que a identidade e o anonimato se embaralham no campo virtual, as discrepâncias entre o que pode ser explícito ou não se estendem para o mundo real, já imerso em contradições de parte à parte.
   Esta semana, dois eventos marcados por farpas trouxeram à tona o cipoal de ideias e explanações, onde a conveniência das práticas humanas alternam posições de destaque.
   Tanto na onda de protesto no Rio quanto no processo de não-cassação do ainda deputado Natan Donadon, em Brasília, o conceito do que é explícito e oculto alternam também a prevalência de um sobre o outro. 
   Para quem está em maus lençóis com a opinião pública por conta da pressão da população, não é interessante, nem  para o agente público nem para as instituições o anonimato de quem eventualmente atente contra seus dogmas e a velha ordem política. Tanto que a Alerj já prepara para aprovar um projeto de lei dos deputados Paulo Melo e Domingos Brazão, proibindo o uso das máscaras pelos manifestantes.
   Não deixa de ser coerente, dentro de uma nova proposta de construção, em meio à horda que faz o caminho inverso, que todos mostrem a cara, do alicerce ao produto final. O que não é conveniente é a inversão da ótica, da perspectiva, quando interesses unilaterais sugerem a instância do silêncio e do anonimato como mecanismo de defesa.
   Tão bizarro quanto a blindagem do deputado-presidiário é sonegar à sociedade a identificação de quem tomou a infeliz decisão, assim como ficou também camuflada a identidade dos tentaram evitar tal absurdo. 
   Apesar da promessa do presidente da Câmara dos Deputados Henrique Eduardo Alves de só colocar em votação pedido de cassação com voto aberto, não há consenso na Casa  para formular a mudança.
   Nesse sentido, qualquer projeto de reconstrução de uma nova ordem fica comprometido pelas contradições que ainda persistem nesses novos tempos. E um novo horizonte só será possível quando essas máscaras caírem.
   

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O Caso Donadon

   No momento em que a sociedade brasileira espera uma resposta  a seus anseios, através das principais instituições políticas do país, eis que o Legislativo federal dá mais uma mostra de sua inércia e descompasso com a atual realidade brasileira, de manifestações populares pelo fim de velhos vícios e hesitações da classe política em todas as esferas do poder.
   Quanto mais a Câmara dos Deputados, em Brasília, dá de ombros ao chamamento popular pela ética e responsabilidade, mais ela mostra à população seu total desapego a sua prerrogativa básica de representante do povo brasileiro.
   Daqui para frente, qualquer decisão daquela Casa e de qualquer outro segmento político que distorça essa nova tendência de renovação da coisa pública trará consigo o ônus pela falta de sintonia com as reivindicações atuais.
   Esse episódio do Deputado Federal Natan Donadon pode não ser a última das aberrações, enquanto o Congresso Nacional e o Poder Judiciário não falarem a mesma língua nas questões que configurem um novo conceito de práticas políticas no Brasil.
  Apesar das dúvidas quanto a um desfecho satisfatório para a opinião pública, como é possível acompanhar no processo do mensalão, em que se usam todos os recursos que a legislação brasileira oferece para reverter penas e diminuir punições, há um instante de lucidez, quando a condenação de parlamentares nefastos sugere a cassação dos mandatos, embora a decisão fique para os próprios pares do réu.
   Agora, depois de todo o constrangimento vivido pelos deputados naquela votação fatídica a Câmara dos Deputados pinta mais uma mancha em sua história, que nem a decisão do presidente da Casa Henrique Eduardo Alves de suspender os vencimentos e os expedientes de Donadon é capaz de remover.
  A iniciativa do líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio, de recorrer ao Supremo Tribunal Federal para suspender a sessão, sugerindo que a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara envie à Mesa Diretora para que seja homologada a cassação, sem a necessidade de votação no plenário é o mínimo que se pode fazer para apagar mais um triste capítulo da trajetória do Poder Legislativo. 
   De qualquer forma, a Câmara dos Deputados perdeu a oportunidade de se alinhar aos protestos recentes, que num primeiro momento exigiram o fim do voto secreto nos trabalhos da instituição, que o presidente Henrique Alves agora se apressa em sacramentar, o que poderia evitar futuros dissabores para os congressistas, ainda mais agora que o STF vai minando as chances dos mensaleiros.