terça-feira, 9 de abril de 2013

Ela não vai deixar saudade

     Dificilmente Margaret Thatcher virará um mito. Apenas vai figurar para sempre na galeria dos grandes líderes, mais por ter governado por um longo tempo uma grande nação, do que por ter sido uma grande mulher. Sua política de enxugamento do Estado, seguida automaticamente por vários países, não deixa de ser uma marca da Dama de Ferro, considerando as transformações no mapa geopolítico do mundo, depois que todo mundo se convenceu de que era preciso dividir com a iniciativa privada o ônus do desenvolvimento do planeta e de seus habitantes.
     A grande crise que afeta as principais nações do mundo é o primeiro indício de que ninguém soube aproveitar a oportunidade de se investir nas áreas mais importantes com o lastro de recursos que os países mais ricos passaram a ostentar depois que deixaram de oferecer os outros serviços que o capital privado poderia disponibilizar com  mais qualidade. 
     No entanto, nem uma coisa, nem outra. O Estado continua com a responsabilidade de investir nos setores em que os grandes grupos econômicos agem, seguindo os princípios do capitalismo em toda sua plenitude. Aqui no Brasil, a política de privatizações implementada na década de noventa não trouxe os resultados que se esperavam, pelas promessas que a propaganda desse novo modelo fazia para a população, indicando os benefícios de uma nova era, e o governo federal continua com a tarefa de gastar um montante considerável de recursos nas áreas de infraestrutura, transportes e telecomunicações, principalmente, o que indica que o Estado não se enxugou como sugeria os arautos do neoliberalismo.
     Para piorar a situação, o poder público não transforma esses investimentos em benesses para a sociedade, porque quando o governo resolve comprar trens novos lá fora para melhorar a qualidade da malha ferroviária e do metrô, deixa-se de fortalecer o nosso parque industrial e a criação de emprego e renda, se essas composições fossem fabricadas aqui.
     E isso é apenas um item da lista de distorções que esse sistema produziu ao longo de décadas. Se em outros países não houve esse contratempo uma aberração qualquer surgiu como revés para a população local, pertinente à conjuntura política e econômica de cada nação.
     Se hoje as grandes nações se esmeram para bolar um plano infalível para salvá-los dessa instabilidade global é porque deixaram de seguir as diretrizes do que poderia ser altamente vantajoso para todos, incluindo a participação efetiva dos países em desenvolvimento, principalmente aqueles que foram colonizados por esses que agora estão quase à bancarrota.
     De qualquer forma, Margaret Thatcher não pode levar, sozinha, para seu túmulo a fama de ter deixado esse grande legado para o mundo. Seguramente outras cabeças pensantes já tinha lido a cartilha que pregava um novo conceito de economia mundial, desde John Locke e Adam Smith. A dama inglesa apenas teve a coragem de difundir com mão de ferro um modelo que tinha tudo para dar errado.
     Eu não vou sentir saudade.
     

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