domingo, 7 de abril de 2013

Tempos de fúria

     Semana passada, três eventos de violência mexeram com a cabeça da população e ganhou tanto espaço na mídia que quase passou despercebido outras questões do cotidiano urbano, como o aumento da tarifa do metrô, e até as conquistas das empregadas domésticas que dificilmente foram comentadas nos bares e nas esquinas.
     Mesmo acostumada com o destempero que ora ressurge nas veias, nas têmporas, da incontinência da ira, da intolerância e do desamor, a cidade nunca deixará de se horrorizar com a efervescência dessa urbe que se renova sangrenta e selvagem cada vez que ensaiamos humanizar as grandes mazelas que já fazem parte do calendário do Rio, de janeiro à janeiro.
     Será que um dia haverá sossego em algum recanto dessa cidade que respira maravilhosa, ainda que tenhamos que nos espremer na via-crusis da rotina entre o lar, o trabalho e o inferno?
    Essa é uma violência sazonal, já que em outros tempos acontecem outras barbáries, despistando de tempo em tempo qualquer tentativa de se erradicá-la, permitindo que se perpetue junto com outras pragas, o inferno das drogas, aumentando assustadoramente o preço de se viver numa cidade quase sem futuro, com projeto apenas de maquiagem, cuja superficialidade ajuda a mascarar o muito que precisa ser feito, enquanto banaliza-se essas aberrações. 
     Fica parecendo para os habitantes e forasteiros que a preocupação maior do cotidiano da cidade é a perspectiva de confronto com um facínora qualquer disfarçado de gente de bem, correndo atrás do prejuízo.
     Todos os modelos de violência urbana aumentam os dados de estatística, independente da modalidade praticada, o assalto, o estupro, o crime passional, tráfico de drogas, violência doméstica e no trânsito, cujos números os especialistas se debruçam para traçar planos pouco eficazes.
     Mas há algo diferente quando o destempero em questão ocorre por motivo fútil, sem a premeditação dos crimes bárbaros, sem luta de classes sociais aparente, sem a impunidade como pano de fundo. É lógico que um estupro numa van é motivo de preocupação geral, não só por arranhar a imagem da cidade lá fora ou aqui dentro. E a morte do menino em Barra do Piraí, por vingança, seria considerado crime hediondo em qualquer outra praça, mas isso é outro assunto que envolve uma grande reforma no Código Penal, que aliás, já deveria ter sido executada há muito tempo.
     A verdade é que os números da violência urbana andam no mesmo ritmo da expansão das grandes cidades, e os dados mostram que há uma política muito pouco eficaz na questão da segurança pública, que nesses últimos tempos tem sido focada na implantação das UPPs, como se a origem das transgressões da ordem e da paz pública nascessem nas comunidades carentes.
     No caso específico do evento ocorrido com o ônibus que caiu do viaduto há uma violência diferenciada, de ordem institucional, claro, mas com uma amplitude muito maior, bem além da área de atuação das autoridades de segurança.
      Há quem diga, principalmente os estudiosos do comportamento humano, que o sujeito violento, tanto o motorista que batia na mulher ainda grávida, segundo relatos de sua ex-companheira, quanto o agressor acusado, que já teve passagens pela polícia, por supostos casos de agressão, já nasce com predisposição de ser assim intempestivo, mas é certo que a rotina conturbada dos grandes centros urbanos contribui enormemente para aflorar esse comportamento de pavio curto das pessoas.
     É o sistema de transporte público deficiente; é o profissional explorado e mal preparado para exercer sua função, como o motorista do acidente que fazia as vezes de cobrador também; é a falta de oportunidades e desigualdade que geram esse salve-se-quem-puder; o individualismo exacerbado; a falta de solidariedade o que acaba resvalando na questão dos valores humanos. Pode ver que ninguém foi capaz apartar a briga, pois tá todo mundo concentrado em sua luta diária, no seu destino, às vezes incerto, pelas incongruências  de se viver coletivamente.
    
     
     
     

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