domingo, 30 de junho de 2013

A evolução de Felipão

   Vou render, sim, homenagens ao Felipão, porque essa honraria é muito importante num momento como esse de triunfo. Não se pode negar que ele trabalhou arduamente para que a seleção chegasse ao ponto em que chegou.
    A postura do técnico ao longo da competição não é algo que precise ser lembrado apenas no dia da conquista. É preciso reconhecer que houve realmente uma evolução da seleção brasileira sob o seu comando, principalmente nessa partida contra a Espanha, em que a equipe brasileira simplesmente atingiu o mesmo nível do adversário e aproveitou para jogar um pouquinho mais.
   Depois do jogo ele frisou justamente esse aspecto, lembrando que o time jogou em conjunto, o que acaba com aquela preocupação que muitos tinham de que a seleção jogaria em função de um salvador da pátria. Sem tirar, é claro o mérito de Fred, pelo seu faro de gol já reconhecido, e de Neymar, cuja categoria ninguém duvidava que ele tivesse.
   Pela experiência de Luiz Felipe Scolari, só seria difícil para os críticos como eu, que identificava nas partidas anteriores vestígios de timidez na evolução tática da seleção, enquanto as outras seleções atingiam níveis de excelência fora do comum, como a própria Espanha e as outras equipes que disputaram a Copa das Confederações.
   Só o fato de ter jogado com parte do elenco com pouca bagagem já dá à Felipão o rótulo de treinador competente, no momento em que a seleção teve de enfrentar equipes de peso para mostrar o seu valor com a competição em andamento, em que qualquer passo em falso poderia ser fatal.
   Para o bem do futebol, Felipão conseguiu dar uma nova cara à seleção brasileira, embora ainda falte alguns ajustes que podem ser feitos até a Copa do Mundo.
   A seleção brasileira não poderia ficar por mais tempo assim tão desacreditada no cenário mundial. Nada como uma conquista dessa magnitude para recolocar o Brasil no seleto grupo dos melhores do mundo.
   Nesses tempos de protestos pelo Brasil, eu acho até que Felipão entendeu direitinho o recado.
   
    
   
    

sábado, 29 de junho de 2013

Viva o povo brasileiro!

    Longe de mim reproduzir o estilo estupendo das construções gramaticais e sintáticas de João Ubaldo Ribeiro em sua nobre e irretocável arte de retratar as mazelas do brasileiro. Só que para quem se acostumou a sentir de perto a aflição que reside na base da pirâmide, fica fácil descrevê-la, mesmo que em linhas tortas.
    Uma das coisas mais exaltadas pelos estudiosos, escritores, novelistas, corneteiros e congêneres é a capacidade da população brasileira de resistir às intempéries do cotidiano, enquanto os mentirosos insistiam na tese de que as coisas haveriam de melhorar.
   Mesmo com o lombo ardido de tantas bordoadas, lá estava o povo se refrescando na laje, o pagode comendo solto, o churrasco no ponto, a cerveja gelada, o rolé pelo shopping, e o resto, empurrando com a barriga.
    O futebol quando funcionava como válvula de escape imperou por muito tempo como ícone de congraçamento social. A cada troféu levantado, o triunfo coletivo e as esperanças renovadas.
   Hoje, eis que o espetáculo da bola na rede já não remonta o clímax das massas, o gozo frenético que tanto extasiou as multidões, enquanto o homem da lei se blindava com suas jogadas de efeito.
   Pela capacidade que o povo brasileiro começa a ter de separar o joio do trigo, o espetáculo do futebol vai também perdendo esse poder de minimizar o desconforto dos indivíduos; vai aos poucos desconstruindo a velha cortina de fumaça entre o oculto e o explícito; vai lentamente neutralizando os efeitos da anestesia geral.
   Se antes já se exaltava em prosa, crônica e verso as agruras do homem brasileiro, hoje se festeja a mudança de rumo que ele mesmo promoveu para si, através da literatura dos novos tempos, o mundo virtual, um novo instrumento capaz de expor as mesmas feridas, antes fadadas a não cicatrizar jamais.
   Em três semanas ou mais de manifestações pelo Brasil ficou evidente o surgimento de um novo homem racional; o que está dentro e fora das quatro linhas; aquele que se diverte e corre atrás do prejuízo. 
   A liberdade que lhe permite fazer escolhas se mostra mais forte, no momento em que ele parecia inebriado pelo ópio, pelo ufanismo, pelo jogo de cores e palavras. Dentro do estádio, a torcida brasileira não hesita em torcer pelo mais fraco diante do monstro que pode nos ferrar na lá na frente, na final.
   Se o torcedor-eleitor transportar essa tendência para as urnas, aquele sujeito com apenas 1% de intenções de voto pode ser mais instigante pelas suas propostas que o rei da cocada preta. Basta ele ter essa percepção durante o processo eleitoral. A dignidade passa a contar ponto nesse processamento de ideias. 
   É por isso que fizeram reverências ao Taiti e execraram a Espanha, a única que pode desmoronar a nossa soberania futebolística, pelo menos nessa Copa das Confederações.
   Daqui para frente, essa será a tônica de um novo tempo.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Resolvendo a mobilidade urbana

   Ampliando o debate acerca do desenvolvimento das grandes cidades, há muito já saturadas pelo êxodo rural, eu escrevi que as prefeituras têm dificuldades para implementar altos projetos, principalmente de mobilidade urbana, pela centralização de investimentos em áreas já saturadas pelo contingente populacional no seu deslocamento diário.
   É claro que importantes projetos como o Porto Maravilha e a revitalização do centro da cidade trará benefícios para o Rio de Janeiro, mas se a prefeitura não implantar um modelo de transporte público integrando os três modais, ônibus, trens e metrô, adequado à demanda crescente que se fará presente  nos traçados à aquela região, não demorará muito para que tudo esteja saturado novamente.
   Além do mais, não é de hoje que a cidade do Rio de Janeiro comporta um contigente considerável de pessoas vindo da região metropolitana, diga-se Niteroi, São Gonçalo e Baixada Fluminense. Por falta de oporunidades e baixo potencial de trabalho e renda, a população dessas localidades acabam contribuindo com o gargalo da malha viária e ferroviária, o que pode fazer com que o mais moderno modelo de mobilidade urbana entre em colapso em curtíssimo tempo.
  Aproveitando que o prefeito, o governador e a presidente enchem a boca para comemorar a saudável parceria entre as três esferas de governo, o momento é propício para traçar planos e estudos de um amplo empreendimento voltado para essas regiões vizinhas à cidade do Rio, de modo que se fixe em seus locais de origem uma parcela suficiente para desafogar o trânsito do Rio de Janeiro, e ao mesmo tempo melhorar a qualidade de vida de toda a população nos serviços de transporte urbano.
  A questão da mobilidade urbana vai muito mais além de lampejos de prefeitos maquiadores, e só trará resultados positivos quando estiver inserido no programa de sustentabilidade de todo o estado do Rio de Janeiro.
 

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Melhorando a saúde pública

  A questão da saúde pública, oportunamente reivindicada nos protestos pelo Brasil, não se limita a equacionar essa grande mazela nos três âmbitos em que ela é deficiente. Além do reaparelhamento de hospitais, contratação de médicos cubanos e ampliação dos cursos de medicina, é preciso considerar alguns aspectos que devem ser levados em conta à medida em que se for ampliando esse debate em torno do assunto.
    Assim como na área da educação, segurança e transporte, o inchaço das grandes cidades compromete e dificulta a implementação de políticas públicas, pela falta de projeção do poder público com relação ao contingente populacional, cujos índices a municipalidade contribui, não só quando prioriza uma região da cidade em detrimento de outra, por conveniência; ou quando permite, principalmente em gestões anteriores, a ocupação indevida do solo urbano sem nenhum controle, em processos já recorrentes de proliferação de comunidades carentes.
   Se formos ampliar a discussão num plano ainda maior, com vistas ao futuro dos grandes centros urbanos, nunca é demais lembrar que em 2011 representantes do mundo inteiro se reuniram aqui no Rio para discutir a questão da sustentabilidade sob o ponto de vista do meio-ambiente. Não me parece que esse elemento importante esteja inserido nos projetos educacionais, de segurança pública e mobilidade urbana. 
   E no campo da saúde pública também não é diferente, considerando que relevantes projetos ainda se arrastam, no momento em que poderiam fortalecer o desenvolvimento das cidades e, assim, trazer o bem-estar para a população.
  Tenho tocado sistematicamente no projeto de despoluição da Baía de Guanabara e da Lagoa de Jacarepaguá, entendendo que todo e qualquer esforço para reverter os indicadores da saúde pública no Rio de Janeiro não poderão desconsiderar estes dois importantes projetos que no planejamento de infraestrutura urbana ainda inclui tratamento de água e esgoto no estado do Rio de Janeiro.
   São linhas de ações distintas que só poderão ser fundamentadas com a integração das três esferas de governo, em que, ainda que respeitando as especificidades de cada região poderiam servir de modelo no plano nacional.
    
      

sábado, 22 de junho de 2013

#Eu fui

    O caráter apartidário das manifestações espalhadas pelo Brasil foi o ponto alto dessas mobilizações, o grande diferencial dos protestos, com total e absoluto desprezo pelos partidos políticos e outras entidades que acenaram com o oportunismo de sempre, tentando tirar proveito de um momento histórico que foi esse chamamento através das redes sociais.
   Esse descrédito dos partidos políticos junto à opinião pública é fruto da incompatibilidade entre o discurso e a prática, desde a sua fundação até o dia em que ganhou a vez de governar o país ou de tomar partido decisões importantes, quando metidos em coligações espúrias.
    Na época em que havia a necessidade de mudança de regime político, para extirpar do cenário político a linha repressora e autoritária que cerceava a liberdade coletiva e individual, a maioria dos partidos nasceram e clamaram juntas pela redemocratização do Brasil.
   Talvez esse tenha sido o único momento em que a representatividade dos partidos políticos se fez em sua plenitude. De lá para cá, cada um deles fincou a sua própria bandeira, e os que mais ganharam aceitação popular foram os que propuseram soluções para as principais necessidades do país, principalmente o fortalecimento da economia brasileira e a defesa de grandes questões sociais, como saúde e educação, que outros regimes não conseguiram implementar com exatidão.
   O Partido dos Trabalhadores, na sua luta incansável pelas maiores causas sociais, apesar de todo o esforço, na época das portas das fábricas, nos palanques e agora no poder, até ensaiou com importantes ações de cunho social, mas não remexeu satisfatoriamente nos indicadores sociais.
    Se uma geração sem um horizonte promissor já havia herdado a angústia e a decepção de seus pais, tios e avós, não foi difícil esmorecer de vez diante de tanta inoperância dos serviços essenciais à população.
    Ao longo de tantas eleições, uma confusão de partidos de diferentes matizes se coligavam sem nenhum critério ideológico, visando apenas interesses que passavam ao largo do aspecto coletivo, o que pode ter gerado o primeiro indício de descrença das principais agremiações políticas nas disputas pelo poder.
  A fidelidade partidária, aos olhos desse novo eleitorado, deixou de ser um atributo a mais para a composição de grupos políticos, no momento em que decisões importantes são resolvidas nos bastidores, na surdina, sem os princípios que asseguram o compromisso com a coisa pública.
    Para um universo de pessoas mal ou sem representação alguma, urge uma reflexão profunda por parte dessas instituições políticas.
    Agora, tudo bem que não dá para pensar em reforma política sem a participação efetiva dessas legendas, mas é importante que elas sigam suas próprias diretrizes e dogmas, mesmo que haja convergência entre legendas de linhas ideológicas distintas. O eleitor convicto se baseia nessa identidade para formalizar sua adesão e o seu voto.
    A sociedade brasileira mostrou a sua cara e saiu às ruas para dar um novo rumo ao Brasil. Os partidos políticos precisam fazer a mesma coisa.
   

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Curtindo e compartilhando nas ruas

    Uma semana que mudou décadas de incertezas que chegaram ao limite máximo. O discurso fácil, que ao longo desses tempos soavam dos gabinetes e palanques já não funcionam como retórica dominante. A voz da vez é a que sai dos guetos, dos becos, das praças, das avenidas, dos confins. O silêncio que consentia o continuísmo desenfreado, o atraso e a fragmentação da esperança brasileira deu lugar ao grito de uma só voz clamando por justiça social.
    Muita pouca coisa se repete dos outros tempos em que havia mobilização nas ruas reivindicando mudanças no cenário político do Brasil. Talvez apenas a truculência de uma minoria para reverter um quadro caótico e das forças de segurança na tentativa de rechaçar essas ações violentas. Tudo resquícios dos anos de chumbo que implantou o medo como forma de perpetuar esse status quo.
      Hoje, grande parte desse universo que se entrelaça nas redes sociais conseguiu reverter um quadro  de alienação que preocupava as gerações anteriores, pela perspectiva que havia em torno dos próximos atores do futuro do Brasil.
      Nessa conexão em rede inaugurou-se uma nova tribo, uma nova classe. Um processo que mesclou os excluídos, os favorecidos e os acomodados, criando um novo pertencimento de grupo. A antropologia moderna já está se desdobrando para investigar esse compartilhamento de ideias, de urgências e necessidades.
     E esse cenário que se descortinou no mundo virtual apenas reproduziu a realidade brasileira. Nesse sentido, foi importante curtir e compartilhar os anseios e aspirações, dando a ideia de um país único, comum a todos, sem o separatismo que regula o regime de oportunidades para uns e outros.  Só assim foi possível ter a noção exata do abismo em que se encontram os despossuídos e afortunados, como expoentes de uma mesma nação inviável para todos. Só assim foi possível ter a noção de que o país não se desenvolve porque os grandes projetos não atingem todos os segmentos.
     No caso específico do sistema de transportes coletivos, sua precariedade e ineficiência afetam gente de diferentes classes sociais cotidianamente, numa agonia diária que se confunde com o descompasso de ônibus, trens e metrôs nos principais centros urbanos do Brasil.
     Como primeiro ensaio nas pautas de reivindicações, já valeu pelo recuo no preço das passagens em algumas cidades.
   
     
    

domingo, 16 de junho de 2013

As dúvidas de Felipão

     Já se imaginava que a seleção brasileira não teria nenhuma dificuldade para vencer o Japão nesse primeiro jogo. Embora tenha evoluído bastante, o país do sol nascente ainda vai demorar para chegar ao nível de uma grande seleção. E pelo pouco perigo que a equipe asiática representou para o Brasil, esse jogo ainda não pode ser considerado um grande teste de fogo para Luiz Felipe Scolari.
     Mesmo com uma competição tão curta como a Copa das Confederações, há equipes com um padrão de jogo mais definido, como a Espanha, a Itália e o México. Coisa que o Felipão ainda não conseguiu acertar. Mas se o técnico brasileiro ainda tem um ano para chegar a alguma conclusão até a Copa de 2014, qualquer revés agora só terá implicações em seu futuro à frente da seleção se ele não definir o time até o final  do torneio.
     Pelas mudanças que Scolari promove ao longo do jogo, ainda é visível o seu excesso de cautela na parte defensiva da equipe. Enquanto nas outras seleções os armadores e atacantes têm também o poder de marcação, o técnico do Brasil ainda tenta brotar dos pés dos volantes a arte que poucos têm de criação.
    Os próximos adversários da seleção, México e Itália, independente dos resultados nesses dois jogos podem fazer Luiz Felipe Scolari rever seus conceitos, pela desenvoltura de uma forte equipe enfrentando a seleção brasileira; ou sacramentando de vez a sua teimosia, considerando que pode ser pior ano que vem.
     De qualquer forma, um resultado negativo agora não chega a ser uma grande tragédia, pelo menos para os jogadores, principalmente aqueles de quem se espera um grande feito, como Neymar, por exemplo, que não pode jamais evoluir pela seleção como se fosse o salvador da pátria. Primeiro porque esse conceito já caiu por terra há muito tempo no futebol mundial, e segundo porque Neymar é um craque emergente no cenário internacional, com pouca ou nenhuma experiência em disputas de peso.
     Não que eu não ache que Neymar possa decidir uma partida. Eu só acho que o garoto agora do Barcelona não pode carregar todo esse peso sozinho, até porque seus companheiros, seja no setor defensivo ou ofensivo, também não têm grandes bagagens no cenário internacional. E em todas as edições de Copa do Mundo em que o Brasil saiu vitorioso, os jogadores brasileiros que se destacaram, decidindo a parada, ou já tinham certas milhas de rodagem, ou atuaram ao lado de outros expoentes.
     Para quem gosta de fazer comparações, basta lembrar que Romário e Ronaldo Fenômeno se destacaram em 94 e 2002, respectivamente, depois de longas temporadas em outras praças, além de disputarem uma Copa do Mundo ao lado de outros jogadores tarimbados. 
     Na última edição, em 2010, o Dunga delegou a tarefa de trazer o caneco ao Kaká e ao Robinho, deixando de fora, por pura birra, o mais experiente naquela ocasião: Ronaldinho Gaúcho, o mesmo que agora poderia contribuir com a seleção, tirando o peso das costas de Neymar, e municiando o ataque com  seu companheiro no Atlético Mineiro, Jô, que entrou muito bem na partida de estreia e está em melhores condições físicas que Fred, visivelmente abaixo de seu nível técnico.
     Eu ainda acho que o Ronaldinho Gaúcho pode aumentar o poder de fogo da seleção, auxiliando em campo os meninos que chegaram agora.
      O futebol de hoje já não permite mais essas dúvidas na cabeça de técnico. Ainda mais o Felipão que já rodou bastante.
     
    

Copa das manifestações

    Já tem muita gente tentando desqualificar essas manifestações contra o aumento da passagem dos ônibus, argumentando que ela não representa os anseios da população, que seria apenas implicância de pequenos grupos e partidos políticos querendo desestabilizar a ordem pública.
     Tirando o quebra-quebra que culmina em danos ao patrimônio público, essas mobilizações refletem, sim, a insatisfação de grande parte da população que sofre todos os dias com a ineficiência dos transportes públicos nas grandes cidades, principalmente os ônibus, cuja tarifa sofreu majoração, sem perspectiva de melhoria na qualidade dos serviços oferecidos à população das cidades onde ocorrem estes distúrbios.
    Se vinte centavos não pesam no bolso da galera, o barulho fica por conta da precariedade do sistema de transporte coletivo dos grandes centros urbanos. Em tempos de eventos esportivos que o Brasil sediará os absurdos, as suspeitas de superfaturamento em obras dispendiosas acabam servindo de combustível para a indignação geral, e a chiadeira com relação aos ônibus torna-se plausível pela questão da mobilidade urbana como elemento principal das reformas de preparação para os jogos.
     Ao mesmo tempo em que compromete a viabilidade dos eventos, deixa em dúvida o tão propalado legado que tanto prefeitos maquiadores, governadores omissos e a presidenta - aliás, muito vaiada no discurso de abertura do jogo em Brasília - enchem a boca para garanti-lo para o futuro. Muita gente que vem de fora assistir aos jogos não tem a noção do sacrifício imposto à população brasileira para a realização desses eventos. 
     Para o presidente da FIFA, Joseph Blatter, que percorreu todo o país, acompanhando as obras de perto, não é difícil compreender a inquietação do povo. Em vez de indagar sobre o respeito do público no Estádio Mané Garrincha com a presidente, quando vaiada, ele deveria guardar seu pito aos torcedores do velho continente que hostilizam jogadores forasteiros com conotação racista. 
     Independente do desempenho do scrath de Felipão dentro das quatro linhas, a verdade é que há um clima de insatisfação com a maneira com que a coisa pública vem sendo manejada sem nenhuma contrapartida positiva. E a reboque de toda essa indignação popular podem surgir outros focos de tensão, de movimento de outra natureza. O próprio governador Minas Gerais, Antonio Anastasia, conseguiu na justiça uma liminar proibindo o Sindicato dos Trabalhadores da Educação e da Polícia Civil de promoverem manifestações durante a Copa das Confederações.
     Se o poder público não conseguir garantir à sociedade que a vida social dos brasileiros não será posta ao avesso toda vez que o nome do Brasil fica em evidência fora de nossas fronteiras, não será surpresa se esse quadro caótico se refletir nas próximas eleições que ocorrerão logo após a Copa do Mundo, ano que vem.
    E não adianta essas campanhas institucionais pela TV, reeditando aquele velho ufanismo de tempos atrás, porque se o futebol ainda é o ópio do povo, uma parcela significativa já não se entorpece facilmente. E o que pode parecer apenas arruaça de pequenos grupos isolados, periga se avolumar e resvalar em outras questões também relevantes.
   É a bola rolando e a roda da história girando, monsieur.

 

-

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Maioridade penal: Devagar com o andor

     Não é de hoje que o estado de direito regula o comportamento humano na forma de penalização a eventuais desvios de conduta de indivíduos desagregadores da vida em sociedade.
     Ao longo de toda a história do mundo moderno, desde as primeiras civilizações, legisladores se debruçam para adequar as regras de convivência coletiva a uma nova realidade que vai se desenhando.
    Aqui no Brasil, a própria constituição sofreu várias modificações, rasgando uma e redigindo outra, com o objetivo de acompanhar as mudanças que automaticamente vinham à tona pela fluência com que grupos sociais distintos, ou falando a mesma língua, decidiam o destino de todos.
   Não cabe aqui o mérito dos interesses que cercam as alterações das regras do jogo, até porque, tanto a Carta Magna, o Código Civil, o Código Penal e outros regimentos vigentes em outros âmbitos até hoje deixam lacunas por força de incompatibilidades entre o individual e o coletivo, entre o particular e o geral, entre o público e o privado, enfim.
    Não muito distante, a Lei do Divórcio se arrastou por questões culturais, contra a vontade de forças conservadoras e da Igreja, sempre irredutíveis quanto a um novo modo de vida em sociedade.
    Envolvidos no mesmo novelo de batalha social, a questão das células-tronco, desarmamento, descriminalização das drogas, união homoafetiva, e agora, o que parece ser o mais complexo de todos: a questão da maioridade penal.
    De todos os ordenamentos disciplinares em vigor na legislação brasileira, as letras do Estatuto da Criança e do Adolescente, que abrandam as punições para jovens infratores ou delinquentes são as que mais destoam da atual realidade brasileira, tanto pela ausência de qualquer resultado satisfatório, quanto pela parca perspectiva de discussão e resolução de tão complexo assunto, apesar de tímidos ensaios de debates, apenas deitando falação.
     Antes que isto vire prerrogativa para sair por aí trancafiando jovens desfortunados, sem a implementação de um amplo projeto de resgate de uma dívida antiga e em processo crescente, melhor que não se discuta sob a luz do ódio, toda vez um jovem roubar, estuprar ou assasssinar os próprios pais, como tem acontecido.
     Especialistas críticos e defesortes da causa já deram mostras do cipoal que é essa questão, que é verdade, habita em outras searas, além da esfera jurídica.
     Hoje, o jovem brasileiro, socializado ou não, emergente ou vagabundo, bem sucedido ou moribundo, já está inserido no universo socioeconômico do contingente maior de idade, com o mesmo horizonte que impulsiona gerações ao ostracismo, ao submundo e à servidão humana. Ele é arrimo de família, dirige automóvel, constitui famíla, gera filhos, vota, consome bebida alcoólica, mesmo sem o discernimento suficiente para desempenhar o seu papel social.
    Para um universo de desassistidos, o abismo e a incerteza, do nascimento à adolescência. No caminho entre dois pontos equidistantes, não só a fome, a miséria e a exclusão social, mas também a falta de uma política pública capaz de construir uma sociedade moderna, sem as transgressões do dia-a-dia e luta de classes que a mídia tanto promove; sem a banalização do individualismo em detrimento do coletivismo; sem o estigma de uma sociedade anômica, de impunidade; sem os rigores de uma lei ainda que arcaica.
    Antes que se altere a faixa etária de quem deve sentir o peso da lei, é bom que se discuta os efeitos que a leniência do agente público e a nulidade dos velhos códigos acabaram gerando. Nas escola não se difunde educação sexual, leis de trânsito e educação ambiental. Seria o primeiro passo para a erradicação do deslumbramento e da irresponsabilidade de tantos jovens que queimam suas vidas, sem os valores do meio que os cercam.
    Revertido esse quadro, puna-se exemplarmente esses meninos.

sábado, 1 de junho de 2013

Não repare a bagunça

     Não havia dúvidas de que providenciariam os laudos técnicos necessários para garantir a segurança para o amistoso entre a seleção brasileira e a equipe inglesa no Maracanã, apesar de denúncia do Ministério Público, pela casa desarrumada do lado de fora do palco do jogo.
     Mas Luis Felipe Scolari está alheio a toda essa balbúrdia, até porque ele tem um grande desafio pela frente. E como ele não terá tempo para se preocupar com essa gente relapsa que organiza a festa fora das quatro linhas, sua tarefa é elevar o padrão da seleção aos moldes atuais do futebol praticado pelas principais equipes que estão no topo do ranking da FIFA, pelo desapego total e incondicional ao conservadorismo  que a CBF parece querer referendar e perpetuar.
     Independente dos imbróglios jurídicos e contratempos de última hora, a seleção inglesa representa o adversário ideal para que a seleção do Brasil mostre que também pode evoluir e acompanhar uma nova tendência que no futebol mundial, sem o pragmatismo que vem marcando o comportamento do futebol brasileiro, principalmente da seleção, mesmo quando, não só o Felipão, como também outros treinadores, tiveram a oportunidade de escalar os melhores jogadores em atividade, tal qual se verifica nesse grupo que Scolari reuniu, e que terá agora na Copa das Confederações seu primeiro teste de fogo.
     Muito se especulou sobre a forma como a seleção brasileira se comportou em disputas anteriores, e até ventilaram a possibilidade de contratação de treinadores de outras praças com filosofia extremamente oposta à política imposta e mantida pela CBF. Apesar da recusa dos dirigentes em promover tais mudanças, ninguém se furtou a acreditar que a seleção brasileira fizesse bonito toda vez que entrasse em campo, ainda que a formação ideal não fosse uma unanimidade.
    Nesse apronto contra a Inglaterra, no Maracanã, mesmo que o resultado do jogo não corresponda à expectativa de torcedores, corneteiros e outros formadores de opinião, ainda assim haverá credibilidade aos  jogadores, embora persista todo o ceticismo em relação aos métodos do atual treinador, mais uma vez no comando da seleção, no momento em que impera em outras equipes altas reformulações nas peças e nas cabeças pensantes, cujos reflexos já se verificam no posicionamento das principais seleções no ranking da entidade maior do futebol.
     O talento individual de Neymar e cia. é conhecido até pelos adversários. Pelo nível dos jogadores convocados, dificilmente haverá deficiência em algum setor do campo, a não ser que o rival adote uma postura que neutralize um elemento do jogo. Mesmo porque, pela dinâmica do futebol, ao contrário do que explanava o saudoso João Saldanha, agora a zona do agrião é todo o espaço do campo, e os rivais de hoje já não têm aquela inocência de outrora e se tornaram os baluartes dessa revolução que o futebol vem sofrendo em todos os quadrantes.
     Resta saber se o treinador em questão vai conseguir explorar o potencial de cada um dentro de seu velho tabuleiro, de forma a buscar o diferencial a mais, não só para encher os olhos da arquibancada, mas também se impor aos adversários, numa nova ordem do futebol brasileiro.
    Para que não sobre pedra sobre pedra.