quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A Cedae como sempre

   Como é dura a vida nessa selva de pedra! Dificilmente o cotidiano do Rio de Janeiro corre no seu curso normal, sem atropelos.
   Parece que o infortúnio na vida do carioca já faz parte até do calendário da cidade. A cada dia um evento novo, diferente.
   Não demora muito vão começar a confeccionar aquelas folhinhas de fim de ano, já com os percalços marcados em vermelho, junto com os feriados e as fases da lua para o próximo ano.
  Enchentes, alagamentos, engarrafamentos constantes, trens lotados, assaltos, tudo contribui enormemente para a efervescência do Rio de Janeiro em toda sua plenitude.
   Os dissabores pelos quais passam habitantes e forasteiros se confundem com a perspectiva de se vislumbrar novos contornos para a cidade maravilhosa, em cujas obras e projetos espalhados por todos os cantos a população espera brotar uma nova urbe.
   A arquitetura dos sonhos não é a que remexe a paisagem e o relevo. É a que funciona no dia a dia da população.
   A Cedae, que nunca foi um primor na prestação de serviços, se tornou, nesses últimos tempos, a grande vilã no Rio de Janeiro, pelos recorrentes registros de contratempos para os moradores.
   A cidade fica praticamente paralisada, toda vez que há alguma mudança, intervenção urbana ou serviço de reparo de toda ordem.
   A essa altura do campeonato, é difícil saber qual o maior absurdo nessa história toda: a falta de perspectiva quanto ao restabelecimento do fornecimento de água ou pagar R$ 4 mil por um caminhão-pipa?   

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Dilma acertou em Libra

   Tão logo encerrou o leilão de Libra, começou a enxurrada de críticas a respeito da composição dos consórcios que irão explorar as águas profundas daquele campo nos próximos 35 anos. Apesar do novo formato que o governo federal já tinha sinalizado especificamente para o campo de pré-sal, grande parte dos especialistas não se deu por satisfeito pelo desfecho de todo o processo, acrescentando que a Petrobras poderia, sim, ter tirado mais vantagens do que parece indicar esse novo modelo.
   Mesmo com toda a projeção que havia em torno do potencial petrolífero do território brasileiro, seria quase impossível que a Petrobras se tornasse totalmente independente nos trabalhos de prospecção numa área de dimensões continentais.
   Ainda que a empresa detenha tecnologia de ponta para executar com excelência todas as etapas de produção de petróleo, o montante de recursos necessário para alavancar o projeto em águas profundas não se encaixaria no orçamento da empresa, numa época em que a Petrobras ainda tinha que exportar um volume muito maior do produto para o abastecimento interno, e ainda promover uma sistemática engenharia financeira para que a gasolina, por exemplo, fosse menos dispendiosa para o consumidor.
   O próprio fracasso do Pró-Álcool, na década de 70, contribuiu para que a Petrobras gastasse um montante considerável de recursos, que poderia, já naquela época, está sendo utilizado em projetos futuros de energia alternativa, em cujas matrizes o Brasil demorou a investir, considerando a diversidade de recursos naturais disponíveis em nosso território.
  As gestões passadas, principalmente durante o Regime Militar, não conseguiram implementar esses projetos com os quais as outras nações já acenavam, pela urgência de novas formas de energia, principalmente pela preocupação com o meio-ambiente e a questão da sustentabilidade.
   Mesmo com todo o discurso ufanista do passado, ninguém foi capaz de proteger a nossa riqueza dos predadores de outrora. Qualquer projeto que dependia de capital externo não trazia os resultados que a sociedade brasileira esperava, deixando sempre a economia do Brasil em frangalhos, vulnerável, em função das dívidas que o país acumulava com essas transações cheias de dúvidas e incertezas.
   Agora, a presidenta Dilma Rousseff inaugura um novo modelo de partilha no leilão de Libra, em que a Petrobras fica mais protegida, com a fatia maior na distribuição dos lucros e o petróleo brasileiro finalmente possibilitando investimentos maciços em saúde e educação, e ainda assim uma gama de teóricos de plantão não vê o horizonte que esse novo processo pode descortinar para a população brasileira, com a iminência de geração de empregos, principalmente, tão logo o projeto de Libra comece a movimentar outros setores da economia brasileira.
   O governo federal foi muito feliz em sua decisão e a Dilma muito feliz em seu discurso. Não se esperava outra coisa da presidenta.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Os riscos de Libra

   As implicações que cercam o leilão de Libra vão muito mais além dos serviços de prospecção e produção de petróleo oferecidos pelo governo brasileiro a consórcios de capital estrangeiro.
   Não há dúvidas de que esse novo regime de partilha criado pelo governo federal pode trazer mais vantagens para a população nos contratos que serão assinados agora com as empresas que vão explorar o petróleo brasileiro nas próximas décadas, bem diferente do modelo antigo, de concessão, em que o governo recebia apenas os impostos devidos.
   As garantias de que essa nova descoberta do pré-sal vai trazer benefícios reais à sociedade brasileira vai depender unicamente da competência e transparência com que os órgãos envolvidos no repasse dos royalties irão empregar vultosos recursos, especialmente na área de saúde e educação, como ficou decidido por lei no Congresso Nacional, através de proposta da presidenta Dilma Rousseff recentemente.
   O objeto maior de preocupação fica por conta da segurança de toda a tecnologia adquirida através de pesquisa e inovação das principais ferramentas para o trabalho de perfuração já utilizada nos outros campos de grande porte.
   Se a Petrobras hoje é a empresa mais moderna do mundo no expediente em águas profundas, foi também, ao longo desses anos, muito vigiada e monitorada em momentos importantes do processo de desenvolvimento de sua tecnologia de ponta, como ficou comprovado em recentes descobertas de casos de espionagem, da qual a Petrobras foi vítima também.
   Agora, cabe ao governo federal se precaver dos perigos que rondam as áreas estratégicas, principalmente na área de petróleo, até hoje objeto de disputa de grandes nações dependentes dessa riqueza para alavancar suas economias, por meio do fortalecimento do parque industrial.
   Em cinco anos, prazo previsto para o começo da produção em Libra, é possível encontrar meios de blindar todo o projeto desenvolvido até agora, que permitiu que a Petrobras chegasse a esse patamar de uma grande empresa, assim como minimizar os impactos de eventuais acidentes ecológicos provenientes dos trabalhos que serão realizados futuramente naquela área.  

   

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Ao mestre com justiça

   A Tia Vanda era uma professora muita enérgica, autoritária, a ponto de bater fortemente com o apagador na carteira para silenciar o burburinho, o falatório, a balbúrdia que se instalava em sala de aula. Ela chegava a morder a língua com a onomatopeia de um cão raivoso como ameaça maior a tão impertinentes pirralhos que éramos.
   Sua reprimenda à frente dos colegas era como um açoite em praça pública a quem se atrevesse com desobediência.
   Para sorte de outras gerações que passaram pelo crivo da Tia Vanda, não era possível que coubesse nas vestes daquela bruxa apenas a substância dos grandes tiranos. Era inaceitável que não houvesse naquela índole maquiavélica um naco qualquer da essência de uma fada.
   E tinha. Se o conforto dos rebentos é o afago de suas amas-secas, para nós, pupilos da Tia Vanda, a ternura reservada vinha dos traços de giz, rabiscando para os mais frágeis seres de cara para a lousa envelhecida a sapiência em linhas tortas, de garranchos, no papo reto cuspindo o futuro em forma de sopa de letrinhas, soprando o conhecimento para quem estiver sentado, prestando a atenção, senão te puxo as orelhas.
   Não sei por onde anda a Tia Vanda. Talvez ela nem esteja mais envolvida com birra, teimosia, ditado, conselho de classe e reunião de pais.
   Pode ser que nem esteja mais nesse plano. Se estiver, certamente estará imaginado os engenheiros, advogados, jornalistas, garis, professores e tantos outros que ensaiaram seus projetos, construíram seus próprios sucessos e fracassos, e que sobreviveram para relembrar os sonhos, as utopias, as fantasias e os desejos que a Tia Vanda ajudou a realizar.
   Nas lembranças que eu tenho da Tia Vanda não tem as agruras do magistério, as impertinências do poder público com as outras tias de todos os recantos.
   A justiça para a Tia Vanda é o afeto dos nossos governantes para a classe mais importante desse país.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Expansão urbana e insustentável

   O Jornal Destak, distribuído nas ruas do Rio, publicou uma reportagem sobre dados do IBGE, dando conta de que o tempo médio gasto na ida ao trabalho na região metropolitana é de 47,3 minutos.
   Não é difícil chegar a esse número, mesmo com toda a diversidade de trajetos percorridos, oriundos de várias partes do Grande Rio com destino ao Centro da cidade e Zona sul, regiões que concentram a maior parte da população ativa da região metropolitana em seu local de trabalho.
   Ainda que a pesquisa focalize o inferno diário do trânsito do Rio, com ênfase nos usuários de carro e ônibus, há que se levar em conta os outros modais, trem e metrô, principalmente, que contribuem enormemente para o martírio diário da população fluminense.
   Se a prefeitura do Rio está fazendo algum esforço para melhorar a qualidade do sistema de ônibus na cidade, com promessa de aumento da oferta de coletivos à população, é pouco para equacionar o problema de transporte urbano do Rio de Janeiro.
   A própria pesquisa mostra o tempo de deslocamento na região metropolitana, que inclui as pessoas vindas da Baixada Fluminense, Niterói, Alcântara e São Gonçalo, que de uma forma ou de outra, utilizam os serviços da SuperVia, MetrôRio e Barca S/A.
   No futuro, por mais excelente que seja o sistema viário nessas regiões onde a prefeitura está investindo, com a Transcarioca e a Transoeste, ainda assim a mesma gama de pessoas continuará se deslocando para o Centro, Zona Sul e Barra da Tijuca, pela Avenida Brasil, Ponte Rio-Niterói, Linha Vermelha e Linha Amarela, além da outra parcela que desembarca também todos os dias na Central do Brasil, cujos trens trazem uma massa considerável da Baixada e Zona oeste.
   Portanto, não é difícil perceber que esse problema de mobilidade urbana ultrapassa os limites do que Eduardo Paes pode e deve fazer.
   Nesse momento em que as três esferas de governo estão irmanadas em projetos para o Rio de Janeiro, perde-se a oportunidade de implantar na região do Grande Rio um modelo que abranja efetivamente toda a população fluminense, nesse velho trajeto casa-trabalho-casa.
   Algumas intervenções que a prefeitura do Rio vem desenvolvendo para a cidade têm em sua agenda apronto para os Jogos Olímpicos de 2016, mas sem as garantias do tal legado à população, lembrando que o ex-prefeito César Maia também tinha essa premissa básica quando da preparação para o então Pan2007 e não houve nenhum resultado que configurasse algum legado para a cidade.
   Agora, especialistas sugerem outros projetos de adensamento urbano para os subúrbios do Rio, com vistas a empreendimentos imobiliários nessas localidades esquecidas pelo poder público, mas que desperta a cobiça de grandes construtoras pela especulação em áreas agora mais valorizadas.
  Na verdade, é preciso, sim, adensar essas regiões fora do eixo Centro-Zona Sul, mas com políticas de trabalho e renda também, de forma a fixar uma parte da população ativa do Grande Rio em seus locais de origem, pulverizando, assim, um grande contingente populacional que se desloca rumo ao Centro da cidade do Rio de Janeiro todos os dias.
   Seria uma forma de desafogar o trânsito do Rio e melhorar a qualidade de vida das camadas menos favorecidas, com investimentos e parcerias que atraíssem grandes empresas para essas regiões distantes do Centro.
   Mesmo que os resultados venham em longo prazo, basta vontade política das três esferas de poder.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

A vez de Marina Silva

   Pode ser que até a eleição presidencial qualquer pesquisa de opinião não consiga traduzir efetivamente o comportamento do eleitorado, tanto para rejeição como para alinhamento a um determinado candidato.
  Se a cada pleito surge um fenômeno de voto a desbancar a situação, Marina Silva difere pela forma inusitada com que se enveredou para a próxima disputa presidencial.
   Para os principais protagonistas do atual jogo político é inegável o estardalhaço que a ex-senadora já deve estar causando ao se juntar à legenda que mais pode incomodar e desconstruir um longo processo de alternância de poder, que em toda eleição que se preza há sempre um candidato emergente ou do segundo escalão querendo interromper. Uma marca da Velha República, aliás, o alvo para o qual Marina Silva disparou em sua primeira explanação como filiada ao PSB de Eduardo Campos.
   Se Marina Silva vai sofrer rejeição ou apoio pela inusitada aliança, é cedo para mensurar essa nova corrente. O mais importante é que surge em um momento crucial do cenário político uma nova força capaz de desmanchar a polarização entre o PT e o PSDB nos últimos 20 anos.
   O PT com a máquina administrativa à mão, e o PSDB pela força nacional, certamente não medirão esforços para neutralizar essa corrente política emergente quando os palanques forem armados, na tentativa de desqualificar, tanto o PSB em seus polos regionais, quanto o Rede, ainda no ventre de Marina.
   No entanto, nenhum discurso com ataques diretos à Marina Silva e Eduardo Campos não poderá ignorar os protestos desse ano pré-eleitoral. Como ficou evidente nas manifestações pelo país afora, há uma grande repulsa aos partidos políticos, o que pode beneficiar uma eventual chapa formada pelo governador de Pernambuco e a ex-senadora, considerando o histórico e a trajetória política de ambos, pelo menos até aqui, imaculados aos olhos da opinião pública.
   O único elemento que pode remexer os números da massa pró-Marina/Campos é o estigma que cada um carrega no currículo: Eduardo Campos pouco conhecido em outros colégios eleitorais; e Marina por suas posições em relação à questões controversas, cujas discussões ainda dividem o eleitorado, que por força de aspectos culturais ainda é conservador na hora de direcionar o seu voto.
   Com isso, muita gente ainda torce o nariz para o baixo clero político, toda vez que alguma figura emergente desponta na cena política propondo discussões e debates sobre temas complexos como drogas, aborto, armas, meio-ambiente, religião e outras reformas de que o Brasil precisa.
   Assim como já ocorreu com outros proponentes aos cargos públicos mais importantes do país, não há dúvidas de que Marina Silva será açoitada por grande parte da população teleguiada pela elite política, mídia, Igreja e grandes corporações com discursos bem formatados para excluir o negro, o gay, o nordestino, o evangélico, o babalorixá e outros expoentes do círculo do poder.
   Definitivamente, Marina Silva não é a personificação da pureza. Ainda bem. Pois o Brasil não precisa de gente pura, e sim, de pessoas íntegras. E isso a Marina é, até que provem o contrário. 

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Qual é o futuro da educação?

   Antes de o sinal bater, se apenas um professor esteve em sala de aula cumprindo o seu horário, nem que seja para revisar matéria passada, não terá sido de todo mal mais um dia muito pouco produtivo nesse ano letivo já comprometido pela falta de seriedade com que vem sendo tratada a questão da educação há muito tempo.
   E o tempo em que os alunos permanecem no pátio esperando a hora da saída apenas ratifica a obrigação do poder público, nesse caso, da municipalidade, de cumprir a sua função de tutor do aluno quando este adentra pelo portão da escola.
   Para os pais de alunos, apreensivos com o futuro que cerca seus rebentos fica a expectativa de que um dia amadureça essa velha relação entre o governo e os representantes da categoria, que ao longo de décadas travam batalhas que passam ao largo do bom senso e da responsabilidade de conduzir a questão educacional de acordo com a urgência que se verifica: de adequar os debates, os projetos e as metas às necessidades atuais; de resgatar uma enorme dívida como efeito dos indicadores sociais que tanto afligem pais e educadores.
   Não é saudável para os professores que o Plano de cargos e salários proposto pela prefeitura contemple os profissionais de forma paulatina, a longo prazo, sem a valorização devida a que a classe faz jus, sem a visão de investimento que a área de educação necessita.
  Assim como também não é salutar para a administração pública que o sindicato da categoria faça propostas exorbitantemente absurdas, fora da política salarial agradável para ambas as partes, mesmo não atingindo o patamar orçamentário que a lei estabelece.
   Na verdade, a questão salarial do magistério é apenas o primeiro passo para trazer novos horizontes para a educação pública, cuja excelência depende exclusivamente da satisfação dos professores à frente dos bancos escolares de formar mais e mais gerações empreendedoras através do conhecimento.
  Enquanto a política educacional for tratada de forma politiqueira, de parlamentares representantes de instituições particulares fazendo lobby para atravancar a excelência do ensino público, em vez de se atentar para a qualificação dos professores e a infraestrutura das escolas, com vistas a novas ferramentas, só para começar esse longo processo, dificilmente a sociedade vai vislumbrar resultados promissores que possam efetivamente construir um novo país.
   Qual será o futuro da educação, enquanto houver essas picuinhas, esses simulacros em torno de questão tão relevante? O governo fingindo que está buscando novos rumos para o ensino público, e o sindicato fingindo que a greve não paralisou o serviço.
   A molecada está lá no pátio da escola esperando a resposta antes de o sinal bater.