terça-feira, 8 de outubro de 2013

A vez de Marina Silva

   Pode ser que até a eleição presidencial qualquer pesquisa de opinião não consiga traduzir efetivamente o comportamento do eleitorado, tanto para rejeição como para alinhamento a um determinado candidato.
  Se a cada pleito surge um fenômeno de voto a desbancar a situação, Marina Silva difere pela forma inusitada com que se enveredou para a próxima disputa presidencial.
   Para os principais protagonistas do atual jogo político é inegável o estardalhaço que a ex-senadora já deve estar causando ao se juntar à legenda que mais pode incomodar e desconstruir um longo processo de alternância de poder, que em toda eleição que se preza há sempre um candidato emergente ou do segundo escalão querendo interromper. Uma marca da Velha República, aliás, o alvo para o qual Marina Silva disparou em sua primeira explanação como filiada ao PSB de Eduardo Campos.
   Se Marina Silva vai sofrer rejeição ou apoio pela inusitada aliança, é cedo para mensurar essa nova corrente. O mais importante é que surge em um momento crucial do cenário político uma nova força capaz de desmanchar a polarização entre o PT e o PSDB nos últimos 20 anos.
   O PT com a máquina administrativa à mão, e o PSDB pela força nacional, certamente não medirão esforços para neutralizar essa corrente política emergente quando os palanques forem armados, na tentativa de desqualificar, tanto o PSB em seus polos regionais, quanto o Rede, ainda no ventre de Marina.
   No entanto, nenhum discurso com ataques diretos à Marina Silva e Eduardo Campos não poderá ignorar os protestos desse ano pré-eleitoral. Como ficou evidente nas manifestações pelo país afora, há uma grande repulsa aos partidos políticos, o que pode beneficiar uma eventual chapa formada pelo governador de Pernambuco e a ex-senadora, considerando o histórico e a trajetória política de ambos, pelo menos até aqui, imaculados aos olhos da opinião pública.
   O único elemento que pode remexer os números da massa pró-Marina/Campos é o estigma que cada um carrega no currículo: Eduardo Campos pouco conhecido em outros colégios eleitorais; e Marina por suas posições em relação à questões controversas, cujas discussões ainda dividem o eleitorado, que por força de aspectos culturais ainda é conservador na hora de direcionar o seu voto.
   Com isso, muita gente ainda torce o nariz para o baixo clero político, toda vez que alguma figura emergente desponta na cena política propondo discussões e debates sobre temas complexos como drogas, aborto, armas, meio-ambiente, religião e outras reformas de que o Brasil precisa.
   Assim como já ocorreu com outros proponentes aos cargos públicos mais importantes do país, não há dúvidas de que Marina Silva será açoitada por grande parte da população teleguiada pela elite política, mídia, Igreja e grandes corporações com discursos bem formatados para excluir o negro, o gay, o nordestino, o evangélico, o babalorixá e outros expoentes do círculo do poder.
   Definitivamente, Marina Silva não é a personificação da pureza. Ainda bem. Pois o Brasil não precisa de gente pura, e sim, de pessoas íntegras. E isso a Marina é, até que provem o contrário. 

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