quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Nilton Santos nunca morrerá

    Quando Nilton Santos ousou ultrapassar a metade do campo para investir lá na frente, partir para cima do adversário, fazer as vezes de um atacante impetuoso e bater de frente com seu oponente, outros defensores com a mesma visão progressista para aquela época certamente tiveram a petulância de avançar além dos domínios de um mero lateral que apenas defendia a retaguarda.
   A diferença é que Nilton Santos promoveu sua sorte e ousadia com maestria e elegância, sabedoria e malícia, elementos essenciais para se enquadrar um grande boleiro na galeria dos maiores astros do velho esporte bretão.
  Tanto na seleção brasileira quanto no Botafogo, poucos envergaram com a energia do grande mestre a velha camisa 6 por ele imortalizada. 
   Toda vez que aventarem a ideia de escalar o scratch de todos os tempos, Nilton Santos figurará sempre lá na lateral esquerda, porque a Enciclopédia é atemporal, seja com bola de meia ou a contemporânea, com efeito visual; seja em campo de várzea ou da verdejante zona do agrião.
   Se existe um divisor de águas no mundo do futebol, Nilton Santos é que representa essa nova era, da dinâmica dos destacados estrategistas à desenvoltura de quem poderá um dia se tornar um ícone dentro das quatro linhas, tão ou menos brilhante que Nilton Santos.
   Eu desconfio até que muito da filosofia pregada em preleções, pranchetas e outras geringonças ainda não está à altura do que Nilton Santos inaugurou para a glória do futebol moderno.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Deixou chegar, o Flamengo é campeão

   Não poderia haver outro resultado que não fosse o triunfo do Flamengo no Maracanã. Uma festa que reproduziu fielmente os velhos tempos do maior do mundo, sem as imposições do tal padrão FIFA.
   A festa que se viu nessa nova conquista do Flamengo, além de reeditar os maiores feitos, consagra também a glória do grande estádio do povo e a identidade de quem nunca perdeu sua majestade, mesmo com outra roupagem.
   E a paixão de uma grande torcida se confunde com a história de um grande palco, de um grande templo.
   Em nenhum momento o adversário de agora, o Atlético Paranaense, demonstrou o ímpeto de quem almeja desbancar o Flamengo diante de sua grande nação, que apesar do fôlego inflacionário do novo sistema, pagou mais do que podia para representar o que sempre foi alma do futebol carioca: o envolvimento total e irrestrito da torcida do Flamengo ao projeto do rubro-negro de conquistar essa Copa do Brasil, num ano que começou cheio de incertezas quanto o futuro do time nesta temporada.
   Se no Campeonato Brasileiro o Flamengo amargou sucessivos revezes, sem perspectiva de se manter no topo da tabela, na Copa do Brasil, o Flamengo em nenhum momento demonstrou a apatia da outra disputa.
   E se a torcida rubro-negra fez a sua parte em momentos vacilantes da equipe, não seria diferente nessa Copa do Brasil, cada vez que o time do Flamengo suplantava um adversário e prosseguia na competição. Cabia então ao time corresponder em campo a toda confiança da grande nação rubro-negra.
   Então, imperou aquilo que já virou um eterno clichê: deixou chegar.
    Pois, é. Uma vitória para coroar uma grande conquista e blindar sua imensa torcida, que apesar de todo esforço financeiro para se adequar ao novo Maracanã, tem agora o mérito de gritar bem alto.
   É campeão!

terça-feira, 19 de novembro de 2013

No rastro do mensalão

   A corrupção no Brasil não é coisa que vai se extinguir com uma simples canetada, ordens de prisão, uma nova interpretação das letras da lei, dos regimentos e das artimanhas.
   Nos tempos em que era preciso dar uma satisfação para a comunidade internacional de que o Brasil inaugurava de fato uma nova era, a democracia reinstalada por aqui era vendida lá fora sem os vícios dos sistemas e regimes anteriores.
   Quaisquer aberrações e distorções no curso da nação brasileira ficavam completamente ilesas de execuções sumárias ou pouco convincentes para os padrões do que a sociedade como um todo considerava hostil e maléfica.
   Nesse espaço de tempo em que a corrupção dura no país, já impregnada no tecido social, os instrumentos jurídicos de que dispomos, mesmo não traduzindo impecavelmente as punições devidas, à altura de grandes danos causados, é o mínimo de resposta que o Supremo Tribunal Federal poderia dar à opinião pública, agora que a insatisfação popular ganhou as ruas.
   Os desdobramentos de um processo longo e extenuante como foi o caso do mensalão, apesar dos meandros que uma legislação arcaica oferece aos malfeitores da coisa pública, num primeiro olhar, pelo menos reverte a impunidade, alvo de indignação tanto quanto dos malfeitos em si.
   No entanto, a mesma inclinação e fôlego que o Supremo Tribunal Federal demonstrou para repaginar os mecanismos jurídicos, agora sob o olhar mais atento da população, terá sido em vão se os outros poderes não seguirem esse mesmo ritmo. Até porque, estão nos ambientes do Legislativo e do Executivo a gênese de todas as maquinações políticas que afrontam e deturpam a administração pública.
   Vale lembrar que esse processo nefasto engendrado pelos mensaleiros teve similares em gestões anteriores, que chegaram a derrubar presidente, e em outros momentos, simplesmente caíram no esquecimento por força do corporativismo que por vezes tinha voz ativa no círculo jurídico.
   Se o desfecho da Ação Penal 470 vai ter efeitos nebulosos nas hostes do Partido dos Trabalhadores, só a cúpula da legenda poderá apagar essa mancha na história de quem mais levantou a bandeira da moralidade pública.
   Na verdade, a engenharia dos mensaleiros e de outros grupos políticos de outrora não é exclusividade do âmbito federal. Como ocorreu em São Paulo, na esfera estadual e municipal, vindo à tona agora, outras siglas de destaque no cenário político também podem ter implicações nas administrações de outras unidades da federação, o que faz do combate à corrupção um projeto de ordem nacional, com ênfase em grandes reformas política, eleitoral e penal, sobretudo.
   Para que no rastro do processo do mensalão não fique apenas o ensaio de um novo horizonte.

    

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Filipinas em ruínas

   Quando um país como as Filipinas é assolado por uma grande tragédia não é novidade que várias nações se apressam para enviar provisões de toda ordem, com o intuito de, pelo menos, amenizar a dor de vítimas de desastres naturais de grandes proporções.
   Muito tem se discutido sobre programas de prevenção de acidentes naturais, principalmente nos países onde há uma incidência maior desses sinistros.
  Em 2004, quando a Indonésia foi varrida por um tsunami, especialistas do mundo inteiro ventilaram a possibilidade de dotar aquele país de tecnologia capaz de prever outros acidentes, evitando grandes tragédias e, consequentemente, perdas humanas.
   Com muitas dificuldades as Filipinas certamente vão reconstruir, mesmo que num tempo longo, toda a área agora destruída por mais uma catástrofe. Mesmo que a economia local permita ensaiar algum projeto para evitar outros prejuízos para a infraestrutura do país, o governo filipino precisará de aporte tecnológico vindo de outras nações para solucionar um problema que faz parte do cotidiano do país asiático, pela sua localização geográfica em área de constantes turbulências.
  Para os países que conseguiram erradicar esse problema dentro de seus domínios, como o Japão, de grande potencial econômico, fica a contribuição na forma de conhecimento adquirido em pesquisas que demandam altos recursos, precisamente bem distantes da realidade financeira das Filipinas.
   Inaugurando a Semana Internacional da Ciência e da Paz, o Secretário-Geral da ONU, Ban ki-moon alertou que grande parte do mundo está excluída de avanços científicos. Dentro dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio que a ONU promove se encaixa perfeitamente essa questão do conhecimento que o órgão pretende disseminar.
  Ao acrescentar que a comunidade internacional tem a responsabilidade de proteger toda a humanidade contra os usos destrutivos da capacidade científica, é bom lembrar que o poder científico também pode trazer tantos benefícios quanto a educação e agricultura moderna, por exemplo.
  Os efeitos de desastres naturais na infraestrutura dos países vitimados e, principalmente, em vidas humanas, já obriga a inclusão de futuros projetos de prevenção de acidentes na questão da sustentabilidade, tão propalada em encontros anteriores.
   A iminência de aumento do aquecimento global sugere uma corrida urgente de todas as nações, sob pena de essas tragédias terem conseqüências mais drásticas num futuro próximo.
   Porque as nações que sistematicamente poluem o planeta têm muita culpa nessa recente tragédia nas Filipinas, agora em ruínas.


quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Por que a Perimetral?

   Já não era surpresa para ninguém que a interrupção e posterior derrubada da Perimetral fosse trazer transtornos ao trânsito da região portuária.
   Não se esperava, no entanto, que a prefeitura se abstivesse de um planejamento mais profundo, antes de demolir o Elevado, por onde passa cerca de 60 mil veículos por dia.
   As duas vias binárias dificilmente vão comportar a mesma carga de veículos com o mesmo fluxo, já que estas funcionarão com paradas frequentes, devido aos semáforos em suas extensões, o que certamente vão comprometer o tráfego local na hora do rush.
   Dentro do projeto arquitetônico e urbanístico que a prefeitura pretende implementar para a região estão incluídos empreendimentos de cunho comercial e residencial, provocando uma massa adicional de pessoas se deslocando para aquele local a todo instante, de modo que o modelo de mobilidade urbana concebido para aquela área talvez não absorva o futuro contingente esperado.
   Numa cidade como o Rio de Janeiro, imersa em problemas estruturais a serem solucionados, nenhum projeto de intervenção urbana terá alguma funcionalidade se ficar restrito apenas ao caráter estético.
   Enquanto os arautos do paisagismo e da superficialidade vêem a Perimetral como um monstrengo a manchar o cartão-postal da cidade, os mais racionais e imbuídos numa causa mais ampla e sustentável enxergam outros obstáculos para o mesmo projeto de modernização da zona portuária.
   Se a questão da mobilidade urbana é parte fundamental do projeto Porto Maravilha, há que se compensar a ausência da Perimetral, considerando a sua importância ao longo desses anos como uma das vias de ligação entre pontos de grande demanda da cidade.
   Mais do que o Elevado, agora em vias de extinção, a Rodoviária Novo Rio é o grande fator de estrangulamento, principalmente em horários de pico, e ninguém até hoje conseguiu colocar em prática um antigo projeto de remoção daquele terminal, que pode efetivamente equacionar, em patamares significativos, os frequentes engarrafamentos na região.
   As soluções de que a população precisa vão muito mais além das preocupações com o panorama e o relevo da cidade maravilhosa.