terça-feira, 19 de novembro de 2013

No rastro do mensalão

   A corrupção no Brasil não é coisa que vai se extinguir com uma simples canetada, ordens de prisão, uma nova interpretação das letras da lei, dos regimentos e das artimanhas.
   Nos tempos em que era preciso dar uma satisfação para a comunidade internacional de que o Brasil inaugurava de fato uma nova era, a democracia reinstalada por aqui era vendida lá fora sem os vícios dos sistemas e regimes anteriores.
   Quaisquer aberrações e distorções no curso da nação brasileira ficavam completamente ilesas de execuções sumárias ou pouco convincentes para os padrões do que a sociedade como um todo considerava hostil e maléfica.
   Nesse espaço de tempo em que a corrupção dura no país, já impregnada no tecido social, os instrumentos jurídicos de que dispomos, mesmo não traduzindo impecavelmente as punições devidas, à altura de grandes danos causados, é o mínimo de resposta que o Supremo Tribunal Federal poderia dar à opinião pública, agora que a insatisfação popular ganhou as ruas.
   Os desdobramentos de um processo longo e extenuante como foi o caso do mensalão, apesar dos meandros que uma legislação arcaica oferece aos malfeitores da coisa pública, num primeiro olhar, pelo menos reverte a impunidade, alvo de indignação tanto quanto dos malfeitos em si.
   No entanto, a mesma inclinação e fôlego que o Supremo Tribunal Federal demonstrou para repaginar os mecanismos jurídicos, agora sob o olhar mais atento da população, terá sido em vão se os outros poderes não seguirem esse mesmo ritmo. Até porque, estão nos ambientes do Legislativo e do Executivo a gênese de todas as maquinações políticas que afrontam e deturpam a administração pública.
   Vale lembrar que esse processo nefasto engendrado pelos mensaleiros teve similares em gestões anteriores, que chegaram a derrubar presidente, e em outros momentos, simplesmente caíram no esquecimento por força do corporativismo que por vezes tinha voz ativa no círculo jurídico.
   Se o desfecho da Ação Penal 470 vai ter efeitos nebulosos nas hostes do Partido dos Trabalhadores, só a cúpula da legenda poderá apagar essa mancha na história de quem mais levantou a bandeira da moralidade pública.
   Na verdade, a engenharia dos mensaleiros e de outros grupos políticos de outrora não é exclusividade do âmbito federal. Como ocorreu em São Paulo, na esfera estadual e municipal, vindo à tona agora, outras siglas de destaque no cenário político também podem ter implicações nas administrações de outras unidades da federação, o que faz do combate à corrupção um projeto de ordem nacional, com ênfase em grandes reformas política, eleitoral e penal, sobretudo.
   Para que no rastro do processo do mensalão não fique apenas o ensaio de um novo horizonte.

    

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