sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Marina é sustentável


  Em entrevista publicada no jornal O Dia(25/08), Márcio Sales, mestrando em Políticas Públicas na UERJ, ressaltou que Marina Silva está para além da direita e da esquerda, acrescentando que isso é uma dificuldade que é preciso compreender.
   Para quem já está inserido nas grandes discussões sobre os desdobramentos do cenário político, não é difícil entender esse novo perfil da camada emergente dos postulantes a cargo público, porque eles mesmos, a imprensa, os cientistas políticos e demais estudiosos do assunto já vêm há muito tempo se debruçando sobre a necessidade desses novos modelos na administração pública, de modo que não chega a ser surpresa para os especialistas esse novo fenômeno.
   A complexidade a que se refere os debatedores do "Encontro do Dia" fica por conta dos eleitores que ainda não acusaram a novidade, incluindo grande parte da legião de insatisfeitos que agora se alinham à Marina Silva.
   A própria candidata terá dificuldades para convencer o eleitorado de que se desgarrou daquele estereótipo de socialista ferrenha, irredutível, embora ela já acene com proposta de aproximação a setores antagônicos aos preceitos, tanto do PSB quanto do Rede Sustentabilidade.
   Como bem frisou o cientista político Cesar Romero no debate, é muito difícil chegar ao poder e praticar a nova política. Mas quando Marina  destaca que há figuras de boa índole nos partidos rivais, no meio empresarial e demais segmentos da sociedade, não só sinaliza com uma proposta plurilateral para governar o Brasil, como também chama à responsabilidade para a condução da nova política representantes de outras correntes, sem que isso implique desavenças nos projetos que precisam ser implementados no país.
   Se isso vai ter reflexos nas eleições, é cedo para avaliar, mas essas proposta e postura diferenciadas de Marina podem lhe render a mesma credibilidade que já foi dada a outras personagens políticos.
   Há quem aposte que Marina Silva não teria apoio e base suficientes para alavancar o que precisa ser modificado, mas com seu fortalecimento e uma eventual vitória nas urnas, certamente haverá movimentação que poderá se desenhar antes mesmo do desfecho dessas eleições.
   De qualquer forma,  não há dúvida de que o discurso da sustentabilidade proferido pela candidata é a questão principal de sua plataforma, tema que na agenda brasileira se arrasta desde quando foram firmados acordos e compromissos durante a Rio+20, onde representantes das três esferas de governo se comprometeram a implementar projetos desenvolvimentistas de cunho sustentável.
   Estão nesse quesito os elementos que poderão dar mais credibilidade e permitir que Marina Silva ponha em prática a nova política.  

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Post mortem



   O meio político não é o único ambiente em que a morte prega peças em quem prossegue nesse plano para a contar histórias. Mas é na esfera do poder que a morte toma a mesma dimensão de uma vida intensa.
   As contradições e aberrações da política, como fruto ou como raiz, são apenas a confirmação de como a banalização da morte e do absurdo prevalecem à valorização da vida.
   É claro que Eduardo Campos não foi o primeiro nem será o último, cuja trajetória só toma corpo e valor no fim da linha. A essa altura do campeonato, o empobrecimento do debate politico já seria o suficiente para transformar a interdição de um importante personagem na morte da política também. Porque é disso que a política vai precisar, enquanto não evolui: mais da pluralidade de ideias que da diversidade de partidos.
   É nesse sentido que a importância de Eduardo Campos vai mais além do surgimento de uma jovem figura com fôlego para não desistir do Brasil. Ele era a possibilidade de ampliação de um debate em prol de uma grande nação.
   Não há garantias de que Eduardo Campos consolidasse um grande projeto para o país, mas sua morte reduz essa perspectiva por enfraquecer o diálogo, embora Marina Silva, já confirmada como substituta de Campos, sinalize igualmente.
   De qualquer forma, é Eduardo Campos quem poderia efetivamente fragmentar o que costumam classificar como a polarização entre os dois maiores partidos em destaque, protagonistas dessa alternância de poder nos últimos tempos.
   Mas eis que a morte interrompe abruptamente a trajetória de quem estava inclinado a unir a esquerda, rachada como sempre, se unindo a Marina Silva, e o mais importante, estreitar as relações com setores divergentes aos dogmas do PSB e de sua companheira de chapa, o que, num primeiro olhar, revela a visão moderna de quem desejava governar o país.
   Porque a sociedade precisa de alguém assim, que não desista do Brasil. 

domingo, 3 de agosto de 2014

Velho futebol no novo Maracanã

Carlos Alberto Botafogo henrique Cruzeiro Série A


  Pelo menos no aspecto técnico, a partida entre o Botafogo e o Cruzeiro, no Maracanã, correu dentro da mais pura normalidade, considerando o nível do Campeonato Brasileiro que o público em geral já conhece de outras edições.
   Com isso, as jogadas bizarras, chutes sem direção, furadas, além de contrastar com a beleza do Maracanã, está bem distante daquilio que se tem aventado para a reformulação do futebol depois do fracasso do Brasil na Copa.
   Mas, eis que antes da partida, uma pane no sistema de bilhetagem comprometeu toda a organização para a venda de ingressos aos torcedores que deixaram para comprar as entradas no local.
   E se a liberação das catracas ao público evitou maiores confusões no entorno do estádio, o cenário também demonstra que as transformações que o Brasil precisa operar para reformular o futebol estão bem além das quatro linhas.
   Dentro de campo, o futebol nivelado por baixo em ambos os lados. O Cruzeiro, líder do campeonato, ainda tem uma melhor organização tática e mais recursos no banco de resevas, o que lhe permite correr à frente de seus rivais, como ocorreu ano passado.
   Quanto ao Botafogo, se há algo que precisa ser feito para melhorar o desempenho da equipe, vai depender da diretoria resolver sua grave crise financeira que afeta todo o grupo com salários atrasados, além do descontentamento da torcida, que por enquanto, ainda apoia o time, que mesmo vacilante em campo, se comporta de forma altamente profissional, como ficou comprovado nas últimas partidas, principalmente nessa contra o Cruzeiro, líder da competição.
   O que pode salvar o Botafogo nessa disputa, esse ano, é a mesma engenharia financeira que os outros clubes inadimplentes com a Receita Federal terão de empreeender, principalmente se a tal Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte conseguir fiscalizar e punir esse monte de dirigentes, há muito tempo com a pecha de degradadoires do futebol.
   Não custa lembrar que começa nos próprios clubes o primeiro passo para reestruturar o futebol, com ênfase na seleçãop brasileira.
   Se não for assim, vai continuar como o empate entre o Botafogo e o Cruzeiro, ou seja, se não morreu, também não mata ninguém.