sexta-feira, 4 de março de 2016

Pelo Brasil


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 Vou me reportar à 1964, quando minha mãe me carregava na barriga e dizia que precisava enfrentar fila pra comprar um mísero litro de leite. Naquela época, segundo relatava a dona Zélia, eram tempos difíceis, em que boa parte da população não usufruía do que era dispensado a todos.
   Como fui crescendo nesses tempos em que tudo era conquistado gradativamente, agora com 50 anos eu poderia acreditar que a evolução do Brasil em toda essa trajetória já tivesse atingido um grau qualquer em que todos os segmentos, todas as classes sociais já não mais discutissem essas diferenças que imperam até hoje.
   Hoje, é certo que há um Brasil dividido em dois: uma parte que usufrui satisfatoriamente de tudo que o país produz e uma outra parcela que espera sempre seu tempo chegar.
  Pela discussões que dividem opiniões e o Brasil em duas metades, dá-se a impressão de que a corrupção que tanto assola o país é o grande obstáculo que freia a evolução da nossa sociedade. Na verdade, esses malfeitos que hoje servem de pano de fundo para intermináveis disputas entre grupos distintos não são o grande motivo de desavenças no cenário político. O que vemos hoje é a velha guerra pelo poder, com, aí, sim, a corrupção como ferramenta de quem tem o poder nas mãos.
   Não é a corrupção que atravanca o país. Em nenhum momento o Brasil mudou de fase ou período, sem que a corrupção tenha se estancado por um tempo para que atingíssemos um outro grau. Nada impediu que o Brasil hoje se tornasse uma grande nação. Se aos olhos de quem nos vê lá de fora temos a soberania que todos conquistaram, é no nosso íntimo, no tecido social que ainda não evoluímos.
  A corrupção, tão enraizada em nossa árvore genealógica, apenas interrompeu grandes feitos, grandes conquistas que nivelassem nossa dimensão continental ao patamar global de outros povos prósperos.
   Quando a sociedade brasileira assiste hoje a esses eventos de calamidade social no cenário político, passa-se a ideia de que a corrupção é um fato novo. Ventilasse-se a impressão de que estamos inaugurando uma nova forma de fazer política, quando na verdade, existe no seio da sociedade esse espírito maligno como parte de nossa doutrina.
   O que atravanca o Brasil é a velha separação que originou a nossa nação, a nossa república em grupos distintos; uma parte que sempre abocanhou a maior parte de nossa riqueza, e a outra que agora reivindica o seu quinhão.
   Se o Partido dos Trabalhadores(PT) hoje sofre os rigores da lei para pagar pelos seus erros, não foi essa legenda que inventou a corrupção como receita de perpetuação de seu poder. Ele apenas incorporou os elementos do sistema que já existe para levar adiante sua situação de mandatário do governo.
   É certo que houve conquistas no plano social que o PT poderia ter usado para fazer seu nome na história do país, mas que foi manchado pela cultura do poder a qualquer preço. Há, sim, novas conquistas que incomodam a elite que até hoje não admite dividir a riqueza do país. Mas o PT não foi diferente de outras correntes políticas que se locupletaram do poder, e não há garantia de que a oposição de hoje vai botar o Brasil nos trilhos quando retomar o poder perdido para a situação.
  Não existe nenhum movimento no país para frear esse sistema que interrompe nossa evolução. As velhas leis e antigos regimentos e vícios que envolvem o poder ainda continuam em voga nas letras da lei e dos códigos. Mesmo no auge desse período conturbado, se a oposição quisesse inaugurar uma nova era para o Brasil, ela estaria agora, através de seus representantes, reivindicando amplas mudanças e reformas no âmbito do legislativo, bem aos moldes de suas prerrogativas legais.
  Se o aparelho jurídico e de segurança do Brasil hoje se esmera em grandes investigações para elucidar esses malfeitos, nas batalhas políticas não é a corrupção o grande divisor de águas do Brasil. É a simples guerra pelo poder que sacode o país não é de hoje.
   Por isso, por mais que doa a quem doer, é preciso ampliar, inclusive nas outras esferas de poder, estaduais e municipais em todo o país, esse trabalho de investigação aos malfeitores da coisa pública, independente de posições políticas do momento.
  É preciso ir a fundo em tudo que o PT vem demonstrando no centro do poder, mas é necessário que os outros partidos, todos, também sejam revirados, porque é inegável o protagonismo das outras legendas no sistema de corrupção no Brasil. Há registros de corrupção em todas as praças do Brasil, inclusive com o patrocínio de outros partidos políticos que não estão no centro do poder, mas incorrem no mesmo erro.
  A imprensa e todos os outros organismos da sociedade civil têm a responsabilidade de encarar esse desafio para o bem do Brasil, sem espetacularização de fatos, sem direcionamento de opiniões, sem corporartivismo, sem ideologia, enfim.