quinta-feira, 27 de abril de 2017

Os legados da vida

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   Toda vez que um artista morre eu fico imaginando esse tal mistério que cerca a vida das pessoas, ou mais precisamente, o tempo que cada um dura aqui nesse plano. Eu me refiro aos artistas por estarem mais em evidência, mas claro que outros personagens que estão em constante processo de criação também entram na lista.
    Eu lembrei disso  mais uma vez quando soube da morte de Jerry Adriani esta semana. Um artista que mesmo depois de marcar uma grande época, ainda continuava realizando seu trabalho com novidades em seu repertório.
     Isso vale também para as pessoas comuns que tiveram suas vidas interrompidas pela morte prematura no auge de suas carreiras. Para estes, a expectativa de vida é completamente nula. Se existe um cálculo exato e lógico que determina o fim de um tempo de vida, eles vivem em função da margem de erro, aquele espaço em que tudo é incerto, mas real. É quando há a possibilidade de grandes conquistas, seja no plano profissional ou pessoal.
   Mesmo depois do apogeu, ainda há a necessidade de outros feitos. Sem essa de sensação de dever cumprido! 
    Veja quantas pessoas perdem a oportunidade de realizar uma grande obra enquanto respiram. Há um imenso universo de gente que desperdiça a chance de entrar para a galeria dos grandes realizadores. Tomamos como exemplo os políticos que legislam em causa própria e saem pela porta dos fundos nesse cenário em que atuam, frustrando seus herdeiros pela má conduta, e o público que lhes confiou a proeza de um importante marca histórica, sem tampouco desfrutar, no futuro, do prazer de ter realizado algo sublime e grandioso aos olhos de quem os cercam.
    É claro que essas conquistas que fogem de interesse coletivo não contam como júbilo no caso dos agentes públicos envolvidos em malfeitos.
     No plano pessoal só são válidos os sonhos e aspirações de um livro, uma obra de arte, a composição de uma música, a promoção na carreira, a construção de uma família, plantar uma árvore ou praticar o bem, entre outros. São práticas que deixam um legado de fato. É como se escrevêssemos parte de nossa história numa pedra, em vez de na pedra. É isso que basta em nossa vida, seja ela curta ou longa.
    Lamentamos por aqueles que tiveram seus ciclos interrompidos por uma fatalidade qualquer, um tumor maligno, uma bala perdida, uma decepção, um trauma de infância ou falta de coragem para alavancar um projeto.
    Pode ser que os gênios, os nerds, os loucos e outros inteligentes comuns tivessem dado uma nova rotação para o mundo se suas vozes e experiências ecoassem por mais tempo por aqui. De qualquer forma, além dessa incerteza que o mistério da vida vai criando, continuamos aqui convivendo todos juntos e misturado: de um lado, os que correm contra o tempo e se agarram em futilidades; do outro, aqueles que vivem seu próprio tempo e estão sempre deixando um grande legado.