sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Feliz Ano Velho

     É sempre assim nesta época do ano: uma parcela fica fazendo projeções para o ano seguinte e a outra, um balanço antes do apagar das luzes. Seja qual for a perspectiva de um ou de outro, o cenário nacional teve mais destaque do que qualquer acontecimento regional ao longo do país.
     Ficamos sabendo agora que o Brasil cresceu algumas posições, ultrapassando, inclusive, nações há muito tempo com economia estável, como a Inglaterra, veja só. Só que isso não é motivo para comemoração, considerando, não só os efeitos desse distúrbio global na economia brasileira, como também a grande dívida social dentro da nossa realidade de país, ainda em desenvolvimento.
     Num ano em que eclodiu crises em vários países, principalmente na Europa, é muito difícil falar em crescimento, num momento como esse, de dúvidas e incertezas. As nações que não sofreram os efeitos da crise, apenas sobreviveram porque as políticas locais incentivaram o consumo interno, o que de uma certa  forma movimentou alguns setores do parque industrial, gerando emprego e renda, como aconteceu aqui no Brasil, ajudado pelas políticas sociais, como o Bolsa-Família, sempre injetando um montante considerável de dinheiro na praça.
      O tal crescimento, tão alardeado aos quatro cantos, continua sendo a boa e velha engenharia financeira que as equipes econômicas acabam adotando em momentos críticos para amortizar e mascarar algumas políticas, que de repente pode até está respirando por aparelho, mas que se esvai por meio de arrocho e sacrifício à população.
      Tudo bem que felizmente não vivenciamos isso aqui no Brasil. Aos olhos de muita gente, parece até que essa crise mundial não vai trazer sérias consequências, que estamos, enfim, imunes a isso. Mas, para um país como o nosso, ainda construindo um futuro melhor para o seu povo, ter um bom conceito no cenário internacional, por estar suportando essas intempéries, ainda  não traz a satisfação e o bem-estar que a sociedade almeja.
     Seria interessante considerar que o crescimento de um país fosse o resultado de suas relações além fronteira e o compromisso com as coisas públicas, leia-se as necessidades básicas de saúde e educação, principalmente. Mas, quando vislumbramos nossos números sociais e as mazelas como consequência, chegamos a conclusão de que muita coisa precisa ser feita para que sejamos uma nação em crescimento efetivamente.
      Não adianta a essa hora do campeonato ficar enumerando nossos problemas, as tarefas e a lista de prioridade. Mas certos problemas saltam aos olhos, pela dimensão e urgência com que o poder público e a sociedade vão se debruçar, se queremos de fato construir uma sociedade mais justa.
      Esta semana o Conselho Nacional de Educação anunciou que há um déficit de 300 mil professores na rede pública de ensino em todo o país. Não custa lembrar que há décadas e gestões passadas a questão da educação não vem tendo a atenção devida, fazendo com que a crise do ensino no Brasil tome dimensão continental.
      Foi-se o tempo em que vários projetos de interesses públicos não andavam por falta de recursos. Hoje, apesar de alguns ajustes, nossa economia está bem fortalecida, suficiente para viabilizar o que for mais urgente para o Brasil. Não há dúvidas de que no próximo ano a presidenta Dilma Rousseff vai dar prosseguimento à sua proposta de governar o país, com vistas ao desenvolvimento. E a questão da educação não poderá ficar de fora desse grande projeto, sob pena de eternizarmos cada vez mais nossas próprias mazelas.
     Acredito firmemente que o passado de luta da nossa presidenta vai impulsioná-la a fazer o Brasil viver esses novos tempos.
      A começar, já, em 2012.

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       Um Feliz Ano Novo a todos aqueles que prestigiaram esse breve espaço ao longo do ano!!!!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Barcelona e os rumos do mundo

      Tem um monte de gente do mundo futebolístico, técnicos, jogadores, torcedores, matutando um modelo que se equipare a esse esquadrão que passou por cima do Santos. Certamente serão noite sem dormir e muitos debates de como se faz para chegar a um nível como esse do time do Barcelona. 
      Só que a dimensão que pode se dar do triunfo da equipe campeã do mundo é muito maior do que o exemplo a ser seguido nesse velho esporte bretão, dentro das quatro linhas.
      Até dirigentes que acham que entendem de futebol e que também não manjam de administração devem estar batendo a cabeça para encontrar um meio de conciliar esse sucesso todo com a mediocridade da cartolagem que assola o primeiro, o segundo e demais divisões do futebol brasileiro.
      Nunca pensei que o triunfo de um time de futebol fosse provocar tanta discussão acerca dos rumos que o futebol pode tomar daqui para frente, não pelas conquistas que o Barcelona teve ao longo dessas últimas disputas, na Espanha, no continente europeu, e agora, em âmbito mundial, em que se confirmou o que já se esperava de um time campeão dentro e fora das quatro linhas.
     Mais do que revolucionar as administrações de primeira, segunda e demais divisões do futebol por aí afora, a apoteose do Barcelona é uma síntese do que pode acontecer quando o coletivo se sobrepõe ao individual, porque o mundo não terá o destino sustentável e politicamente correto enquanto o individual, do cada-um-por-si, continuar sendo a tônica desse sistema global, de desregramento dos grupos sociais, das instituições, num ambiente em que, paradoxalmente, as redes sociais vão integrando mais e mais indivíduos.
      Está todo mundo discutindo novas táticas para se chegar à cara do gol, acreditando que um lampejo daquele craque pode decidir tudo. Nesse último campeonato brasileiro, os dois primeiros colocados, o Corinthians e o Vasco da Gama tiveram como características a força do seu conjunto, enquanto as outras equipes dependiam de um ou outro jogador do plantel.
      Infelizmente, o futebol não é o único ambiente em que se constata esse contrassenso de gol-contra, bola na trave, antes que o apito final interrompa um tempo de glória. Essa crise econômica que abala os dois extremos de um mesmo vetor nunca se resolverá, enquanto as cabeças pensantes não mirarem o aspecto coletivo. Não adianta as grandes nações se reunirem para uma grande causa e na hora H cada um defender seus interesses. Por isso que os encontros em Davos, Copenhagen, Kioto, Rio e outros fóruns não deram certo.
     É o pobre mundo do futebol de várzea e suas pátrias sem chuteiras.
   
     
     
      

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Paternalismo de resultado

     Antes dessa crise que vem rondando os quatro cantos do planeta já havia a preocupação de se proteger de eventuais contratempos que pudessem comprometer as políticas em andamento, mesmo que esse processo não abarcasse todos os estratos sociais. 
     Até os governos pelo mundo afora já adotavam aquela prática de farinha-pouca-meu-pirão-primeiro. Com a responsabilidade de seguir as metas propostas pelo orçamento disponível, o estado resolveu se encolher, já que alguns serviços poderiam ser dispensados pela iniciativa privada, mesmo que à meia-sola, como se verifica hoje.
     Quando a Dama de Ferro inaugurou a era de privatizações, a maioria dos governos descobriram um  grande filão para enxugarem as suas contas, sem interromper outros grandes projetos e mantendo o status quo oficial.
     Infelizmente, aqui no Brasil o conceito de Estado mínimo tem um outro significado, e o velho paternalismo que remonta os tempos do descobrimento ainda continua vivaz, fazendo os deuses do Liberalismo darem cambalhota  em suas sepulturas, pelas diabruras que os agentes públicos contemporâneos insistem em perpetuar.
      Se antes havia a preocupação em entregar à iniciativa privada parte dos serviços públicos, como transportes, energia e telecomunicações, hoje a decepção pela qualidade do que se oferece à população aumenta, à medida que o cidadão vai desembolsando muito mais por um serviço que ainda não atingiu o grau de excelência que o povo espera.
      Além da competência com que essas empresas atuam na gestão dos serviços públicos, a sociedade já questiona a participação do poder público na questão dos investimentos que vêm onerando os cofres públicos, sobremaneira, fazendo com que o cidadão comum pague duas vezes pelo mesmo serviço, como pode ser comprovado, por exemplo, quando o motorista é obrigado a pagar o IPVA e o pedágio, e ainda assim ele não recebe um serviço de qualidade, porque quando um ônibus pega fogo dentro de um túnel, numa via expressa, nem a concessionária que administra a via, nem a prefeitura tem um plano de emergência que evite o desconforto do motorista consumidor-contribuinte.
     Nas barcas da Praça XV, apesar de constantes eventos de avaria nas embarcações, a Agência Reguladora do setor autorizou aumento na tarifa, e pasmem, o governo ainda vai custear uma parte do acréscimo. Nos trens urbanos, a mesma aberração, com o governo do estado incumbido de comprar as composições.
      Eu não queria acreditar na incompetência da administração pública nos serviços dispensados à população. Prefiro considerar uma tendência que já se verificava, no século passado, de encolhimento do Estado, mas que permitiria investimentos mais consistentes em outras áreas estratégicas e prioritárias, como saúde, educação, segurança e emprego.
      Se pelo menos na nossa realidade, a onda de privatizações não trouxe os resultados que se esperava, há que se rever esse esdrúxulo modelo de administração dos serviços públicos, principalmente na área de transporte, em que o usuário é o mais prejudicado. Em qualquer área de atuação do governo, a parceria público-privado só será saudável quando o maior beneficiário for a população.
      O que não pode é esse paternalismo se alongar por todo esse tempo, sem atender às necessidades do cidadão que vota, paga imposto e ainda tolera as incongruências dos agentes públicos.