sábado, 30 de janeiro de 2021

A DOCE ZOAÇÃO

 

  Foi uma semana bem doce, considerando o assunto que norteou as conversas e, claro, as discussões, porque isso já é praxe, principalmente nas redes sociais, por onde não faltaram postagens, memes, enfim, toda sorte de publicação com o malfadado leite condensado como pano de fundo.
   Misturado ao maçarico que já está apontado para o Rio há mais de uma semana, antigamente até se colocava ovo no asfalto pra medir a temperatura ambiente, mas como o ovo também está os olhos da cara, a gente segue tendências e coloca uma xícara e meia de leite condensado na pista que fica tipo cocada.
  Pois é, e baseado nisso dá pra ter uma noção de como foi acalorado o bate-boca com a descoberta de que o governo gastou uma fortuna com a guloseima. É impressionante como as pessoas perdem tempo com futilidades. Em uma semana dava pra fazer coisas muito mais produtivas do que alimentar discussões em torno de algo que não traz resultado promissor algum.
   Essa pandemia até tem provocado essas mudanças de como utilizar melhor nosso precioso tempo, de se reinventar cada um em sua agenda pessoal, mas parece que neguim gosta de fragilizar sua própria capacidade e inteligência. O cenário político até permite discussões, mas no sentido de encontrar soluções, não de complicar ainda mais o processo, como insistem essa massa acalorada.
   Se tem alguém que pode tirar proveito de tudo isso, as empresas que agradecem a moral pela propaganda compulsória e gratuita com vários rótulos do produto estampados nos feeds de notícias, até nos Storys o leite condensado ficou badalado, tamanha a dimensão que a publicidade alcançou. Até o presidente botou uma latinha em cima da mesa em sua coletiva particular e exibiu como um troféu, numa clara demonstração de zoação, que ninguém é de ferro. Mais uma semana de veiculação tá arriscado a cotação dessas empresas darem um salto no mercado de ações, com o Mark Zuckerberg de repente até aventando a possibilidade de uma participação nesse negócio por motivos óbvios, né.
   A própria imprensa em todo o seu conglomerado, sempre concentrada nos desdobramentos da pandemia, ficou mais à vontade, com mais espaço para a Covid- 19, nem precisou de se ocupar dos gastos do governo, pois o Portal da Transparência tratou de replicar o assunto, já apostando que houvesse mesmo toda essa falação muito mais alardeada que as hashtags da vida. E assim assuntos banais vão ganhando importância e tomando uma dimensão sem sentido algum.
   Agora, para efeito de transparência há um desvio de atribuições, em que a realidade das coisas fica oculta automaticamente, como se quisesse de fato escamotear o que não rola, porque nesse ambiente é o escárnio que define o melhor cenário, e com isso fica parecendo que o único pecado do Bolsonaro foi gastar uma fortuna pra adoçar a boca de sua tropa.
   Em vez de o presidente esbravejar contra a imprensa pela explanação do caso, ele deveria era comemorar que, sem querer desviaram a atenção dos verdadeiros problemas do país. No lugar de mandar geral pra pqp, Bolsonaro poderia agradecer pela moral de rotularem apenas essa babaquice como o único infortúnio de sua gestão. Por um momento ficou a impressão que o país está às mil maravilhas, e que toda essa algazarra é só pra descontrair.
   A gente sabe que a zueira é um modus vivendis dos brasileiros. Só não podemos é aceitar que isso se transforme numa cortina de fumaça, ainda mais para o presidente Bolsonaro que inverteu todos os prognósticos a seu favor, inclusive sobre esse velho expediente de gastança desenfreada como marca da velha república que o próprio Bolsonaro também contribui pra repaginar.
   Enfim, o Bolsonaro está longe de adoçar a boca dos brasileiros. Se ele falou alguma coisa nesse sentido, sei lá, de repente o presidente estava de zoação.
  
 
 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

O AVARENTO

 

   Todo governo tem um fantasma em seus quadros, aquela figura que assombra as pessoas como expediente normal, tudo dentro de suas prerrogativas legais, como bem alegam, porque tá sempre dentro de um pacote de medidas previamente divulgado e tal.
   Se em gestões passadas o fantasma tinha outras roupagens ou se valia de outros expedientes, o Paulo Guedes tem a pandemia como aliada pra disfarçar suas aparições. Por sorte dele os holofotes estão apontados para o coronavírus e desviando a atenção para a agenda econômica bem perversa para os dias atuais.
     Já tivemos num governo anterior um fantasma na figura da inflação, e mesmo que esta volte a ser um terror na vida dos brasileiros novamente, ninguém tira o pioneirismo do Sarney naquela década perdida. Até porque, aquele descalabro econômico de antigamente não se encaixaria nesse esforço de sobrevivência que o atual governo vem implementando em meio à pandemia, mesmo levando em conta a carestia já  despontando no horizonte.
   De qualquer forma, tá muito cedo pra fazer comparações,  porque há sempre a crença de que o Centrão tem outros planos para o Brasil, e independente de quem presidir a Câmara dos Deputados, pode ser que haja uma minirreforma ministerial bem aos moldes do legislativo.
   Enquanto isso, segue o Paulo Guedes, o avarento da situação. Há quem diga que ele é tipo aquele diabinho sobre o ombro do presidente, importunando pra que não gaste de imediato, ou pelo menos deixe o preço da vacina baixar no mercado, e só deixe pra desenrolar com os chineses depois que todo mundo tomar a segunda dose, tipo ir à feira só depois de uma da tarde. É melhor ser tachado de xepeiro que comprometer as reservas internacionais.
   Diante disso a gente pode até sustentar a tese de que a avareza do Paulo Guedes, se for isso mesmo, pode remexer ainda mais negativamente nos números da doença, pois, ainda tem a segunda dose que precisa ser ministrada dentro de um prazo adequado depois da primeira.
   Então, se for ele mesmo, o diabólico Guedes que vive espezinhando a vida do Bolsonaro pra protelar a compra de vacina, pode também tá  empatando o Bolsonaro de retomar o pagamento do auxílio  emergencial. Por mais que falte experiência administrativa ao presidente, é fácil constatar a necessidade daquele cascalho do governo na vida das pessoas novamente, ainda mais agora com essa política  econômica que arrocha o bolso da população em plena crise sanitária.
    Pense em quantas pessoas voltarão com sua vidinha simples, mas com sua dignidade intacta,  aquela velha resenha na laje, o churrasco agora com mais linguiça e asa que carne, né, mas, tudo bem, todo mundo sossegando o facho em casa, melhor que aquela aglomeração nas praias.
   Portanto, é esse quadro de bem estar da população  com todos vacinados e com poder aquisitivo razoavelmente aceitável que vai permitir a retomada da agenda das pessoas, da vida brasileira, enfim.
  
  

sábado, 23 de janeiro de 2021

TUDO PELA VACINA

 
   Tem tudo pra dar certo o processo de vacinação no Brasil, ao contrário de uma parcela que não acredita na eficácia de nenhuma delas, ainda mais agora que os xenófobos de plantão descobriram que todas as vacinas têm seus insumos made in China, numa implicância sem precedentes e desnecessária ao país oriental, pois, daqui pra frente qualquer coisa que for feita terá o dedo ou a marca da China, não tem jeito. Se for pra retaliar tudo que vem de lá é melhor já ir se isolando do mundo, porque a tecnologia empregada nessa conexão toda é dos caras. Quem dera se a gente pudesse gritar aos quatro cantos que o 5G é nosso.
   De qualquer forma, é animador saber que essa gente que tá resistindo a tomar vacina vai sem querer contribuir para o sucesso do programa, pois o Pazuello mesmo sabendo desse negacionismo em grandes proporções vai encomendar os imunizantes para toda a população. Daí que a parte que sobrar vai justamente ser usada na segunda dose, olha que bacana! De repente, a estratégia do ministro era mesmo apostar nesse pouco caso de parte da população com a vacina e garantir o sucesso da imunização. Eu fico até pensando que a propaganda negativa do Bolsonaro é proposital nesse sentido. E você aí criticando a logística do general.
   Agora, se esse pessoal que tá relutando resolver recuar, voltar atrás, não será novidade alguma. Afinal de contas, não tem como sustentar por muito tempo esse argumento vazio contra as coisas da China, no momento em que essas mesmas vacinas ignoradas por essa gente estão sendo comercializadas e usadas normalmente por outros países, onde dispensa-se um tratamento diferenciado e mais valorizado ao meio científico, bastante recursos para pesquisas, de modo que a opinião pública até faz pressão pelo imunizante e tal.
   Aqui no Brasil é diferente, as pessoas entram na pilha à toa, ainda mais agora com a velocidade das redes sociais e neguim usando mentira como meio de sobrevivência em questões de grande seriedade e propagando sem limites falsas verdades sobre assuntos de interesse da coletividade.
    Portanto, vamos tomar a vacina, seja qual for a origem, afinal, todas elas virão com a bula traduzida para o mandarim também. O povo brasileiro mesmo, já acostumado a tomar vacina desde criança, depois cresce toma chá pra tudo que é desarranjo, piolho, abortivo, frieira, sem botar um pé sequer no ambulatório, fica ai compartilhando mimimi sem sentido algum, ajudando a politizar questão de ordem social e humanitária.
   Na moral, eu acho que no final todo mundo vai se vacinar naquele ambiente festivo que é bem próprio do povo brasileiro, selfie, boomerang, story, live, enfim, essas coisas que viralizam mais até do que o próprio coronavírus. Se tiver uma meia dúzia de gato pingado que vai resistir até o final, nada que possa neutralizar os efeitos de um santo remédio a essa altura do campeonato e da agonia das pessoas.
   Pelo menos a propaganda até agora, só nos palanques já montados para disputar o pioneirismo da cura. Por enquanto não tem nada dizendo que a persistirem os sintomas o médico ou a rezadeira devem ser procurados.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

VERÃO

   Quando rola esse calorão é que a gente percebe que a natureza, não só é perfeita como esperta também. De repente nessas voltas que o mundo dá, em meio a essas oscilações de marés, dos ventos, regime de chuva ou de outras manifestações  a natureza não permite que a tecnologia minimize a ação dessa fornalha na vida das pessoas.
   A natureza já entendeu que qualquer tecnologia que o homem invente é um ensaio de manipulação sobre tudo ao seu redor, inclusive a própria natureza. Para ela, guarda-sol, ar-condicionado e ventilador são armas de guerras, ainda que com o calibre diferente das motosserras e dos machados, tudo bem.  Mas, diante dessa artilharia a natureza  como demonstração de força  usa o sol para perturbar o juízo dos homens, uma espécie de revanchismo, aproveitando que neguim tem adoração pelo sol, tanto que já reconheceram essa supremacia, essa autoridade desde o tempo em que outros povos se declaravam  súditos do rei-sol.   Então, na surdina, discretamente a natureza vai derretendo o cérebro dos grandes gênios para que estes não tragam mais conforto para nós mortais. Alguns até conseguiram fugir desse cerco da natureza, como aquele que tornou tudo meio que relativo, mas nada que tirasse a dedicação da natureza, que como uma boa mãe deseja sempre que seus filhos se esbaldem com o suor escorrendo pelas têmporas, fora aquele mau humor que elimina qualquer possibilidade de ternura ao sabor desse maçarico, as pessoas começam a perder a paciência à toa, num claro sinal de que a natureza  tá ganhando a parada e fazendo prevalecer sua força já conhecida, mas desprezada por essa gente  que degrada a natureza sistematicamente. 
  Portanto, não tem jeito, o aquecimento global tá aí pra mostrar que a natureza tem caixa pra continuar sua empreitada.  Então,  relaxe e faça de conta que seu calor humano é que vem aumentando nesses últimos tempos.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

VIVA A CIÊNCIA

   Não deixa de ser marcante e especial o primeiro dia de vacinação depois de um longo tempo de espera e agonia. Na medida em que os números da Covid- 19 subiam a níveis alarmantes aumentava também a expectativa pela vacina, a primeira que chegasse.
   A emoção que era visível no rosto das pessoas que se vacinavam faz sentido por tudo que o pessoal da área da saúde passou nesses últimos tempo vendo de perto a agonia de infectados, tendo que se dividir entre salvar a vida alheia e preservar a sua também.
   Agora é esperar a vez de cada grupo se imunizar e a vida de todo mundo voltar ao normal, mas antes um balanço de tudo que ocorreu em torno da pandemia, principalmente a atenção à ciência no Brasil.
   Se antes, em gestões anteriores havia um tratamento diferenciado às áreas de pesquisas, e mesmo assim os recursos destinados ao setor eram considerados parcos pela urgência de grandes projetos na área científica, agora, com o atual governo praticamente desprezando a importância da comunidade científica, como ficou provado nessa pandemia, certamente há que se fortalecer o movimento em prol das ciências, mais investimentos em quaisquer setores onde pesquisas importantes para o desenvolvimento do Brasil se fazem presente.
   Não pode uma nação como o Brasil, com órgãos de pesquisas conceituados e bem estruturados, hesitar em buscar soluções para os problemas que afligem toda a população. Não pode o governo federal dar um viés político a questões que necessitam única e exclusivamente da interferência de especialistas da área. O conhecimento não pode ser deixado de lado, e a administração mexendo na cúpula de órgãos públicos e colocando gente com perfil completamente  oposto às funções  a se desempenhar. Enfim, não é viável critério político em funções que demandam conhecimento, como é o caso do Ministério da Saúde e da Anvisa, órgãos dos mais importantes durante a pandemia para a condução de uma agenda favorável à população, não à conveniência do gestor público.
   A sociedade brasileira já está acostumada a se vacinar e sempre acreditou na comunidade científica do nosso país, ainda mais que administrações anteriores sempre obedeceram a autonomia dos principais órgãos de pesquisa do Brasil, principalmente a Fiocruz e o Instituto Butantã, pela seriedade em outros programas de vacinação que sempre trouxeram resultados positivos no combate à todas as enfermidades enfrentadas pelos brasileiros.
   Apesar de todas as dificuldades e obstáculos que o próprio governo federal criou até a chegada da vacina, fica a lição da importância da ciência para todos os brasileiros, muitos agora cientes de que projetos de natureza científica vêm de recursos públicos. O próprio envolvimento das pessoas nas redes sociais criou essa noção, essa consciência do quanto são necessários  a atenção e os investimentos ao setor científico no Brasil.
  

domingo, 17 de janeiro de 2021

MUITO ALÉM DO OXIGÊNIO

 Aquela imagem do homem transportando às pressas um cilindro de oxigênio para salvar um parente internado dá a dimensão da calamidade que atinge o Brasil nesses tempos de pandemia. A gente fala de calamidade apenas para ilustrar a penúria que não deveria existir. É claro que há outros fatores que completam esse quadro medonho, em que a expectativa de vida das pessoas é quase nula.
   É triste ver o Brasil com todas as suas instituições e órgãos públicos aparelhados, mas completamente inertes nas mãos dos homens públicos, que parece terem perdido a noção do princípio da coletividade, do conjunto que faz tudo isso funcionar, as cidades, os estados e o país.
   Ao mesmo tempo em o cidadão comum ignora as regras de convivência em sociedade, quando há a necessidade e a responsabilidade dos cuidados básicos para combater a doença, o próprio poder público também age de acordo com a conveniência dos mandatários, cada um na sua esfera de debilidade política.
   Esse caso triste em Manaus é um assunto de ordem nacional, em que deveria reunir todos para uma única solução: salvar vidas. Era para estar o presidente, o governador e o prefeito local juntos numa agenda de gerência de crise, como bem propõem e sugerem as prerrogativa de cada um deles em seus cargos. Isso é o mínimo que poderia rolar dentro de uma questão humanitária. É o mínimo se eles estivessem de fato preocupados com a população, apenas tentam transparecer isso, mas sem, no entanto, agir de acordo. O que se vê é cada um querendo tirar proveito da situação, como nas outras tragédias pelo país afora, em que vidas humanas se perderam, nada foi resolvido, mas mesmo assim teve gente lucrando com a situação de uma forma ou de outra. Veja os casos de Brumadinho, Mariana, região serrana com as chuvas fortes, estão até hoje esperando por soluções, mas pode procurar que alguém tirou proveito da tragédia.
   Nesse quadro da pandemia é a mesma coisa. O presidente Jair Bolsonaro fica ai nessa disputa política com o João Dória, e não sossega enquanto não for dele o pioneirismo da vacina contra a Covid- 19. Ele como mandatário do país tinha de estar lá no front, nos escombros, vendo a situação dos estados, colocando toda infraestrutura da União para auxiliar os governos estaduais. É assim que um líder político se comporta, não batendo boca com adversários políticos, atacando a imprensa e o aparelho jurídico a todo instante, num expediente bem distante de suas reais responsabilidades que seu cargo confere.
 Pode ser que agora com a aprovação das primeiras vacinas pela Anvisa o governo se comporte como o gestor público eficiente, mas sem comemorar, porque, seguindo as atribuições do governo federal para solucionar o problema, não faz mais que obrigação a atuação correta e visando à saúde da população.
   Em nome do individualismo, seja do homem público ou do cidadão comum, nunca se viu de forma tão intensa no Brasil a politização de uma questão social e humana. Vê-se agora o desprezo pela vida das pessoas numa dimensão maior. Desde o sujeito que ignora sua própria proteção e se aglomera sem culpa alguma; as prefeituras que flexibilizam a rotina da cidade por força de interesses comerciais; aos políticos sem escrúpulos que querem se eternizar no poder, tudo contribui para desconstruir o caráter coletivo dos grandes problemas nacionais, tudo isso deixa o cidadão de bem entregue à própria sorte, como o brasileiro lá em Manaus levando o oxigênio para o seu parente.
    Já houve a crença de que estaríamos evoluindo a cada desafio lançado em nossa realidade. A experiência de tanta resistência e luta desenharia o melhor conjunto da sociedade brasileira. A maturidade que a gente parecia alcançar nos faria um povo à frente do nosso tempo. Mas, infelizmente as pessoas, independente de seu papel social, instituíram de vez o velho expediente de puxar a brasa pra sua própria sardinha.
   A essa altura do campeonato, a vacina que vai chegar só vai amenizar a dor do momento, pois a sociedade vai continuar doente de outros males. Porque,  pelo menos para o individualismo não há nenhum remédio para combatê-lo, por enquanto.
 

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

CHILIQUE NO CAPITÓLIO

   Já deu tempo de todas as pessoas do mundo observarem as mudanças que se verificam em qualquer ambiente de atuação humana. As democracias pelo mundo afora dão o tom exato das movimentações de pessoas e grupos, das configurações de densidade demográfica e as representações que ilustram um cenário cada vez mais multifacetado.
   Lembrando que não há democracia prefeita, porque as que existem funcionam sob suspeição pelos vícios que fazem parte de sua agenda. Mas é certo e ninguém pode negar que é a democracia que permite a liberdade no plano coletivo e individual. É a democracia que sugere a melhor conexão possível entre as partes.
    Quando vemos o Congresso americano sendo invadido por grupos inconformados com o resultado das eleições, causa surpresa que seja justamente nos Estados Unidos, a nação que mais recebe imigrantes no mundo todo, a nação que tem o mapa demográfico mais colorido do planeta desde a sua independência em 1776.
   Agora, o recado serve para qualquer país. Se antes havia a supremacia da elite branca na agenda socioeconômica de todos os países que abrem suas fronteiras para o mundo, é inútil negar as mudanças que já operam há muito tempo. Se num passado distante havia a prevalência da elite branca na maioria das decisões de toda ordem, é bom que se acostumem com a participação cada vez mais efetiva de novos grupos com assento firmado nos legislativos, nos fóruns, nas mesas de debates, nos tribunais, nas grandes empresas e, principalmente, no centro do poder.
   Diante desse novo cenário, não adianta mais ignorar a representatividade das minorias pelo mundo. Não adianta mais se espernear porque outras tribos conquistaram seus espaços, que isso já é uma tendência no mundo.
   É claro que toda aquela confusão que os apoiadores do Trump fizeram no Capitólio não vai mudar o resultado das eleições lá, até porque os congressistas já até ratificaram a vitória de Joe Biden, mas a violência empregada na ação dá o tom do inconformismo da elite branca com um governo que já anunciou dar voz a outros segmentos da sociedade americana, como negros, mulheres e a população latina daquele país, todos já devidamente representados na composição do novo governo, segundo o próprio relato e discurso de Biden.
   Enfim, é melhor que esses supremacistas, tanto os americanos como os de outros quadrantes do planeta, se acostumem com essa nova configuração demográfica, essa nova distribuição de fazeres, de oportunidades e atribuições dentro de um mesmo espaço.
   Nunca é demais lembrar que o Brasil também vive esse clima de insurgência contra negros, mulheres, além de ensaios de ruptura institucional por força única e exclusivamente de intolerância, de não aceitação  de um novo panorama, de um novo horizonte, no momento em que esses grupos antes excluídos do convívio social e político, agora participam mais ativamente de toda a agenda da realidade brasileira.
   Se a democracia americana já não é mais o modelo ideal a ser seguido, isso é outra história. Já, aquela balbúrdia que rolou lá no Capitólio serve de alerta para novas ações de combate à intolerância de qualquer natureza, assim como uma reflexão profunda sobre um mundo cada vez mais heterogêneo, e sem chilique, por favor.