quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

O RÓTULO DA CIÊNCIA



   A maioria das discussões, brigas, fim de amizades, xingamentos, stress e demais contratempos em torno da pandemia surgiram, quer dizer...ainda surgem do material divulgado pela imprensa como um todo.
     Mas nas redes sociais, onde rola a maior parte de toda essa contenda o assunto ganha outra dimensão, no momento em que se desvia do campo onde poderia ser mais saudável discutir qualquer coisa.
    É compreensível que a ciência também divida opinião, assim como é natural que haja interesse em torno dela, pois a ciência sempre foi um grande filão, mesmo no tempo em que ela demorava pra encontrar grandes soluções e resultados práticos. Não poderia ser mesmo diferente agora que ela também usa tecnologia de ponta para acelerar sua linha de produção. Ou alguém achava que as vacinas que estão saindo do forno agora durariam mais ou menos 40 anos para ficarem prontas?
    Melhor ainda que se reforce o entendimento de que a ciência também é patrocinada, estimulada e induzida, tanto a atender demanda como a interesse de quem colabora com ela. É a parte em que a ciência está ligada à indústria farmacêutica, por exemplo.
     Eu fico observando essas pessoas questionando os interesses dos fabricantes de vacinas em paralelo às campanhas de vacinação como se isso fosse diferente da velha tese de que a ciência cria uma ideia e uma grande corporação compra pra revender. A grande descoberta de Alexander Fleming, em 1928, ilustra bem essa relação. Vender antibiótico deixou os caras podres de ricos até hoje, assim como esse monte de imunizantes comercializado em larga desde o século passado.
     No caso da Covid-19, a mesma coisa, o mesmo processo, independente dessa especulação sobre a origem da bactéria, a culpa imputada ao chinês, a forma com o vírus se espalhou, enfim, tem uma doença afligindo o mundo e o remédio é a vacina, não tem jeito.
    Então, é besteira falar de ganância ou outras coisas do gênero com relação às farmacêuticas. Não é o lucro o princípio básico do capitalismo? Pois é, eu nunca ouvir falar que a indústria farmacêutica trabalhasse em regime de filantropia desde a sua origem.
    Poderia ser uma fármaco brasileira que estivesse por aí vendendo imunizante pra geral. Imagine o quão importante seria para a nossa autoestima, nossa soberania e, principalmente, para a nossa economia tirar essa onda em nível global.
    Ainda que não tenhamos uma empresa brasileira inserida nesse globalismo da qual a ciência faz parte, o mais importante e urgente agora é imunizar as pessoas, seja qual for o rótulo e a embalagem da vacina.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

RIO DE FILME ANTIGO



    Quando a gente lembra do Rio de Janeiro lá no passado, quando havia a expectativa de a nossa cidade maravilhosa se transformar verdadeiramente numa grande metrópole, não demorou muito para toda a população se frustrar com uma série de projetos que cada gestão ia apresentando como forma de colocar o Rio de Janeiro em alto nível em todos os seus aspectos.
    De todos as tentativas para operar as mudanças necessárias, o mais importante era justamente tornar a cidade atraente para as pessoas que aqui vivem, aqueles que convivem no seu cotidiano com os serviços precários e, claro, com as promessas de sempre.
   O máximo que conseguiram ao longo desses tempos foi maquiar a cidade, encher os olhos dos visitantes, uma espécie de retoque no nosso cartão-postal, porque sempre foi economicamente interessante receber os forasteiros pra assistir queima de fogos no réveillon, brincar o Carnaval, Rock in Rio, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e outras resenhas.
     Em todos esses eventos aqui no Rio, sempre dão um jeito de o Metrô, trens, ônibus, barcas funcionarem legal, um monte de policiais nas ruas, até os garis aparecem com os uniformes engomados, ninguém reclama de nada, somos aquela cidade acolhedora de sempre.
    No campo político esse cenário acabou virando um mote de campanha, no momento em que funcionou para os nativos a mesma narrativa que antes era dirigida apenas aos visitantes, ou seja, fazer parecer que a cidade se tornaria funcional de fato pra nós que respiramos o ar do Rio todos os dias.
     A gente fica enumerando esses fatos de tempo em tempo sabendo que é uma velha ladainha, muita gente vai falar isso, mas é preciso mostrar que não há novidade alguma toda vez que ensaiam uma mudança qualquer.
    Agora, vem mais uma vez o governo do estado, desta vez na figura do governador Cláudio Castro, apresentar uma política de segurança de ocupação de comunidades na cidade do Rio, começando pelo Jacarezinho, com o objetivo de levar demais serviços pra essas localidades.
    Ainda que não fosse em ano de eleição, a suspeição do projeto já seria evidente, pois não houve nada que pudesse ser aproveitado nas Unidades de Polícia Pacificadora que ganhasse uma nova roupagem, agora batizado de “Cidade Integrada” e a garantia de segurança que o projeto sugere.
    Se o governador promete que a reboque das ocupações por tropas de segurança nas comunidades vem a extensão de uma ampla política pública com demais benefícios, é bom que se esclareça os outros itens do pacote, porque aquele velho expediente de a Polícia Militar encher o ônibus da corporação com a molecada da favela e levar para o parque, sítio e cinema não remexe em número algum das estatísticas sociais da região.
    A presença do aparelho militar é essencial, claro, mas no caráter de braço armado do estado, para garantir a segurança dos moradores e dos serviços implementados nas localidades, como creches, postos de saúde, escolas e demais ambientes nas áreas de cultura, esporte e lazer.
  As forças de segurança vão efetivamente respaldar o funcionamento desses outros segmentos, porque não rola mais a escola deixar de funcionar porque tem tiroteio na favela, ou pior, um aluno ser atingido no pátio da unidade em meio ao fogo cruzado.
   E nos serviços que não são da competência do estado, que haja uma conexão e um entendimento saudável entre as outras esferas de governo, municipal e federal, para que o pacote como um todos traga os resultados esperados.
   Já é esperado que esse novo(?) projeto suba o palanque do governador na campanha que vai começar. O mais importante agora é que ele tenha continuidade e seja funcional, pra não parecer aquele velho filme antigo que o Rio de Janeiro já está cansado de reprisar.


segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

BAJULANDO A CIÊNCIA

 
   Diferentemente de uma grande parcela que foi por livre vontade, eu corri pra fazer o teste da covid por necessidade. Eu já vinha pensando nessa possibilidade, mas um forte resfriado junto com um terrível mal estar acabou precipitando o expediente.
    Passado um tempo de recolhimento, o mais desagradável foi mesmo o cotonete gigante introduzido na marra, que só não deve ter atordoado o vírus, mas, sinistro aquele procedimento adotado assim de forma compulsória. Dá pra quase perder os sentidos.
    Uma agonia que se confunde com a própria expectativa de estar contaminado. Menos mal que as vacinas já tomadas tenham impedido a evolução do vírus, mas o que virá pela frente nesse tempo de quarentena? Como reagirá o organismo com essa mudança na agenda, alterar alimentação e hábitos enquanto o vírus ainda tenta sobreviver? Como estará o emocional com todo esse cenário de incerteza?
    Certamente vai haver um desdobramento diferente para cada um que teve esse destino, porque a máquina que cada um temos funciona num compasso diferente, uma engrenagem com status específico de funcionamento.
     A ciência trabalha com essa realidade também. Ainda que cumpra com excelência todos as etapas que cercam o processo de investigação científica, há uma margem de erro, sim, como sempre existe margem de erro em nossas ações e comportamento.
     A gente fica confinado lembrando dessas coisas e se aprofunda em altos questionamentos e investigação particular com efeito de toda reflexão que a ocasião sugere, e acaba bajulando a ciência que ela merece.
     Parece que os rumos da humanidade estão cada vez mais ligados ao tratamento que vai sendo dispensado à ciência. Não falo só de novas tecnologias que ditam moda, soluções práticas e revelam poderes pelo mundo inteiro, mas da ciência voltada exclusivamente para as demandas da humanidade em suas necessidades básicas, principalmente produção de vacinas.
     Até hoje ainda existe uma grande lacuna, quando lembramos que várias doenças continuam atingindo as pessoas ainda lá na sua origem, e que só ganharam uma dimensão global porque as pessoas se movimentam, e se a Organização Mundial de Saúde não fez o esforço que deveria, suas ações certamente pararam nos interesses de nações que tinham outras prioridades, mas isso é outro assunto.
    Aqui no Brasil, doenças do passado, como tuberculose e malária ainda matam, claro, num índice muito menor, resultado de campanhas anteriores, mas a imunização continua, senão seria pior. Esse cenário dá com muita clareza a dimensão de como a ciência vai precisar de mais atenção do que nunca, considerando mais e mais enfermidades que chegam pra ficar, aumentando, automaticamente, os esforços nesse sentido.
    Não acho que essa politização da questão da saúde vai durar muito tempo, é uma tempestade passageira. Prefiro acreditar que o maior obstáculo será a velha questão do orçamento, cujos recursos sempre foram bem aquém das demandas no setor. É um tanto de negação também esse pouco caso com a ciência.
    Agora que a gente já consegue produzir o princípio ativo dessa vacina contra a covid, que isso sirva de impulso para novas ações e claro, uma pressão maior de toda a comunidade científica sobre governantes de todas as esferas e parlamentares alinhados à causa da ciência.
    Tão importante quanto à questão social é a soberania do Brasil que se firma quando a nossa ciência anda com suas próprias pernas. Quando a gente passa a bajular mais a ciência, em vez de negá-la.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

A IMPORTÂNCIA DA GEOLOGIA


  Toda vez que a natureza se manifesta a gente fica sempre esperando que haja novos ares também na forma como as pessoas veem tudo que se move ao seu redor.
    Seria a melhor expectativa para um novo cenário que envolva a terra, a água e o ar, porque a forma como ficam constantemente investigando os desastres naturais e seus efeitos na vida das pessoas já beira a estupidez de tanto que repetem esse expediente.
    Já passou da hora de a sociedade brasileira aprender de fato a conviver com os recursos naturais que compõem o nosso ambiente. O tal planejamento que todo mundo apregoa fica cada vez mais difícil de se por em prática por questões das mais variadas, porque há sempre um interesse por trás de algo que pode ou não ser mudado.
 Além da legislação ambiental que é sistematicamente desrespeitada por força de corrupção, má-gestão e má vontade, ainda tem a questão do conhecimento que fica restrito a um grupo limitado. As pessoas em geral não tem noção de como se dão os fenômenos naturais.
  Os especialistas em geral, cientistas e pesquisadores, além dos alertas de sempre para o poder público, com dados, soluções, projetos, estudos, ainda reivindicam a educação ambiental nas grades escolares.
     A geologia parece um ser estranho para a maioria das pessoas, enquanto que em outras praças é uma ciência fundamental para a formação do indivíduo. No Brasil se estuda geologia em ambiente acadêmico. Em países desenvolvidos essa especialidade é estudada logo após a educação básica. As crianças já começam desde cedo a conhecer todos os movimentos naturais do planeta.
    Aquela trágica imagem do paredão de pedra caindo em cima dos barcos expõe exatamente essa lacuna. Não havia nenhuma informação sobre os riscos daquele turismo ecológico, coisa que é levado a sério em outras paisagens. E aquelas pessoas que morreram foram vítimas do poder público em todos os sentidos: a falta de planejamento na gestão dos recursos naturais; e a ausência de políticas públicas que englobam justamente a difusão do conhecimento. Seria um mecanismo eficaz para evitar essas tragédias em nosso calendário.
    Tá certo que há uma legislação em vigor que define competências, responsabilidades, prerrogativas e eventuais punições em casos de descumprimento, mas como sempre acontece no Brasil, ninguém será punido naquele episódio, que não foi o primeiro nem será o ultimo.
     De qualquer forma, por mais geologia nos bancos escolares e na vida das pessoas.


domingo, 9 de janeiro de 2022

A VACINA É NOSSA

 

  Começar o ano com a expectativa de um grande período em nossas vidas é um propósito que deve ter habitado a mente de todos os brasileiros em mais um ano que se inicia.
     Se houver um projeto que possa efetivamente contemplar o maior número de pessoas é mais um motivo de comemoração e, claro, um impulso para prosseguir em mais e mais projetos de interesse público.
     Com a aprovação pela Anvisa do uso do insumo farmacêutico ativo fabricado pela Fundação Oswaldo Cruz a sociedade brasileira já pode comemorar o que sempre foi uma constatação: a capacidade da ciência brasileira de fazer o Brasil autossuficiente na fabricação de vacinas através de matéria-prima essencialmente nacional.
    É uma notícia tão importante para o Brasil que deveria estar estampada em destaque nas principais manchetes de jornais, telejornais, rádios, sites de notícias e redes sociais. É um fato tão marcante para os brasileiros que certamente quebraria toda essa polarização em assuntos de vários matizes hoje em dia, porque é a vitória da ciência do Brasil em prol de toda a sociedade.
    Com todo o suporte científico que o Brasil construiu através de seus principais órgãos de pesquisas, o próprio Programa Nacional de Vacinação no Brasil atingiu um nível de excelência que sugeria num tempo qualquer, ainda que tardiamente, a independência em seu produto final, a hegemonia depois de todo o esforço que ao longo de décadas e séculos a comunidade científica brasileira empreendeu, mesmo com parcos investimentos, sem a atenção adequada à urgência e demanda da pesquisa científica no Brasil com ênfase na saúde pública.
    Mesmo antes de a pandemia de covid-19 acelerar esse processo de independência na área de saúde, o Brasil já merecia atingir esse patamar por tudo que cientistas e pesquisadores sempre fizeram com esse objetivo.
    Em várias áreas do setor produtivo no Brasil, estamos sempre na expectativa da nossa independência porque temos essa competência, temos estrutura suficiente para não depender de ninguém, como já foi comprovado nas oportunidades que tivemos de sermos autossuficientes, por exemplo, em combustível, o PróAlcool, que colocaria o Brasil em outra posição nesta área; e no setor de tecnologia, em que aquele acidente na Base de Alcântara, em 2003, frustrou nossos planos de independência também.
     Se num passado recente perdemos a chance de confirmar nossa hegemonia, agora o Brasil se coloca em posição de destaque justamente numa área em que há mais necessidade ultimamente. Por toda a estrutura que o Brasil criou ao longo dos tempos com a agenda de vacinação e a experiência adquirida no combate às principais enfermidades, o povo brasileiro pode hoje comemorar essa grande conquista.
     Além dos efeitos positivos que esse grande feito da Fiocruz vai trazer para os futuros projetos e expedientes no programa de vacinação como um todo, o Brasil ainda se apresenta para o mundo como uma nação capaz de contribuir para a imunização em países onde os índices de vacinação ainda estão baixos, como bem frisou a presidente da instituição, Nísia Trindade.
     Enfim, um feito que confirma a Fundação Oswaldo Cruz como um grande patrimônio do Brasil. Uma vitória que enche de orgulho todos nós brasileiros.