quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

RIO DE FILME ANTIGO



    Quando a gente lembra do Rio de Janeiro lá no passado, quando havia a expectativa de a nossa cidade maravilhosa se transformar verdadeiramente numa grande metrópole, não demorou muito para toda a população se frustrar com uma série de projetos que cada gestão ia apresentando como forma de colocar o Rio de Janeiro em alto nível em todos os seus aspectos.
    De todos as tentativas para operar as mudanças necessárias, o mais importante era justamente tornar a cidade atraente para as pessoas que aqui vivem, aqueles que convivem no seu cotidiano com os serviços precários e, claro, com as promessas de sempre.
   O máximo que conseguiram ao longo desses tempos foi maquiar a cidade, encher os olhos dos visitantes, uma espécie de retoque no nosso cartão-postal, porque sempre foi economicamente interessante receber os forasteiros pra assistir queima de fogos no réveillon, brincar o Carnaval, Rock in Rio, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e outras resenhas.
     Em todos esses eventos aqui no Rio, sempre dão um jeito de o Metrô, trens, ônibus, barcas funcionarem legal, um monte de policiais nas ruas, até os garis aparecem com os uniformes engomados, ninguém reclama de nada, somos aquela cidade acolhedora de sempre.
    No campo político esse cenário acabou virando um mote de campanha, no momento em que funcionou para os nativos a mesma narrativa que antes era dirigida apenas aos visitantes, ou seja, fazer parecer que a cidade se tornaria funcional de fato pra nós que respiramos o ar do Rio todos os dias.
     A gente fica enumerando esses fatos de tempo em tempo sabendo que é uma velha ladainha, muita gente vai falar isso, mas é preciso mostrar que não há novidade alguma toda vez que ensaiam uma mudança qualquer.
    Agora, vem mais uma vez o governo do estado, desta vez na figura do governador Cláudio Castro, apresentar uma política de segurança de ocupação de comunidades na cidade do Rio, começando pelo Jacarezinho, com o objetivo de levar demais serviços pra essas localidades.
    Ainda que não fosse em ano de eleição, a suspeição do projeto já seria evidente, pois não houve nada que pudesse ser aproveitado nas Unidades de Polícia Pacificadora que ganhasse uma nova roupagem, agora batizado de “Cidade Integrada” e a garantia de segurança que o projeto sugere.
    Se o governador promete que a reboque das ocupações por tropas de segurança nas comunidades vem a extensão de uma ampla política pública com demais benefícios, é bom que se esclareça os outros itens do pacote, porque aquele velho expediente de a Polícia Militar encher o ônibus da corporação com a molecada da favela e levar para o parque, sítio e cinema não remexe em número algum das estatísticas sociais da região.
    A presença do aparelho militar é essencial, claro, mas no caráter de braço armado do estado, para garantir a segurança dos moradores e dos serviços implementados nas localidades, como creches, postos de saúde, escolas e demais ambientes nas áreas de cultura, esporte e lazer.
  As forças de segurança vão efetivamente respaldar o funcionamento desses outros segmentos, porque não rola mais a escola deixar de funcionar porque tem tiroteio na favela, ou pior, um aluno ser atingido no pátio da unidade em meio ao fogo cruzado.
   E nos serviços que não são da competência do estado, que haja uma conexão e um entendimento saudável entre as outras esferas de governo, municipal e federal, para que o pacote como um todos traga os resultados esperados.
   Já é esperado que esse novo(?) projeto suba o palanque do governador na campanha que vai começar. O mais importante agora é que ele tenha continuidade e seja funcional, pra não parecer aquele velho filme antigo que o Rio de Janeiro já está cansado de reprisar.


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