segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

BAJULANDO A CIÊNCIA

 
   Diferentemente de uma grande parcela que foi por livre vontade, eu corri pra fazer o teste da covid por necessidade. Eu já vinha pensando nessa possibilidade, mas um forte resfriado junto com um terrível mal estar acabou precipitando o expediente.
    Passado um tempo de recolhimento, o mais desagradável foi mesmo o cotonete gigante introduzido na marra, que só não deve ter atordoado o vírus, mas, sinistro aquele procedimento adotado assim de forma compulsória. Dá pra quase perder os sentidos.
    Uma agonia que se confunde com a própria expectativa de estar contaminado. Menos mal que as vacinas já tomadas tenham impedido a evolução do vírus, mas o que virá pela frente nesse tempo de quarentena? Como reagirá o organismo com essa mudança na agenda, alterar alimentação e hábitos enquanto o vírus ainda tenta sobreviver? Como estará o emocional com todo esse cenário de incerteza?
    Certamente vai haver um desdobramento diferente para cada um que teve esse destino, porque a máquina que cada um temos funciona num compasso diferente, uma engrenagem com status específico de funcionamento.
     A ciência trabalha com essa realidade também. Ainda que cumpra com excelência todos as etapas que cercam o processo de investigação científica, há uma margem de erro, sim, como sempre existe margem de erro em nossas ações e comportamento.
     A gente fica confinado lembrando dessas coisas e se aprofunda em altos questionamentos e investigação particular com efeito de toda reflexão que a ocasião sugere, e acaba bajulando a ciência que ela merece.
     Parece que os rumos da humanidade estão cada vez mais ligados ao tratamento que vai sendo dispensado à ciência. Não falo só de novas tecnologias que ditam moda, soluções práticas e revelam poderes pelo mundo inteiro, mas da ciência voltada exclusivamente para as demandas da humanidade em suas necessidades básicas, principalmente produção de vacinas.
     Até hoje ainda existe uma grande lacuna, quando lembramos que várias doenças continuam atingindo as pessoas ainda lá na sua origem, e que só ganharam uma dimensão global porque as pessoas se movimentam, e se a Organização Mundial de Saúde não fez o esforço que deveria, suas ações certamente pararam nos interesses de nações que tinham outras prioridades, mas isso é outro assunto.
    Aqui no Brasil, doenças do passado, como tuberculose e malária ainda matam, claro, num índice muito menor, resultado de campanhas anteriores, mas a imunização continua, senão seria pior. Esse cenário dá com muita clareza a dimensão de como a ciência vai precisar de mais atenção do que nunca, considerando mais e mais enfermidades que chegam pra ficar, aumentando, automaticamente, os esforços nesse sentido.
    Não acho que essa politização da questão da saúde vai durar muito tempo, é uma tempestade passageira. Prefiro acreditar que o maior obstáculo será a velha questão do orçamento, cujos recursos sempre foram bem aquém das demandas no setor. É um tanto de negação também esse pouco caso com a ciência.
    Agora que a gente já consegue produzir o princípio ativo dessa vacina contra a covid, que isso sirva de impulso para novas ações e claro, uma pressão maior de toda a comunidade científica sobre governantes de todas as esferas e parlamentares alinhados à causa da ciência.
    Tão importante quanto à questão social é a soberania do Brasil que se firma quando a nossa ciência anda com suas próprias pernas. Quando a gente passa a bajular mais a ciência, em vez de negá-la.

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