quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Rio com o pé na lama



  A prisão de Luiz Fernando Pezão é o último estágio de degradação do Estado do Rio de Janeiro. Não há mais nada que possa acontecer que configure um momento pior do que ver o próprio governador em pleno exercício do mandato preso por corrupção.
  Hoje, fazendo um balanço de todos os momentos de aflição da população fluminense como um todo, é fácil constatar que a precariedade dos principais serviços públicos oferecidos, a angústia de grande parte do funcionalismo do estado, a economia decadente e a falta de perspectiva de crescimento do estado é fruto única e exclusivamente do desvio desenfreado de dinheiro público, tanto na administração de Pezão quanto de seu antecessor Sérgio Cabral, já preso como artífice de toda essa engrenagem que pôs o estado do Rio nesse caos visível a todos.
   Quando vemos a máquina do estado praticamente parada por conta da roubalheira, é triste olhar no horizonte e não vislumbrar nenhuma perspectiva otimista, ainda mais sabendo que outros personagens da administração estadual estão envolvidos nessa sujeirada toda, deputados estaduais, alguns presos, conselheiros do Tribunal de Contas do Estado, além de um membro do Judiciário, um ex-procurador do estado.
   Apesar da desolação de ver o estado do Rio nessa penúria, é animador saber que a justiça vem dando a resposta que a sociedade espera, e a prisão do governador em pleno exercício, não só marca o ineditismo desse procedimento jurídico no combate à corrupção como também acende a esperança de que a corrupção que vem surrupiando dinheiro público há várias gestões pode ser combatida dentro dos preceitos legais em vigor, antes mesmo de qualquer reforma que torne cada vez mais excelente esse processo.
   Ao próximo governador, Wilson Witzel, cabe justamente essa missão, a responsabilidade de acenar com propostas no sentido de, se não erradicar de vez a corrupção, pelo mensos diminuir os efeitos dessa praga que desestabiliza completamente a agenda do estado em seu compromisso com a população fluminense.
  Até porque o governador eleito vai sentir na pele os efeitos dessa administração corrupta que marcou a passagem de Luiz Fernando Pezão à frente do governo estadual. Wilson Witzel vai precisar de uma verdadeira força-tarefa para colocar o estado do Rio de Janeiro no lugar onde sempre esteve em tempos anteriores.
   Diante de tantos problemas com os quais o futuro governador vai se deparar não tem como priorizar o mais urgente. Witzel vai ter de simplesmente conciliar todas as frentes em sua agenda.
   Seja na Segurança Pública, na Saúde, na Educação e em outras áreas que de uma certa forma foram afetadas pela falta de recursos comprovadamente desviados na administração de Pezão, a verdade é que o futuro governador terá o desafio de reconstruir uma agenda positiva para o estado do Rio de Janeiro com a transparência que faltou às gestões anteriores.
   Quanto ao Luiz Fernando Pezão, que ele pague pelos erros cometidos. Que ele sofra os rigores da lei. A sociedade até sabe que isso não vai trazer de volta as vidas que se foram pela corrupção que interrompeu investimentos em segurança e saúde, por exemplo, mas a justiça tem mecanismos suficientes frear o ímpeto desses ladrões do patrimônio público. Que a punição imposta a ele seja proporcional ao estrago causado no estado do Rio de Janeiro nesses últimos tempos.
    Nada mais justo para quem afundou o estado do Rio de Janeiro nesse lamaçal.  
   
      
   
                                                                                                                                     Foto: Rápido no ar

domingo, 18 de novembro de 2018

Saúde acima de tudo

Resultado de imagem para médicos cubanos
  
 Depois do resultado das eleições o normal é uma certa tranquilidade, ainda mais com toda aquela efervescência de rivalidades e discussões ao longo da campanha. Mas eis que durante a fase de transição iniciada, quando tudo começa a entrar nos eixos, um novo governo ganhando formato, justamente o presidente eleito, Jair Bolsonaro, aviva o fogaréu que já estava quase brando.
   Se a escolha dos integrantes do novo governo provocou as costumeiras discussões e especulações sobre um ou outro, a explanação de Bolsonaro sobre o fim do Programa Mais Médicos com a consequente saída dos médicos cubanos, além de realimentar o velho racha ideológico que norteou a disputa, ainda revelou o despreparo do presidente eleito com questão de alta relevância que é a saúde pública no Brasil.
   Já é praxe no Brasil que o novo governo não prossiga com alguns projetos da gestão anterior, e o período de transição acaba por mostrar as mudanças que virão, e as decisões tomadas são sempre calcadas em ideias e projetos prontos, pelo menos é assim que a sociedade espera que aconteça, mas o futuro presidente resolveu quebrar o protocolo ao disparar contra o programa que é uma das marcas do governo petista, que de uma forma ou outra atingiu o objetivo que se pretendia de fazer chegar ás regiões mais necessitadas atendimento de saúde básica à população.
  Mas parece que as consequências e efeitos na vida das pessoas com essa decisão ficaram em segundo plano no momento em que Jair Bolsonaro deu conotação ideológica, além do momento completamente inoportuno, provocando reações imediatas e as considerações sobre tão tresloucada decisão.
  Para começo de conversa, nem o titular da pasta da Saúde foi escolhido. Era ele quem deveria anunciar o fim do programa, já com um plano pré-estabelecido dentro de todos os critérios técnicos que cercam a questão, mas só depois com todos já empossados. 
   Com relação ao programa que será interrompido, segundo o presidente eleito, é totalmente irrelevante discorrer sobre a forma como Cuba conduz esse projeto dentro de seus domínios. A soberania daquele país permite a qualquer nação reconhecer a seriedade com que é tratada a questão da saúde na Ilha, bem diferente daqui, obviamente.
   Não interessa para nós brasileiros saber o destino que o governo cubano dá aos recursos pagos pelo Brasil. O importante é o resultado do projeto na área da saúde aqui no território brasileiro. E isso foi ignorado, tanto nessa discussão inútil nas redes sociais quanto por parte da imprensa em seu cotidiano.
   Agora, é esperar o futuro governo preencher mais que imediatamente as lacunas que certamente ficarão com a interrupção do Programa Mais Médico. O mínimo que Jair Bolsonaro já pode fazer é adiantar o nome do titular da pasta da Saúde para traçar novas diretrizes para o setor, principalmente nas áreas que serão afetadas pelo fim do programa. Porque, com essa debandada dos cubanos, até que as vagas sejam preenchidas muita gente pode ficar sem atendimento, o que é inadmissível para uma causa das mais importantes.
   Se o futuro presidente tratar a questão da saúde sem o viés ideológico com que poderá tratar outros assuntos certamente vai ver que a saúde dos brasileiros está acima tudo.
    

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Nossa paisagem interior

A imagem pode conter: árvore, céu, grama, planta, atividades ao ar livre e natureza
   Eu fiquei ali observando a fronteira entre dois mundos diferentes, mas tudo num espaço só, onde o contraste entre cores e vidas passa despercebido de muita gente nessa correria em que vivemos.
   Foi nesse instante em que os passarinhos murmuravam sua sinfonia que eu estiquei os olhos para o outro lado da grade, lá no fundo, onde tudo é barulhento e tão frenético que nem os ponteiros daquele velho relógio dão conta das horas que parecem voar mais rápido que as pessoas.
   Enquanto especulava sobre o desafio da convivência pacífica entre o passado e o futuro, a própria paisagem revelava a importância de tudo que encontramos por aqui e a responsabilidade de passarmos adiante o mesmo encantamento aos olhos que ainda vão nascer.
   Mas esse deslumbramento mudou de cenário rapidamente quando prossegui o passeio com meu filho, pois, logo lembrei que nosso mundo interior também é assim, com a mesma perspectiva, se confrontarmos com o universo que nos cerca, esse das pessoas ao nosso redor.
   Porque está na cara que nós também temos nossa natureza particular com aquele espaço enorme e verdejante. Alguém duvida que também temos atmosfera e oxigênio em nosso íntimo?
 Nossas bactérias são como aqueles passarinhos, cotias, marrecos, cisnes, gatos e pavões se movimentando de um lado para o outro numa convivência harmoniosa.
   É claro que nem tudo dentro de nós é verdinho assim. Vivemos de tormentas também. Temos nossos próprios tempos nebulosos, porque fazemos tempestade, nem que seja num copo d'água que ninguém é de ferro. Temos vento quando gritamos para o mundo e chuva toda vez que o choro é inevitável e desaba. Basta que as dores e injustiças do mundo alterem o humor e a respiração.
   Se os olhos são o espelho da alma, também são a janela para o mundo.  Se hoje eu retribuo ao meu pimpolho a satisfação que minha mãe me proporcionou é porque eu assimilei um pouco do que podemos oferecer.
  Se nossos mais nobres valores e sentimentos nos permitem pintar um belo cenário em nossas vidas, que sejamos sempre capazes de torná-las cada vez mais verdejantes.