quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

CHILIQUE NO CAPITÓLIO

   Já deu tempo de todas as pessoas do mundo observarem as mudanças que se verificam em qualquer ambiente de atuação humana. As democracias pelo mundo afora dão o tom exato das movimentações de pessoas e grupos, das configurações de densidade demográfica e as representações que ilustram um cenário cada vez mais multifacetado.
   Lembrando que não há democracia prefeita, porque as que existem funcionam sob suspeição pelos vícios que fazem parte de sua agenda. Mas é certo e ninguém pode negar que é a democracia que permite a liberdade no plano coletivo e individual. É a democracia que sugere a melhor conexão possível entre as partes.
    Quando vemos o Congresso americano sendo invadido por grupos inconformados com o resultado das eleições, causa surpresa que seja justamente nos Estados Unidos, a nação que mais recebe imigrantes no mundo todo, a nação que tem o mapa demográfico mais colorido do planeta desde a sua independência em 1776.
   Agora, o recado serve para qualquer país. Se antes havia a supremacia da elite branca na agenda socioeconômica de todos os países que abrem suas fronteiras para o mundo, é inútil negar as mudanças que já operam há muito tempo. Se num passado distante havia a prevalência da elite branca na maioria das decisões de toda ordem, é bom que se acostumem com a participação cada vez mais efetiva de novos grupos com assento firmado nos legislativos, nos fóruns, nas mesas de debates, nos tribunais, nas grandes empresas e, principalmente, no centro do poder.
   Diante desse novo cenário, não adianta mais ignorar a representatividade das minorias pelo mundo. Não adianta mais se espernear porque outras tribos conquistaram seus espaços, que isso já é uma tendência no mundo.
   É claro que toda aquela confusão que os apoiadores do Trump fizeram no Capitólio não vai mudar o resultado das eleições lá, até porque os congressistas já até ratificaram a vitória de Joe Biden, mas a violência empregada na ação dá o tom do inconformismo da elite branca com um governo que já anunciou dar voz a outros segmentos da sociedade americana, como negros, mulheres e a população latina daquele país, todos já devidamente representados na composição do novo governo, segundo o próprio relato e discurso de Biden.
   Enfim, é melhor que esses supremacistas, tanto os americanos como os de outros quadrantes do planeta, se acostumem com essa nova configuração demográfica, essa nova distribuição de fazeres, de oportunidades e atribuições dentro de um mesmo espaço.
   Nunca é demais lembrar que o Brasil também vive esse clima de insurgência contra negros, mulheres, além de ensaios de ruptura institucional por força única e exclusivamente de intolerância, de não aceitação  de um novo panorama, de um novo horizonte, no momento em que esses grupos antes excluídos do convívio social e político, agora participam mais ativamente de toda a agenda da realidade brasileira.
   Se a democracia americana já não é mais o modelo ideal a ser seguido, isso é outra história. Já, aquela balbúrdia que rolou lá no Capitólio serve de alerta para novas ações de combate à intolerância de qualquer natureza, assim como uma reflexão profunda sobre um mundo cada vez mais heterogêneo, e sem chilique, por favor.
 

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