Esta semana passei pelo Jardim de Alah e lembrei que minha mãe um dia me confidenciou que costumava namorar o meu pai naquela praça, num daqueles bancos ficados quase à beira do canal.
Sem querer especular sobre as estripulias amorosas de ambos naquelas cercanias, eu desconfio que fui concebido ali, em promessas de convivência conjugal nos intervalos de amassos, afagos de corpos sequiosos envoltos na brisa, ora do mar, ora da lagoa.
Hoje, os tapumes que cercam a praça me sonegam a visão do velho banco, mas não ofuscam o orgulho que eu conservo ao longo desses cinquenta anos pela inspiração do Seu Ari e da dona Zélia em escolher aquela aprazível fronteria entrre o Leblon e Ipanema para ilustrar o meu advento ao mundo.
Quando eu nasci a cidade maravilhosa tinha 400 anos e estava em pleno processo de reafirmação depois que deixou de ser a capital do Brasil. Agora, aqueles tapumes do Jardim de Alah e de outros cantos da cidade nos revela uma urbe ainda em construção, retida e conservada no ventre da geografia, dos relevos.
É como se o Rio de Janeiro ainda estivesse prestes a nascer em meio às florestas, rios e serras que os Tupis, Tamoios e outras tribos só fizeram manter intactos.
Pelas intervenções urbanas pelas quais o Rio ainda passa, parece que todo prefeito que remexe em nossas ruas, praças e avenidas é o próprio Pereira Passos começando do zero, porque a beleza do Rio de Janeiro advém de sua geomorfologia, e não do manuseio de quem aqui viveu ou administrou.
Portanto, tudo que o prefeito Eduardo Paes promove em nossa cidade já poderia ter sido feito pelos alcaides, biônicos e outros usurpadores que só não conseguiram desencantar a alma do povo carioca.
É nesse sentido que o Rio de Janeiro ainda é uma cidade em plena gestação, justamente por não ter se adequado aos novos tempos que outras metrópoles edificantes e modernas já usufruem.
O que a mídia e o poder público insistem em propagar é a superficialidade de uma cidade que funciona aos trancos e barrancos, com transportes públicos e demais serviços públicos com o mesmo grau de precariedade que se confunde com a atmosfera de tempos atrás.
Então, vamos combinar que uma cidade que ainda não é sustentável, como ficou firmado na Rio+20, o que traria benefícios a toda a população, não pode se considerar uma metrópole à frente de seu tempo.
Pra quem vive a efervescência e as incertezas do Rio de Janeiro em seu cotidiano, há muito pouco a comemorar.