Não deixa de ser curioso que foi em Minas Gerais, onde a lama fustiga a vida marinha, a fauna, a flora e as vidas humanas, que começou a atividade de mineração no Brasil.
Desde o Ciclo do Ouro, alguns séculos se passaram e uma longa história de gente que revolve o solo em busca da prosperidade que brota da terra.
O que parece diferenciar a arte do manejo desse chão rico nesses dois períodos é a tecnologia que vai deflorando cada vez mais o mato verde e os seres vivos ao seu redor. Nos extremos de duas eras distintas, apenas a ganância que mudou de mão. A horda que agora remexe o fio da terra tem mais consentimento para virar o meio-ambiente ao avesso.
Pelo tempo que a atividade de mineração existe no Brasil, nada mais poderia desconstruir o pulsar das guelras, a apoteose dos passarinhos, a atmosfera dos nativos e o curso dos rios.
Quando o colonizador inaugurou o périplo de desbravadores, o forasteiro apenas afanava a riqueza e a economia da nação. Agora, a terra desnudada revela o descompromisso com o ar que todos respiramos, no momento em que a sustentabilidade virou o mote para o empreendimento sobre tudo que está ao nosso alcance, sobre tudo que o homem ganhou de mão beijada.
E enquanto a legislação não freia o ímpeto de quem aposta em empreender à custa da destruição ambiental, a própria ecologia humana vai perdendo completamente seu sentido, quando o homem vai se transformando em predador de si mesmo.
Além da perspectiva sobre eventuais reparações de danos ao meio-ambiente, o que se discute é uma forma mais eficaz e rigorosa de penalizar quem deixa em frangalhos os ecossistemas, principalmente quando há perdas humanas nessas empreitadas com a marca do descaso e da irresponsabilidade.
Paralelo ao domínio que o homem tem sobre as tecnologias que ele cria, a ciência também traz à luz o saber necessário a todos aqueles que se aventuram no nobre ofício de trabalhar com os elementos da natureza.
O conhecimento que as empresas de mineração detêm hoje, através de parceria com órgãos de pesquisa e o poder público, não permite mais esses sinistros ambientais com a mesma proporção, ou até mais impactante, como no caso de Mariana, dos empreendimentos na área de mineração.
Porque tão importante quanto os benefícios que o setor traz para a sociedade, a questão da segurança também requer atenção redobrada, quando há o mínimo de riscos para o meio-ambiente em geral.
Pela dimensão da tragédia de Mariana, todos os órgãos envolvidos na questão já deveriam estar discutindo o assunto com a maior seriedade possível. O Departamento Nacional de Produção Mineral(DNPM) mais atuante na fiscalização nos negócios do setor; e os principais órgãos jurídicos nas investigações e penalidades aos responsáveis pelo acidente. Até porque, há risco iminente de desastre dessa magnitude em outras barragens de contenção de rejeitos de mineração espalhados pelo Brasil.
Pela interrupção desse ciclo da lama, o meio-ambiente e os seres que nele respiram agradecem.