Já deu tempo de essa intervenção na segurança do Rio mostrar a que veio, entendendo, claro, que resultados concretos mesmo só num prazo um pouco maior.
Se o presidente Michel Temer tem mesmo interesse eleitoreiro na empreitada, ou pelo menos sair do Palácio do Planalto pela porta da frente, essa demora em traçar diretrizes para as tropas já à postos só deixa a população ainda mais aflita do que já estava.
Mesmo que esse projeto de emergência para a segurança tivesse sido planejado a complexidade de toda essa operação já seria evidente. Agora que o general Braga Netto constatou as dificuldades do plano, é a vez de a população questionar alguns procedimentos já adotados, que ainda não causaram o impacto que se esperava.
Aquela incursão preliminar no Presídio Milton Dias Moreira, em Japeri, com a apreensão de telefones celulares não convenceu a opinião pública de um grande feito. Por que não começar logo pelo Complexo de Gericinó, onde é sabido que presos de alta periculosidade comandam de dentro das unidades práticas ilícitas nas comunidades cariocas? Cadê os tais bloqueadores de celulares?
Não que a comunidade da Vila Kennedy não tenha as mesma mazelas de outras localidades, mas por que não iniciar essas incursões onde o bicho está pegado de verdade, como Rocinha, Jacarezinho, Complexo do Alemão e da Maré, com baixas frequentes a moradores e policiais em confronto com bandidos?
Se for para causar impacto e buscar resultados que tragam alento à população, que comece logo onde a chapa esquenta diariamente.
A bem da verdade, é bom que se reconheça que esse tempo previsto para a intervenção no Rio é muito curto, o que praticamente elimina a possibilidade de sucesso da operação. Ainda que houvesse planejamento para a intervenção, os resultados viriam em longo prazo, considerando a dimensão dos problemas de segurança no Rio de Janeiro, que vão muito mais além das questões técnicas e operacionais.
Há acertos a serem feitos na área financeira, nesse velho e espinhoso expediente de transferência de recursos entre esferas de governo, o que remete, automaticamente, à transparência de todos os órgãos envolvidos, além, é claro, da vigilância da sociedade a todas essas ações. Isso sem contar que com as mudanças que poderão ocorrer na próxima eleição, não há garantias de que as próximas gestões, estadual e federal, vão dar prosseguimento à intervenção.
Portanto, são vários os fatores que esfriam qualquer otimismo com relação à intervenção que rola no Rio. O próprio comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas revelou sua preocupação pela incerteza de que os objetivos serão alcançados, acrescentando, porém, a determinação de deixar como legado mudanças nas estruturas da segurança pública do Rio de Janeiro.
Só que, diante de tanta incerteza e de experiências anteriores da presença de tropas federais nas ruas da cidade, dificilmente essa intervenção militar terá resultados promissores, fazendo dessa operação, tal qual as outras anteriores, o mesmo fogo de palha de sempre.