quarta-feira, 30 de março de 2011

A agonia da história

     Acompanhei, esta semana, as notícias dando conta do incêndio que destruiu parte do prédio da UFRJ, na Urca, e fiquei imaginando a tristeza que acometeu uma gama de gente que fez parte das coisas que se passaram por alí, além do universo de pessoas que lutam pela preservação do patrimônio público.
     Pela tomada aérea da foto nos jornais é possível apenas calcular os custos do reparo de toda aquela área avariada pelo fogo. Algum tipo de recurso certamente será deslocado para reconstruir um pouco do que foi perdido. Mas, uma parte considerável do que foi construído naquele lugar vai ser representado pela lacuna que sempre vai existir, pela omissão do poder público, pela irresponsabilidade social, pelo descaso com nossas riquezas, pelo despreparo em lidar com coisa pública.
     Na verdade, este é mais um caso a se somar aos inúmeros eventos de destruição do patrimônio histórico que pecam pela falta de fiscalização.
     Muito antes de as chamas consumirem um pedaço do conjunto arquitetônico da UFRJ, a nossa história contemporânea vem dando mostras de que a sociedade como um todo dá muito pouca importância aos nossos registros históricos.
     Não faz muito tempo e relembramos os incidentes de infiltrações na Biblioteca Nacional, os furtos de objetos do Museu Nacional, além de peças do mobiliário urbano que vêm, sistematicamente, sendo usurpado, numa prática que já faz parte do cotidiano social.
     Ao longo desses tempos de alienação cultural, um universo de cidadãos adotaram o conceito primário de que se pode reconstruir, por intermédio de tecnologia de ponta, algo que foi acidentalmente vilipendiado. Com isso, os elementos do passado vão se esvaindo no mesmo compasso do crescimento urbano.
    Cada  pedestre que atravessa a rua, cada motorista que inferniza o rush, o estudante alienado, o trabalhador descrente, o agente público corrupto, todo mundo respira essa atmosfera de futuro incerto, e acaba cvontribuindo para o cenário que vai se desenhando, enquanto não se cobra do legislador a parte que lhe cabe.
    Por enquanto, pelas marcas que a história da administração pública deixa, ainda não há garantias de que esse processo de deterioração terá fim  

domingo, 27 de março de 2011

Alerta máximo

          Depois de uma semana da visita de Barack Obama ao Brasil, eis que surgem os resultados das conversas a portas fechadas entre o presidente americano e a chefe da nossa nação, Dilma Rousself.
         Antres da chegada de Barack Obama, já estava acertado que compraríamos álcool e gasolina dos Estados Unidos? Como fica o conceito do governo brasileiro após o seu recuo em relação ao conflito no Líbano?
         Não é de hoje que a política da Casa Branca interfere nas relações que o governo brasileiro estabelece com outras nações. No caso específico do Líbano, o interesse comercial do Brasil àquele país, e a liberdade que o então presidente Lula manifestou a pólítica de Kadafi não deveriam servir de objeto de retaliação por parte de qualquer país que não se alinhem à soberania libanesa.
          Com relação à política externa adotada no Planalto Central, nada se compara ao esforço do Brasil em fazer parte do Conselho de Segurança da ONU, e cada novo presidente americano que vem ao Brasil traz na bagagem o mesmo discurso de sempre: considerar apenas simpática a aspiração do governo do Brasil em participar definitivamente das reuniões que traçam os destinos do mundo nas questões de segurança.
          Mas como o setor de energia no mundo todo é de área estratégica, o petróleo e as outras alternativas de energia acabam virando alvo dos países que não têm esses recursos para prosseguir, por muito tempo, em sua hegemonia.
          Quando o Brasil fracassou na política do Pro-Álcool, em fins da década de setenta, certamente os membros da OPEP comemoram o nosso revés, pois, naquela época, assim como hoje, a emergência de um país do terceiro-mundo não era agradável aos olhos dos países desenvolvidos. Hoje, Brasil, Índia e Rússia só sentam à mesa comn a elite mundial porque têm mercado consumidor atraente.
         O Brasil não alavancou o seu programa de enriquecimento de urânio, mas vem desenvolvendo importantes projetos de energia alternativa  ao fim do petróleo, por isso, nãom seria difícil imaginar a cobiça dos forasteiros por nossos recursos, principalmente o Pré-Sal, que representa o grande trampolim para o Brasil, depois que os usineiros se acovardaram, em tempos atrás, exportando açúcar, que era mais rentável.
         Desde a época do Ciclo do Ouro até a criação da Petrobras, ficamos sempre em segundo plano.
        Quando Obama resolveu não falar na Cinelândia, nem se expor na Cidade de Deus,  estava na cara que o presidente americano não veio ao Brasil só para passear no Corcovado à noite.   

sábado, 19 de março de 2011

Nosso Quintal

  Não é de hoje que se classificam como de outro mundo algo que num primeiro olhar pode parecer absurdo ou fora de propósito. Quando o absurdo em questão fica bem longe de nossos olhos, visível apenas através da imprensa, costuma-se até a tachá-lo como algo de outro planeta. Terremotos, maremotos e outras manifestações da natureza já não são surpresa para a humanidade. E antes que se tenha a dimensão do estrago de desastre natural a surpresa e espanto ficam por conta da freqüência com que ocorrem os fatos e a intensidade cada vez maior dos eventos.
     A geografia complexa do planeta, ainda que incompreensível a uma grande parte da população fica visível aos olhos de todos. As teorias que desvendam seus movimentos passam ao largo da cultura popular. O que talvez explique esse distanciamento das coisas acontecendo ali do outro lado do planeta.
     Nossa cultura globalizante que quebra barreiras ainda não ampliou o horizonte de um planeta único e comum a todos. Com isso  a desgraça no país alheio parece um mero problema no quintal do vizinho. Nessa grande catástrofe do Japão fica parecendo que nada vai abalar quem está do outro lado do Pacífico, e o perigo que singra os sete mares fica oculto, enquanto cresce a ignorância sem fronteira.
     Não se pode ignorar o esforço do governo japonês ao longo dos anos para proteger a sua população, mas a mais moderna tecnologia ainda não é capaz de medir as traquinagens da natureza em fúria. Galileu Galilei, que começou a medir as coisas, talvez não conseguisse mensurar a magnitude do perigo que nos cerca. Com isso, a tecnologia empregada para prevenção de acidentes parece geringonça de fundo de quintal, sem qualquer certificação de que vai funcionar, ainda mais que nos mínimos detalhes o japonês esqueceu de aprimorar o sistema de resfriamento e acabou usando água do mar para tal. Quem poderia imaginar que o senso comum fosse sobrepujar a modernidade?
     Diante dessas vacilações, é bem provável que muita gente associe essa herança cultural de impotência à crença de que ainda somos divididos por muros, apesar de ouvirmos, vez por outra, que vento que venta lá venta cá.
     A questão da soberania nacional, sacramentada bem antes dos tratados sobre o Direito Universal, não pode servir de obstáculo para um novo modelo que contemple todos os cidadãos do mundo. A ONU, que congrega quase todos os países do globo terrestre, pode perfeitamente promover um amplo debate para mudar esse cenário. Da mesma forma que se devem reprimir as ocupações irregulares, também é urgente rever a instalação de usinas nucleares próximas de residências, mesmo que essas só sejam mais uma alternativa de matriz energética pacífica.
     Mas, agora que aumentam os riscos de vazamento de material radioativo em território japonês, que os países detentores de Programas Nucleares deixem de lado as discussões sobre o objetivo bélico de nações em conflito e reavaliem a questão da segurança nessas instalações.
     O que vale agora é saber se o povo americano está seguro, caso as placas tectônicas embaixo de São Francisco estremeçam os reatores em solo daquele país. E o governo do Irã, tem um plano eficaz para proteger seu povo de eventual acidente? Por acaso, a Rússia está fazendo o dever de casa, ao enriquecer urânio? É seguro a França fazer testes nucleares, mesmo naquelas longínquas ilhas do Pacífico? E a Índia, será que possui tecnologia capaz de garantir a segurança da população?
     São questões que podem ser levantadas em reuniões periódicas de todas as nações do planeta, sem as contendas de encontros anteriores no Rio, Kioto e Copenhagem, onde cada um tratou de defender seus interesses e não produziram nada de concreto com relação ao futuro do planeta.
     Apesar de considerada como energia limpa, os investimentos e os riscos são imensos. Considerando que já existem outras formas mais segura de energia alternativa ao fim do petróleo, como a eólica, solar, biomassa e as hidrelétricas, seria oportuno rever os riscos que a população corre.
     Estamos na mesma conexão, no mesmo quintal, como bem destacou em seus tratados James Lovelock.