Não é de hoje que se classificam como de outro mundo algo que num primeiro olhar pode parecer absurdo ou fora de propósito. Quando o absurdo em questão fica bem longe de nossos olhos, visível apenas através da imprensa, costuma-se até a tachá-lo como algo de outro planeta. Terremotos, maremotos e outras manifestações da natureza já não são surpresa para a humanidade. E antes que se tenha a dimensão do estrago de desastre natural a surpresa e espanto ficam por conta da freqüência com que ocorrem os fatos e a intensidade cada vez maior dos eventos.
A geografia complexa do planeta, ainda que incompreensível a uma grande parte da população fica visível aos olhos de todos. As teorias que desvendam seus movimentos passam ao largo da cultura popular. O que talvez explique esse distanciamento das coisas acontecendo ali do outro lado do planeta.
Nossa cultura globalizante que quebra barreiras ainda não ampliou o horizonte de um planeta único e comum a todos. Com isso a desgraça no país alheio parece um mero problema no quintal do vizinho. Nessa grande catástrofe do Japão fica parecendo que nada vai abalar quem está do outro lado do Pacífico, e o perigo que singra os sete mares fica oculto, enquanto cresce a ignorância sem fronteira.
Não se pode ignorar o esforço do governo japonês ao longo dos anos para proteger a sua população, mas a mais moderna tecnologia ainda não é capaz de medir as traquinagens da natureza em fúria. Galileu Galilei, que começou a medir as coisas, talvez não conseguisse mensurar a magnitude do perigo que nos cerca. Com isso, a tecnologia empregada para prevenção de acidentes parece geringonça de fundo de quintal, sem qualquer certificação de que vai funcionar, ainda mais que nos mínimos detalhes o japonês esqueceu de aprimorar o sistema de resfriamento e acabou usando água do mar para tal. Quem poderia imaginar que o senso comum fosse sobrepujar a modernidade?
Diante dessas vacilações, é bem provável que muita gente associe essa herança cultural de impotência à crença de que ainda somos divididos por muros, apesar de ouvirmos, vez por outra, que vento que venta lá venta cá.
A questão da soberania nacional, sacramentada bem antes dos tratados sobre o Direito Universal, não pode servir de obstáculo para um novo modelo que contemple todos os cidadãos do mundo. A ONU, que congrega quase todos os países do globo terrestre, pode perfeitamente promover um amplo debate para mudar esse cenário. Da mesma forma que se devem reprimir as ocupações irregulares, também é urgente rever a instalação de usinas nucleares próximas de residências, mesmo que essas só sejam mais uma alternativa de matriz energética pacífica.
Mas, agora que aumentam os riscos de vazamento de material radioativo em território japonês, que os países detentores de Programas Nucleares deixem de lado as discussões sobre o objetivo bélico de nações em conflito e reavaliem a questão da segurança nessas instalações.
O que vale agora é saber se o povo americano está seguro, caso as placas tectônicas embaixo de São Francisco estremeçam os reatores em solo daquele país. E o governo do Irã, tem um plano eficaz para proteger seu povo de eventual acidente? Por acaso, a Rússia está fazendo o dever de casa, ao enriquecer urânio? É seguro a França fazer testes nucleares, mesmo naquelas longínquas ilhas do Pacífico? E a Índia, será que possui tecnologia capaz de garantir a segurança da população?
São questões que podem ser levantadas em reuniões periódicas de todas as nações do planeta, sem as contendas de encontros anteriores no Rio, Kioto e Copenhagem, onde cada um tratou de defender seus interesses e não produziram nada de concreto com relação ao futuro do planeta.
Apesar de considerada como energia limpa, os investimentos e os riscos são imensos. Considerando que já existem outras formas mais segura de energia alternativa ao fim do petróleo, como a eólica, solar, biomassa e as hidrelétricas, seria oportuno rever os riscos que a população corre.
Estamos na mesma conexão, no mesmo quintal, como bem destacou em seus tratados James Lovelock.