quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Descaso com a história

       Agora parou um pouco, mas tinha um monte de gente dizendo que a cidade está bombando. Durante as eleições, então, serviu até de mote de campanha. Deve ser por causa das obras na cidade, como apronto para os eventos esportivos que o Rio de Janeiro vai sediar.
       Considerando o legado que esses investimentos podem deixar para a população, é até compreensível o desconforto dos moradores durante as obras que infernizam o trânsito, fora os investimentos vultosos que poderiam ser empregados em outras áreas também importantes.
       A questão da mobilidade urbana é mais do que necessária para viabilizar a vida das pessoas que se deslocam naquele velho trajeto casa-trabalho-casa. Só que a nossa cidade, assim como outra qualquer, tem uma história que vem dos primórdios de nossa civilização. E isso pode ser conferido na miscigenação de nosso povo, na arquitetura e nas manifestações culturais.
        É natural que haja contrastes entre o velho e o novo, como forma, não só de medir o nosso grau de evolução, como também de mostrar a preocupação de se manter intactos os vestígios de tudo aquilo que nos originou.
       Foi divulgado esta semana que o poder público pretende demolir aquele prédio próximo ao estádio do Maracanã, que num passado, não muito remoto, foi sede do Museu do Índio. Muita gente não sabe, mas ali tem representações de várias etnias que vivem a divulgar a cultura desses nossos antepassados, na expectativa de alguém abraçar aquela causa, como já foi prometido por organizações e políticos que lá visitaram. 
       Se aos olhos da sociedade e do poder público aquelas instalações não têm nenhuma funcionalidade, não custa lembrar que na época do museu os maiores expoentes da causa indígena, os irmãos Villas Bôas e o antropólogo Darcy Ribeiro frequentaram aquele espaço para se debruçarem sobre a questão indígena no Brasil.
       Hoje, existem várias entidades de pesquisa, como Centro Brasileiro de Arqueologia, que se consultado, pode contribuir com projetos voltados justamente para o resgate de nossa rica história e conservação dos vestígios de nossos ancestrais, para que possamos investigar, conhecer e manter viva toda a nossa trajetória, mas que fica relegada ao ostracismo por políticas públicas que pouco se interessam pela cultura brasileira.
       
       
       

domingo, 21 de outubro de 2012

A Avenida Brasil e o mensalão

       Só mesmo um folhetim para mobilizar esse monte de gente ao redor do óbvio, para ver o final (in)feliz que todos já conhecem, e mesmo assim fica todo mundo na expectativa de saber o que vai acontecer.
       João Emanoel Carneiro não é o primeiro, nem será o último a brincar com a paciência do espectador, decidindo a sorte de um ou de outro personagem, como bem entender, até concentrar, no último capítulo, toda a população saindo correndo do trabalho, ou deixando de fazer outra coisa, e depois não ficar satisfeito com o que viu, e no dia seguinte ficar conjecturando nos bares, no escritório, no trem, e em casa também, sei lá.
       Foram meses e capítulos de gente transitando pela famosa Avenida, quase que embaralhando a ficção com a realidade, enquanto que fora da telinha o mundo bombando, com a realidade nua e crua, das incongruências de personagens nefastos e os  malfeitos da vida real.
      Agora que a trama já chegou ao fim, Carminha e seus pares não poderão mais perpetrar aquele joguinho sujo. A novela agora é outra, a do mensalão, lá no Supremo Tribunal Federal, que está prestes a decidir o destino de um bando, ou quadrilha, como queiram, de neguinho acostumado a comemorar o sucesso da tramoia, do golpe sujo, mas o ministro Joaquim Barbosa doido para reverter esse cenário de picaretagem que assola o país.
       Pode ser que apareça outra história de gente maliciosa, sem escrúpulo, mas o Supremo Tribunal Federal está focado nessa gente bronzeada que nunca viu o sol nascer quadrado. Mesmo porque, a tarefa de Joaquim Barbosa é muito mais dura que o enredo de João Emanoel, que em nenhum momento se deparou com um Lewandowski a acreditar que aquela gente sem caráter são pessoas de boas intenções, e além do mais, nem a Carminha, nem o Max se lembraram do tal ato de ofício para reivindicar sua inocência.
       Enquanto os membros da Suprema Corte tiveram que se esmerar com gravações de conversas telefônicas, depósitos suspeitos para enquadrar José Dirceu e sua corja, João Emanoel Carneiro, se tivesse de fazer algum esforço para provar a falta de ética dos personagens, basta lembrar que ninguém ao longo da novela fez propaganda de algum produto.
        Você acha que algum anunciante ia querer associar o seu produto à imagem de gente faca cega? Se fosse sangue bom, estaria todo mundo ganhando um dinheiro por fora, nos comerciais. A Carminha anunciando o último modelo de sandália, o Max fazendo propaganda de banco, e a Suélen mostrando em rede nacional a segurança e o conforto de um bom absorvente.
       Da próxima vez que anunciarem uma novela decente, mande um papo reto, João Emanoel Carneiro. Vou assistir aos próximos capítulos lá do mensalão.
       Se a vida imita a arte, eu já nem sei. Vou ficar com o nobre colega. Pelo menos Joaquim Barbosa está tentando mudar o roteiro, o enredo e os personagens.
     
       
     
       
       
       

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Lar doce lar

       O governo do estado do Rio de Janeiro manifestou o desejo de desapropriar o terreno onde está localizada a Refinaria de Manguinhos para ampliar um projeto de urbanização visando construções populares.
       Sérgio Cabral argumenta que a empresa não paga os impostos devidos, além de procedimentos pouco éticos na comercialização de produtos ali distribuídos, segundo análises feitas pela Agência Nacional do Petróleo, o que não vem ao caso, ainda mais que esse imbróglio pode se arrastar por muito tempo.
       Eu não estou nem levando em conta o prejuízo que os cofres do estado vem tomando, pela sonegação que o governador alega, nem o projeto social que a refinaria desenvolve junto à comunidade vizinha.
       Mesmo que o governo estadual não vença, a curto prazo, uma eventual e provável batalha judicial, para implementar um importante projeto para aquela região, fica o alento para a população do Rio de ver o poder público finalmente tentar resolver, ou pelo menos amenizar um dos maiores problemas que afetam as grandes cidades: o déficit habitacional.
       Nas décadas de 60 e 70 governos anteriores até ensaiaram um grande projeto nesse sentido, com a construção de conjuntos habitacionais espalhados pela cidade, o que, na verdade se deu mais por interesses comerciais, de especulação imobiliária muito em voga naquela ocasião. E o que parecia ser uma grande conquista social, para atender a grande demanda do êxodo rural da época,  acabou enfraquecido por gestões posteriores que não conseguiram conter a favelização no Rio de Janeiro.
       Agora que o poder público acena com essa empresa de tornar socialmente mais atraentes e produtivas áreas pouco férteis ao erário público e à sociedade, não custa lembrar que ao longo de todo o território fluminense, principalmente na região metropolitana do Rio, não faltam áreas improdutivas que poderiam, se não erradicar, pelos menos diminuir os números dessa grande mazela social.
       Na Avenida Brasil, Linha Vermelha, Via Dutra e Rodovia Washington Luis há uma infinidade de terrenos abandonados, cujos donos, grandes empresas e as Forças Armadas, não têm nenhum interesse ou responsabilidade social para alavancar o desenvolvimento social para essas regiões, através de geração de emprego, renda e habitação, que a retomada dessas localidades pode proporcionar.
        Assim como está sendo feito nesses processos de despropriação para a construção de vias públicas e ampliação do Metrô, o governo do estado do Rio, por intermédio da parceria alardeada aos quatro cantos pode perfeitamente enquadrar os malfeitores da coisa pública para equacionar um velho problema social.
       

domingo, 7 de outubro de 2012

Carta aberta ao novo prefeito

          Excelentíssimo senhor prefeito da cidade do Rio de Janeiro,


     Muito antes desse resultado que definiu os rumos para a nossa cidade e o destino da população carioca já havia uma expectativa muito grande a respeito das mudanças que precisam ser feitas para a cidade do Rio de Janeiro se tornar, não somente atraente aos olhos dos forasteiros, da mídia internacional e da imaginação de quem acha que estamos no eldorado.
      Vivemos há muito tempo acreditando que os nossos problemas são iguais a qualquer outra grande metrópole do mundo. A diferença é que durante todo esse tempo o esforço que foi feito para reverter o quadro de desordem urbana, por culpa do poder público, e incerteza por parte da população, não correspondeu à expectativa do crescimento galopante que desenhou o mapa da cidade maravilhosa, desde quando Estácio de Sá fincou terreno por aqui.
       Eu continuo acreditando que Vossa Excelência tem boas intenções, assim como os outros mandatários da nossa cidade tiveram, mas que frustaram um universo considerável de pessoas que sabiam o que estavam fazendo quando depositaram toda a confiança e o seu voto neles. Mas diante dessa experiência de decepções anteriores, eu fico achando que vai haver alguma dificuldade em função dos interesses que sempre cercam  a busca pelo poder e o mesmo poder, depois estabelecido e confirmado.
      Mesmo com a mesma margem de voto expressiva que o credenciou a esse cargo importante, não se pode ignorar a outra parcela que apostou numa outra corrente política que também poderia desenvolver um bom trabalho à frente da prefeitura. Uma gama de gente que sempre teve um olhar diferente para o Rio. Uma visão bem além do conformismo que toma conta de uma maioria que não enxerga a cidade como um todo. Uma maioria que está feliz porque sua rua ficou mais ou menos bonitinha e pronto.
       Na verdade, senhor prefeito, pode ser que esse outro contingente que não optou pela sua reeleição esteja pensando numa integração maior entre os diversos segmentos sociais, as regiões e os serviços públicos oferecidos pela municipalidade.
      Dentro desse seu novo mandato, sr Eduardo Paes, vão acontecer uma Copa do Mundo e uma Olimpíadas, e eu sei perfeitamente que a cidade do Rio precisa estar preparada para organizar esses eventos, para confirmar a sua capacidade de bom gestor, pelo menos segundo a opinião da maioria da massa votante da cidade do Rio de Janeiro.
        Mais do que qualquer legado que esses eventos possam deixar para a população, o importante é que sua nova gestão traga benefícios concretos, de modo que o Rio de Janeiro seja viável, única e exclusivamente, para as pessoas que aqui vivem e trabalham, aquelas que efetivamente contribuem para que ela seja uma cidade maravilhosa.
         

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Ao vencedor, o desafio

       Mais uma campanha eleitoral chegando ao fim e a mesma lacuna de tempos atrás, de outras votações com o mesmo discurso vazio, com pouca objetividade, sem alguma discussão que efetivamente possa acompanhar as urgências de uma grande cidade como o Rio de Janeiro, cuja população está longe de ver suas reais necessidades atendidas, ou pelo menos acenadas nas plataformas.
       Mesmo levantando bandeiras diferentes, nenhum proponente trouxe à luz dos debates e discussões alguma proposta que abrangesse a cidade do Rio como um todo, de acordo com suas peculiaridades de uma grande metrópole.
       Se um candidato a um cargo da Câmara dos Vereadores mirar um tema ou um segmento específico da população ele pode até usar todo o seu mandato para legislar sobre uma determinada questão, dentro das comissões que compõe aquela Casa. Mas o prefeito, não. O chefe do executivo municipal precisa ser mais abrangente em suas propostas, considerando que a cidade tem diferentes problemas em diferentes regiões.
       Não se pode governar para uma parcela, somente. Para a cidade em sua totalidade, não adianta representar a voz dos deficientes físicos, apenas, embora a questão da acessibilidade, por exemplo, mereça atenção. Prometer que vai ter ônibus a R$ 1,00 aos domingos não resolve o velho problema do transporte público. Colocar dois professores numa sala de aula não me parece o cerne da questão da educação em nossa cidade.
       Quando o Rio de Janeiro sediou recentemente a Rio+20, não só a sociedade, mas também esses mesmos que já miravam a cadeira de prefeito tiveram a oportunidade de se adequar a uma realidade muito mais ampla que essas promessas tímidas que se verificam no horário gratuito.
       O prefeito-candidato Eduardo Paes tem afirmado que melhorou para muita gente as mudanças que ele operou. No entanto, mesmo que num futuro próximo ou distante essas mudanças beneficiem todos, ainda assim haverá um grande desafio pela frente, considerando que transitam pelo Rio um universo de pessoas que, mesmo não votando na cidade, andam de trem, de metrô, de barcas, ônibus, vans, fora as pessoas que vem ao Rio procurar hospitais públicos, por causa da deficiência em seu  local de origem.
      Tanto o prefeito, quanto o governador costuma destacar a tal parceria entre o governo municipal, estadual e federal, sem que isso traga algum resultado satisfatório para a cidade do Rio e região metropolitana. Eduardo Paes, dentro das atribuições que lhe confere o cargo, certamente vai concentrar seus esforços e responsabilidades dentro dos limites do Rio de Janeiro, apenas. Só que enquanto houver qualquer descompasso em serviços públicos que abranjam toda a região metropolitana, no caso de transportes que interligam as cidades do Grande Rio, e os hospitais públicos que atendem moradores da Baixada Fluminense, São Gonçalo e Alcântara, esses mesmos serviços ficam precários pela demanda em grande escala, cujos números dificilmente estão inseridos nas projeções da municipalidade carioca.
       Hoje, andando pela janela do carro ou pela janela do ônibus, não é difícil mensurar a dimensão dos problemas da cidade maravilhosa, que nunca herdou nenhum legado de gestões anteriores e eventos importantes que ocorreram por aqui.
       Antigamente falava-se muito em vontade política para governar a cidade. Além da transparência, é preciso coragem e competência administrativa para colocar a cidade do Rio de Janeiro no rol das cidades mais viáveis do mundo, ainda que não fôssemos sediar uma Copa do Mundo e uma Olimpíadas.
    O que não pode é perdurar essa diferença entre a realidade que a população enfrenta todos os dias e o cenário que estão desenhando e colorindo para a cidade do Rio de Janeiro.