Agora parou um pouco, mas tinha um monte de gente dizendo que a cidade está bombando. Durante as eleições, então, serviu até de mote de campanha. Deve ser por causa das obras na cidade, como apronto para os eventos esportivos que o Rio de Janeiro vai sediar.
Considerando o legado que esses investimentos podem deixar para a população, é até compreensível o desconforto dos moradores durante as obras que infernizam o trânsito, fora os investimentos vultosos que poderiam ser empregados em outras áreas também importantes.
A questão da mobilidade urbana é mais do que necessária para viabilizar a vida das pessoas que se deslocam naquele velho trajeto casa-trabalho-casa. Só que a nossa cidade, assim como outra qualquer, tem uma história que vem dos primórdios de nossa civilização. E isso pode ser conferido na miscigenação de nosso povo, na arquitetura e nas manifestações culturais.
É natural que haja contrastes entre o velho e o novo, como forma, não só de medir o nosso grau de evolução, como também de mostrar a preocupação de se manter intactos os vestígios de tudo aquilo que nos originou.
Foi divulgado esta semana que o poder público pretende demolir aquele prédio próximo ao estádio do Maracanã, que num passado, não muito remoto, foi sede do Museu do Índio. Muita gente não sabe, mas ali tem representações de várias etnias que vivem a divulgar a cultura desses nossos antepassados, na expectativa de alguém abraçar aquela causa, como já foi prometido por organizações e políticos que lá visitaram.
Se aos olhos da sociedade e do poder público aquelas instalações não têm nenhuma funcionalidade, não custa lembrar que na época do museu os maiores expoentes da causa indígena, os irmãos Villas Bôas e o antropólogo Darcy Ribeiro frequentaram aquele espaço para se debruçarem sobre a questão indígena no Brasil.
Hoje, existem várias entidades de pesquisa, como Centro Brasileiro de Arqueologia, que se consultado, pode contribuir com projetos voltados justamente para o resgate de nossa rica história e conservação dos vestígios de nossos ancestrais, para que possamos investigar, conhecer e manter viva toda a nossa trajetória, mas que fica relegada ao ostracismo por políticas públicas que pouco se interessam pela cultura brasileira.