quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

O homem do ano

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 Já não faz sentido algum enumerar as melhores e as piores coisas, os grandes feitos e as lamentáveis tragédias que repercutiram no Brasil e no mundo nesse ano que chega ao fim.
 Até porque os eventos que se destacaram positivamente não representam um importante legado, assim como alguns infortúnios já eram reedições de eventos passados, e isso, de uma maneira geral, rechaça qualquer garantia de novos tempos.
   Com isso, os holofotes e os louros recaem sempre sobre um personagem ilustre, aquela figura que ensaia grandes projetos com gestos e discursos de igual tamanho.
   E o papa Francisco foi, sem sombra de dúvidas, a grande personalidade deste ano, como complemento de tudo que ele anunciou para o mundo quando chegou ao Vaticano.
   Chamando para si a responsabilidade que reza na cartilha do verdadeiro homem público, o sumo pontífice não hesitou em levar aos grandes líderes e ao próprio corpo eclesiástico da cúria a bula da ala progressista da Igreja Católica com novos ensaios sobre as relações entre grupos sociais distintos e nações equidistantes no cenário global.
   Desde suas explanações na Jornada Mundial da Juventude, o papa Francisco não se furtou a uma aproximação a vários segmentos, sinalizando com novos horizontes para as classes menos favorecidas, inclusive, ao alertar o agente público da falta de transparência com o dinheiro público.
   No cenário internacional, o papa Francisco também mostrou a marca de um grande líder, mantendo conversações com outras lideranças religiosas, como parte integrante  do processo de paz em regiões de permanentes conflitos, e agora, recentemente, intermediando a retomada das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba.
   Dentro dos domínios da Santa Sé, não se pode ignorar a lucidez com que o papa Francisco tratou de temas nebulosos aos dogmas da Igreja, como aborto, união homo-afetiva e a própria pedofilia  nas fileiras da cúria.
   De qualquer forma, foi importante ver esse novo líder disparar contra os preceitos da Igreja Católica e sugerir novos caminhos e oportunidades para os injustiçados, tanto para a atração de novos rebanhos, como para o destino da humanidade.
     
      

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Rio sem brilho



   Como acontece todos os anos nessa época, as cidades se enfeitam com iluminação especial para o Natal e a chegada do Ano Novo.
   Não é difícil observar o quanto algumas cidades aproveitam as peculiaridades de seu relevo urbano para destacar a beleza que quase passa despercebida no resto do ano.
  Seja uma ponte, uma igreja, um edifício ou uma avenida famosa, tudo ganha cores vivas. Independente de serem cartões-postais aos olhos dos visitantes, alguns pontos tradicionais são importantes por fazerem parte da rotina das pessoas ao longo do ano.
    Infelizmente, aqui no Rio ignoraram completamente  esse aspecto  fundamental da vida do carioca, o que, num olhar mais crítico, representa desinteresse por algo que poderia elevar a auto-estima da população.
    Imagine o  orgulho de ver o relógio da Central do Brasil todo iluminado, além do efeito visual na Avenida Presidente Vargas e nos outros pontos de onde a torre é vista.
   A ponte Rio-Niterói também causaria um impacto deslumbrante na Baía de Guanabara com um conjunto de luzes em toda sua extensão.
   Para quem passa todos os dias pelo Aterro do Flamengo, é triste lembrar que em tempos atrás aqueles postes gigantes reproduziam enormes  árvores de Natal. E agora, até o Pão de  Açúcar ao fundo fica às escuras. 
   Seguindo essa tendência de total desprezo à beleza dos elementos urbanos da cidade maravilhosa, o Estadio do Maracanã, a igreja da Candelária, a Catedral Metropolitana, o Edifício Central, os Arcos da Lapa e os prédios públicos do centro da cidade permanecem com suas belezas ocultas, bem em consonância com os problemas que o Rio já tem.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A agonia do futebol


   Pela atmosfera que cerca o futebol brasileiro, o rebaixamento de um clube grande como o Botafogo não se restringe às vacilações da equipe dentro de campo.
   Pode-se dizer seguramente que a mentalidade dos dirigentes no Brasil é que vem ao longo desses anos definindo os rumos do esporte mais popular do país.
   À medida em que os cartolas vão perpetuando fórmulas arcaicas para gerir clubes respeitados no cenário internacional por suas glórias e conquistas, como consta na trajetória do Botafogo, é difícil saber o momento exato em que o futebol brasileiro vai alcançar o nível do que já se pratica em outras praças. O próprio vexame da seleção brasileira na Copa foi um alerta para transformações profundas por aqui.
   Se por um lado o fiasco do Glorioso mancha mais uma vez sua rica trajetória, o esfacelamento de qualquer agremiação que tenha tantas ou mais conquistas registradas é o empobrecimento do próprio futebol, considerando a contribuição que o Botafogo e outros clubes de tamanha expressão deram para construir a história do futebol mundialmente conhecida.
  Infelizmente, a excelência de clubes com administração menos claudicante e equipes mais competitivas ainda não é o modelo ideal de política eficiente e moderna no atual cenário, no momento em que os principais clubes brasileiros sobrevivem de acordos judiciais na esfera tributária e trabalhista, tal qual acontece com o Botafogo.
  Além do mais, algumas práticas suspeitas e nebulosas executadas fora das quatro linhas  e destrinchadas no meio jurídico acabam enfraquecendo qualquer tentativa de modernização do futebol brasileiro.
   Houve um tempo em que o rebaixamento de um time era mera punição a quem não se familiarizava com os fundamentos do futebol e suas estratégias em campo. Agora, o descenso à série inferior é parte integrante de um processo de reestruturação que o futebol tem de sofrer, começando pelos clubes.   É claro que o Botafogo vai precisar juntar os cacos para se reerguer, mas muitos clubes precisarão imprimir o mesmo esforço porque também respiram por aparelho.
   Na verdade, a agonia do Botafogo é um emblema do que ocorre com futebol no Brasil. Quando a história de um clube com a magnitude do Botafogo se completa com fracassos e reveses, é o próprio futebol brasileiro que se nivela por baixo.