quarta-feira, 19 de maio de 2021

UMA MANCHA NA DIPLOMACIA

 

   Mesmo antes da CPI da Covid o diplomata Esnesto Araújo já tinha dado mostra de sua desastrosa atuação como titular da pasta das Relações Exteriores, num comportamento que passa bem longe do que sugere as funções do cargo.
   Vale lembrar que ele só conduziu essas negociações para compra de vacinas e insumos de outros países por sua qualificação na área financeira dentro de seu currículo de diplomata.
   Inclusive, Ernesto Araújo serviu na embaixada brasileira em Berlim no começo da carreira, tratando de assuntos econômicos. No período em ficou por lá, certamente adquiriu experiência para o futuro da carreira.
   Talvez tenha ficado tão focado na lida, que nem percebeu, em sua estada na Alemanha, que o Nazismo não é de esquerda, como andou explanando por aqui, rachando o bico da opinião pública internacional e passando vergonha do Brasil além de nossas fronteiras. Mas isso é outra história, deixa pra lá.
   Mas, ainda que seu depoimento na CPI não mude ao rumos da investigação ou traga alguma novidade para os trabalhos da comissão, sobre culpas e responsabilidades pelo atraso na vacinação da população, Ernesto Araújo vai ficar marcado como o sujeito que quebrou o protocolo da diplomacia brasileira, mudando completamente as prerrogativas do cargo.
   Dificilmente, analistas, palpiteiros e outros suspeitos e mentirosos  vão  esquecer do diplomata que em vez de mediar conflitos, simplesmente os criou. É a primeira vez que um diplomata bota mais lenha na fogueira, em vez de apagar o fogo.
   De repente, nem nas Guerras a representação diplomática dos países conflitantes adotou procedimentos tão beligerantes quanto esses ataques velados à China, que se ainda  não é o número um da globalização, já é o maior parceiro comercial do Brasil, um cenário que nem a sanha ideológica do Ernesto Araújo vai mudar, ainda mais que o Donald Trump, sua referência maior, em quem o brasileiro sustentou toda a sua tese e discurso, saiu completamente de cena.
    É lamentável que a diplomacia brasileira  carregue essa mancha na sua trajetória de relações internacionais, através de um personagem como foi o Ernesto Araújo, que não foi escolhido pelos critérios comumente usados para preencher cargos, tanto no Ministério das Relações Exteriores como nas representações diplomáticas, em que se exige o mínimo de habilidade, bom senso e inteligência para lidar com conflito.
   O Brasil sempre se destacou quando sua diplomacia foi acionada para mediar conflitos de toda ordem em que nosso país esteve envolvido. Há uma lista extensa de personalidades que representaram dignamente o Brasil, sem que nossa imagem ficasse arranhada.
   Para o Brasil, que teve o Barão do Rio Branco, por exemplo, como referência maior da diplomacia do país, é triste para a sociedade brasileira saber que já fomos também mal representados um dia.

                          Foto: Wikipédia  

segunda-feira, 10 de maio de 2021

O AVESSO DA VIDA

 

   Não deixa de ser interessante quando a mente cria percepções da realidade humana através de eventos aparentemente simples e corriqueiros.
   Dias desses  eu fiquei prestando atenção na centrífuga da máquina de lavar, imaginando as voltas que o mundo dá e  todos nós dentro, naquela viagem giratória constante. Era fácil perceber que a cada volta completada as roupas mudavam de posição, de formato, cada uma delas, entrelaçadas ali, modificando a todo instante a configuração de todo o conjunto.
   Numa dimensão bem distante de nossos olhos dá pra transportar esse movimento para a própria rotação da Terra e tudo que se passa em seu interior, bem aos moldes de como formulou James Lovelock em sua Teoria de Gaia, segundo a qual nosso planeta é um organismo só.
   Guardadas as devidas proporções é possível reproduzir e encenar na rotação da máquina o meio em que vivemos, tão importante nesses dias atuais, em que o individualismo parece prevalecer sobre o coletivo, e uma parcela significativa perdendo completamente a noção dessa premissa básica à vida de cada um e do conjunto.
   Certamente o entendimento que se faz sobre a função e a responsabilidade de todos vem dessa visão bem amplificada de tudo que se passa ao nosso redor e os efeitos de todas as práticas nesse  processo.
   Agora, tão importante quanto essa visão global de uma engrenagem única é a parte que cabe a cada um nesse mecanismo que não para, apenas se modifica.
   É quando a máquina, a de lavar, claro, interrompe a centrifugação e revela o estado de cada peça depois de várias voltas que o mundo deu, e eis que algumas roupas saem ao avesso, num cenário que é a própria matriz de nossas vidas.
  Pois é, nessas voltas que o mundo dá estamos sempre nos deparando com pessoas ao avesso também, além de nós mesmos, flagrados nessas condições, constantemente, por vício, delírio ou necessidade, dependendo de como cada um se quer para si ou para o mundo.
   Há aquelas que vivem ao avesso por pura miséria espiritual, sem nenhuma possibilidade de contribuir para sua própria evolução, para o mundo, então, nem pensar.
      Algumas outras são postas ao avesso por influência externa, hesitando entre o amor próprio e o mundo que as cerca, colocando seus próprios  valores em segundo plano, porque normalmente há um delírio em suas convicções pela falta de fidelidade a seus princípios, e isso pode ser nocivo para o seu crescimento.
  Outras, simplesmente, se põem ao avesso pra se auto avaliarem, reverem seus conceitos como forma de se moldarem por dentro, por acharem que o que tem de melhor pra oferecer ao mundo também precisa ser renovado com frequência.
   Enfim, nessas voltas que o mundo dá, estamos todos sacolejando a todo instante com vistas a grandes transformações que possam efetivamente repercutir, tanto no particular quanto no geral, cada um em seu tempo adequado de afirmação, tal qual as roupas, cada uma com um tempo certo pra secar.
 
          

sábado, 8 de maio de 2021

O VELHO PALIATIVO

 


  Não adianta, não tem jeito, qualquer assunto que deveria ganhar a dimensão de um grande debate acaba se politizando e, para ser mais específico, se polarizando dentro de um ambiente onde dificilmente brotam as soluções para o problema em questão.
   Não seria diferente nessa operação policial na Favela do Jacarezinho, que num primeiro olhar só ganhou toda essa repercussão por conta do número de mortos no confronto naquela comunidade.
   Agora, restringir a discussão apenas pela classificação que cada lado rotulou o caso só empobrece o debate com essas contendas de redes sociais, onde uma parte chamou de chacina, outra, de faxina, como se o desfecho da operação, dentro de resultados práticos dependesse apenas da forma como o assunto é tachado.
   É compreensível que haja essa divisão de cunho ideológico, mas há outros fatores, outros elementos que devem ser incluídos na discussão, permitindo um outro posicionamento a respeito do problema, de forma que o verdadeiro debate transcorra fora desse ambiente de polarização.
   No caso da velha questão da segurança pública, todo mundo já está careca de saber de vários eventos anteriores que sem um planejamento adequado, levando em conta os outros tais fatores e elementos dificilmente se terá resultados promissores, isso é certo, inclusive, o próprio governador Cláudio Castro, recentemente confirmado no cargo, não anunciou nenhuma medida para o setor, como costumam fazer os mandatários ao assumirem o poder.
   Mas, de qualquer forma, a população sempre vai comemorar a eliminação de indivíduos que atentem contra a paz da população, contra agentes de segurança, enfim, que tragam instabilidade para a sociedade, mas tudo dentro de medidas que tragam as respostas que a população quer.
   Na verdade, essas incursões policiais de forma esporádica em comunidades estão longe de trazer a paz para a população do Rio de Janeiro. Veja bem, foram mortas cerca de 28 pessoas supostamente ligadas a ações criminosas, mas, e aí? Acabou o problema lá no Jacarezinho? O tráfico de drogas local foi interrompido de vez? A polícia desbaratou de vez a quadrilha, desmontando seu esquema financeiro? A paz finalmente voltou à comunidade? A cúpula de segurança pública do estado tem planos para ocupar o Jacarezinho e inibir a retomada da bandidagem local?
   Bom...na atual conjuntura não tem como responder positivamente a esses questionamentos, está estampado para todos verem aí, dando mais uma vez a impressão de um fato isolado, bem distante de uma proposta que amenize os efeitos da violência que há tantos e tantos anos vem trazendo agonia e apreensão ao povo do Rio de Janeiro, já calejado de tantos esforços que já foram feitos para estabelecer a tranquilidade que todos nós merecemos.
   A última vez que aventaram a possibilidade de eliminar toda a sorte de delinquentes de nosso convívio, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), todo mundo sabe que fim deu, foi apenas um ensaio de coisa séria.
   Portanto, é melhor que a questão da segurança pública e tantos outros problemas que o Rio de Janeiro tem seja discutido e conduzido fora do espectro ideológico, e sim, de acordo com nossas próprias necessidades, que tanto no morro quanto no asfalto são as mesmas, uma realidade que nem esse mimimi todo consegue esconder.

                          Foto: Revista Exame