quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

UM NOVO AMOR

  

   Há um vento diferente soprando não sei de onde que a gente nem sabe se será uma daquelas tormentas que espantam os pássaros ou uma brisa que os desenha como pano de fundo.
    Eu acho que ela também veio nesse vento cortante, fortuito e inesperado, porque só isso pode explicar como se deu essa mudança repentina de rumo, de sensação, de tudo que é possível imaginar como sempre fruto de sua chegada aqui nas redondezas e transformar as coisas que eu acreditava como normal até agora.
    Já que eu tive a sorte e a providência de um amor assim tão repentino e transformador, eu vou embarcar nessa nova onda, porque eu na verdade queria muito fazer essa viagem, esperei até muito, e vinha há muito tempo pedindo que meu coração passasse a tocar música em vez de escrever aqueles garranchos na folha de papel.
    Para quem deseja que sua vida, seus pensamentos e desejos tenham uma trilha sonora, eu tenho motivos para comemorar esse arrebatamento, essa mudança de rumo, esse verão que tem todas as estações do começo ao fim, onde há poesia na tempestade, no calor sufocante, na chuva torrencial; até no frio, quando rolar, vai ter poesia, porque é assim que eu vejo a natureza e o mundo depois que ela trouxe esse amor pra eu sentir e grudar no peito.
     Agora, o desafio que eu abraço é morar pra sempre nessa casinha e ter sem parar essa sensação maravilhosa que ela me causa, assim como a capacidade e a força que eu vou precisar para retribuir a atenção, a preocupação, o cuidado, o zelo, além, claro, do olhar revelador, do abraço que mais parece uma coberta aconchegante, do beijo que desliza até a alma da gente, esses corpos nossos que parecem um só por dentro e por fora, sedentos e envolvidos num só espaço.
     A realidade de um novo amor se confunde com a coragem de manter essa chama acesa, de querer estar perto dela a todo instante, de sentir saudade e querer o seu bem a qualquer custo. A realidade de um novo amor é a chance do recomeço, porque não é sempre essa oportunidade, só para os predestinados como eu me sinto nesse verão. A realidade de um novo amor é a inteligência de não repetir velhos erros e preparar o espírito para novas descobertas. A realidade de um novo amor é mudar a atitude pra que ela tenha a mesma força e sentido das palavras, é assim que parece durar para sempre um grande amor.
    É assim que eu quero que seja o meu novo tempo, agora que ela veio para ser o meu novo amor.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

RIO CHAPA QUENTE

    

   O ano começou um dia desse, quer dizer, mês passado e 2025 já está bombando, que parece até que já estamos na metade do ano de tanta efervescência num curto espaço de tempo.
    Aqui no Rio de Janeiro, então, a chapa está esquentando em todos os sentidos. A paz do cidadão sendo posta à prova constantemente com a bandidagem esculhambando geral em toda a geografia da cidade e as pessoas ainda tendo de conciliar sua vida cotidiana com a fuga desse fogo cruzado.
   E quando o cara vai se acostumando com essa loucura toda vem esse calorão pra desnortear ainda mais o sossego que a gente consegue driblando daqui e dali, mas que por um momento dá uma balançada no expediente, porque ninguém resiste por muito tempo esse maçarico apontado para o Rio, mirando todo mundo e acertando o alvo. Vê se me erra, meu rei.
    Na rotação do planeta, parece que a cidade maravilhosa é a que tá mais perto do sol, vai vendo. Eu acho até que a Terra nem tá girando, porque a gente não sai de perto dessa bola de fogo aí na frente.
     Se a gente precisa se acostumar que a Terra como um todo está esquentando, vai ficando cada vez mais difícil imaginar que isso é uma constante em nossas vidas, no momento em nem o cérebro parece funcionar direito. Eu vejo as pessoas falando coisa com coisa, achando que a Covid deixou sequelas, mas pode ser dessa fornalha também.
    Fui falar do calor para um amigo e ele explicou que não se pode pensar que isso tá acontecendo, basta imaginar que essa perturbação climática, essa comichão que dá pelo corpo, que essa ebulição da pele com os músculos e ossos, tudo junto, não surte efeito algum em nosso corpo, no que eu logo percebi que o amigo já está sofrendo as consequências do verão escaldante em sua mente, que, claro, deve sofrer alguma alteração naqueles fiozinhos que ficam estalando dentro do crânio, pulsando de uma forma diferente, modificando o trânsito de sangue e oxigênio, afrouxando algum parafuso, sei lá.
    De repente, se alguém achar que isso que escrevo é meio ou todo sem sentido, pode ser que eu já esteja também um tanto quanto leso das ideias com o vapor que a alma não impediu que invadisse meu ser pensante. Já vou adiantando que eu não era assim antigamente. Eu gostava tanto de calor, que eu fazia propaganda do verão, o que pode se revelar como autênticos os diagnósticos que certamente farão de mim sobre loucura ou qualquer outro desvio mental.
    Vamos agora esperar no que vai dá essa mutação, essa chapa quente na vida das pessoas.