segunda-feira, 25 de junho de 2012

Rio +20 IV

    Preservar. Preservar o quê? Como começa esse processo? Como se faz para preservar uma árvore, uma rua? Tudo parece muito fácil, quando o olhar é superficial, de estética, de maquiagem, em que tudo parece belo e resolvido.
   Tem gente que até hoje se deslumbra com a imagem de uma garça na beira de um rio ou de lagoa, sem saber que a ave é um indicador de poluição, portanto normal que ela esteja em local degradado, já que ela se alimenta de matéria orgânica.
    Se teve algo de positivo na Rio+20, foi a troca de informação, de ideias nos eventos paralelos. Acredito que isso pode ser um grande filão, visando o desenvolvimento sustentável. Não em campanhas de conscientização, apenas, mas a informação na forma de conhecimento que pode ser assimilado, repassado, difundido.
    Está mais do que na hora de as pessoas saberem o que se passa ao seu redor, de maneira ampla, esclarecedora, de como se dá todo esse processo que a natureza descortina aos olhos de tanta gente leiga. A publicidade dos debates e encontros entre técnicos e especialistas dificilmente chega às pessoas ou comunidades que devem efetivamente ser esclarecidas.
   As discussões e soluções encontradas, na maioria das vezes, ficam circulando entre o próprio corpo técnico. O poder público, que sempre é convidado a participar dos eventos dificilmente manda algum representante. Com isso, um universo considerável de pessoas fica sem saber como utilizar o solo adequadamente, como manejar seus resíduos sólidos, como se precaver de epidemias, enfim, os procedimentos que o cidadão comum deve tomar para tornar saudável sua própria vida e de sua comunidade, sua rua, seu bairro.
     Hoje, o Brasil paga um preço muito grande por não ter levado adiante projetos, cujos resultados poderiam ter colocado o nosso país num outro patamar, com relação ao desenvolvimento humano no cenário mundial. Deixamos de implantar a malha ferroviária para viabilizar o primeiro e segundo setor; não levamos a sério o Pró-Álcool, que certamente permitiria a nossa autossuficiência há muito mais tempo; o Plano de Metas de JK não incluiu naquele pacote investimentos maciços em educação. Só esses três expedientes foram suficientes para atravancar o progresso do Brasil.
   Passado todo esse tempo, já adotamos outro modelo de transporte comercial, e o petróleo nos deu a tão almejada independência no setor, e a educação, bom...a educação é uma dívida que precisa ser resgatada urgentemente. Porque, é inadmissível que tanta gente fique à margem do conhecimento durante todo esse tempo, sem que ninguém perceba que isso traz prejuízos sociais para o Brasil.
    Eu vejo a geologia e a arqueologia como duas grandes ciências que podem contribuir enormemente para difusão do conhecimento, visando a inclusão social e a sustentabilidade, inclusive.
   É preciso incluir na grade curricular, já no ensino básico e fundamental, os princípios da geologia, para que se tenha noção do que são as placas tectônicas, os movimentos de massa, as precipitações como eventos naturais e suas consequências no movimento dos mares e dos rios e sua influência no regime de chuva e do clima do planeta. É bem provável que isso desperte o interesse em alguém que queira se aprofundar sobre o assunto, como forma de orientar sua própria comunidade da importância da utilização adequada do solo urbano, por exemplo.
   Por parte da arqueologia, seria interessante que os alunos, desde os seus primórdios, já conhecessem todo o processo de preservação de tudo que originou a nossa história, para que se compreenda o verdadeiro conceito de sustentabilidade, em que as gerações futuras tenham a garantia de tudo que está disponível a todos, desde os recursos naturais até as grandes conquistas da humanidade.
  A educação também é um processo de desenvolvimento sustentável.
     
 
 
    

sábado, 23 de junho de 2012

Rio+20 III

  Mesmo que os representantes das delegações não demorassem tanto tempo para redigir o texto de propostas a ser apresentado aos chefes de Estados a credibilidade dos expedientes que se seguiriam ficaria arranhada, pelo simples fato de a questão de recursos contingenciados para os projetos ambientais ser o principal objeto de discórdia entre os participantes, ainda mais que essa discussão tem a crise mundial como pano de fundo. 
   Bem diferente das questões abordadas na Rio 92, pertinentes apenas ao espectro da ecologia, o tema "Desenvolvimento Sustentável" finalmente abriria um leque de opções para os debates, justamente por ampliar o cenário do meio-ambiente, agora numa dimensão que abrange todas as áreas de atuação da sociedade.
   Só que, mais uma vez, a opinião pública saiu frustada com a falta de coragem, para não dizer vontade política, para deliberar sobre as causas da humanidade de uma maneira mais justa e sustentável, na melhor extensão da palavra.
  Primeiramente, porque estavam interpretando sustentabilidade como uma coisa oportuna, restrita ao presente, sem nenhuma noção do que deve ser mantido para as gerações futuras que viverão nesse planeta cheio de incertezas, por conta da hesitação das cabeças pensantes. A economia de subsistência, por exemplo, é altamente sustentável, enquanto que um pátio cheio de carros é algo completamente dissonante à proposta que os signatários dessa conferência apregoam.
    Na verdade, a questão do desenvolvimento sustentável estava sendo discutida ainda dentro dos dogmas da Revolução Industrial, tanto que as propostas de ajuda a países pobres causaram mais discórdia, justamente porque a perspectiva de benefício ou lucro, como queiram, é praticamente zero nesse expediente de assistencialismo barato em escala global.
    O ponto alto da Rio+20 talvez tenha sido a troca de experiência, de conhecimento entre os grupos, as ONGs e os povos diversos. Aquele encontro dos prefeitos das maiores cidades do mundo foi uma experiência e tanto, mesmo que os compromissos alí assumidos não sejam levados à cabo, o que valeu pela iniciativa de se discutir um problema amplo dentro de um cenário local.
     Seria, realmente, muito difícil encontrar um modelo a ser seguido entre as nações, considerando que cada uma delas tem uma questão a ser resolvida dentro de suas particularidades políticas, econômicas, sociais e geográficas. Nesse sentido, fica mais fácil a troca de informações, num debate amplo, em que as grandes ideias vão sendo recicladas e passadas adiante, com o compromisso, sim, de um fórum permanente, com a participação, não só dos agentes públicos, mas também da comunidade científica mundial, que é quem verdadeiramente busca as soluções de resultados imediatos, fruto de observação, pesquisas e métodos comprovadamente eficazes. 
   Os problemas que nós, brasileiros, temos não dependem de nenhum modelo ou decisão de cúpula. Também não temos problemas de recursos, pois a própria carga tributária imposta aos contribuintes já permite que resolvamos nossas mazelas e deficiências. Além do mais, temos a praga da corrupção, que de uma certa forma interfere na viabilidade dos principais projetos do país.
    Já poderíamos ter resolvido o problema do inchaço das grandes cidades, a questão do semiárido com a reposição das águas do Rio São Francisco, o acesso à luz elétrica ( !% da população ainda não tem ), saneamento e coleta regular de lixo nas comunidades carentes, dentro da questão de saúde pública, não de estética, como querem alguns prefeitos, como indicam as placas depois da maquiagem feita.
    Enfim, desenvolvimento sustentável é repassar soluções e práticas, num  processo sem interrupção.

domingo, 10 de junho de 2012

Rio+20 II

    Se o poder público resolver, através de parceria entre as três esferas, solucionar o problema do inchaço das grandes cidades com a política que citei aqui de proporcionar trabalho e renda nas periferias e região metropolitana estará dando um passo importante na construção de um novo perfil para as metrópoles, de um cenário de qualidade de vida  comum a toda a população.
   A unidade da federação ou cidade que conseguir trazer os primeiros resultados promissores estará inaugurando uma nova era da administração pública voltada exclusivamente para a coletividade, o que pode servir de modelo nacional. Uma política, enfim, que remexa os números do índice de desenvolvimento humano no Brasil, é claro, numa primeira etapa de um longo caminho a ser percorrido até atingirmos a meta ideal que pode, finalmente, colocar o Brasil alguns patamares acima dessa miséria em que todos vivem, segundo os números de desconforto da população brasileira.
   É, porque, longe de acreditar que esse poder de consumo que as pessoas conseguiram para comprar geladeira, televisão, carro, e ficar um  tempão pagando seja uma conquista e tanto, quando na verdade é um expediente de se protelar por muito mais que 72 meses um problema que se arrasta há décadas.
   Eu até acho que as soluções locais podem efetivamente resolver um problema de dimensão continental, aquele trabalho de formiguinha, que acaba tomando um contorno muito maior do que se imagina, mas há muito mais coisas que precisam ser feitas dentro da nossa realidade brasileira, e é aí que entram as particularidades que cada país tem para equacionar o seu próprio problema, o seu dever de casa, enfim.
    No caso específico da superpopulação nos grandes centros urbanos, o êxodo rural até hoje define o mapa sociopolítico e econômico do Brasil, pela miséria espalhada pelo país inteiro, de promessas e promessas ao longo dessas décadas, com os agentes públicos sempre empurrando com a barriga as soluções definitivas.
    Na Região Nordeste, a questão do semi-árido está, até hoje, a espera de vontade política para amenizar os efeitos da seca e, consequentemente, a fome que fustiga quem não se aventura a se debandar para o sul. Bem antes de o Bolsa-Família ensaiar um conforto para as vítimas da seca, num passado bem distante existiu uma certa Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste(SUDENE), que não resolveu coisa alguma, certamente por influência nefasta de políticos locais e a conivência do governo federal, que certamente contingenciou toda a verba para o malfadado órgão.
 Isso, sem contar o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas(DNOCS), que envolvida em irregularidades, talvez não tenha tido tempo para trazer os resultados que o povo nordestino sempre esperou, faça sol ou faça chuva.
   Agora, se a sociedade não se mobilizar, o Projeto de Transposição das águas do Rio São Francisco não sai do papel e continuará perpetuando um velho problema, por força de interesses de grupos políticos que preferem a manutenção dessa mazela no mapa do Brasil, ainda de conceitos arcaicos, que emperram o país como um todo.
   É nesse sentido que o desenvolvimento do Brasil não depende de modelo estabelecido em cúpulas. Só a sociedade brasileira pode solucionar essa questão.
    

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Rio+20 I

  Esse viés do desenvolvimento da Conferência Rio+20 certamente vai ampliar o debate em torno das principais questões da humanidade, mas nada é mais urgente que a concentração urbana nas grandes cidades.
 Hoje, qualquer grande metrópole do planeta sofre os efeitos da falta de planejamento, o que acaba tornando praticamente inviável a maioria das grandes cidades do mundo, já que a demanda cada vez maior compromete os principais serviços oferecidos à população.
  Nesse sentido, a rede pública de saúde fica saturada; o sistema de ensino público, ineficiente; as políticas de segurança também não abrangem todos os lugares e todos os cidadãos; e o transporte...bem, esse nem se fala. Eu considero a questão do transporte coletivo o maior desafio do poder público, considerando que o sistema de transporte público afeta todas as pessoas economicamente ativas nos centros urbanos.
  Infelizmente, todas as políticas do setor de transporte, pelo menos aqui no Rio, não tem trazido os resultados e suprido as reais necessidades da população. Ao longo de todos esses tempos, estamos sempre na expectativa de uma melhora, de um grande projeto que possa efetivamente trazer o conforto das pessoas no seu deslocamento casa-trabalho-casa. 
  Quando lembramos da concepção da Transoeste, da Transcarioca, da extensão do Metrô até a Barra, e uma outra linha até São Gonçalo, logo imaginamos que isso pode finalmente desafogar o trajeto das pessoas para o trabalho e de volta para casa. Apenas lembrando que tínhamos essa mesma perspectiva quando do advento da Linha Vermelha e da Linha Amarela. Hoje, elas são verdadeiras via-crusis na vida das pessoas que se deslocam da Baixada Fluminense e da Zona Oeste para o centro da cidade.
  Tenho razões para acreditar que dificilmente a municipalidade vai resolver esse velho problema que é de âmbito estadual e federal, também.
   Primeiro, porque não vemos a inclusão de ciclovias nesses projetos de mobilidade urbana como forma de alternativa de transporte ao cidadão. As ciclovias que existem atendem ao caráter de entretenimento, na orla, para o sujeito pedalar e escutar a sua musiquinha, numa boa. Eu quero ver é instalar ciclovia na Avenida Brasil, para o sujeito ir da Penha até São Cristóvão, sem gastar combustível e passagem. Ciclovia na Avenida Automóvel Club, na Estrada Velha da Pavuna, na Intendente Magalhães, na Avenida Santa Cruz, na Avenida Cezário de Melo, na Avenida Dom Hélder Câmara, na Rua 24 de maio, na 28 de setembro, e em todas as outras vias cansadas de engarrafamento e das outras que serão inauguradas, que ficarão saturadas também, com o tempo.
  O Projeto Porto Maravilha é lindo, esteticamente, mas com os empreendimentos voltados para aquela região, que modelo de transporte público a prefeitura pretende implantar para absorver um contingente maior de pessoas que se deslocarão para lá todos os dias? Derrubando a Perimetral vai piorar ainda mais. 
   Na verdade, o que falta é uma política de trabalho e renda voltada para a periferia e região metropolitana do Rio de Janeiro. As prefeituras, os governos estadual e federal poderiam atrair grandes grupos econômicos a investirem na Zona Norte, Zona Oeste, Baixada Fluminense, São Gonçalo e Alcântara, através de políticas de incetivo fiscal, como forma de se criar oportunidade e bem-estar para uma parcela significativa da população do estado do Rio de Janeiro. Isso, automaticamente, iria desafogar os trens, ônibus, barcas, aliviando o trânsito nas principais vias de acesso ao centro do Rio.
   Se houver vontade política, o poder público pode fazer muito mais do que incentivar a compra de carro novo. 

domingo, 3 de junho de 2012

Rio+20

     Não há dúvidas de que essa conferência sobre o meio-ambiente que vai rolar em junho, aqui no Rio de Janeiro, já vem com as incertezas que cercaram as outras edições do encontro. Não que a gente não deva acreditar nas intensões dos grandes líderes mundiais e demais representantes, não esquecendo também os interesses que sempre são servidos nas mesas de negociações, o que faz de qualquer encontro dessa e de outra natureza um evento meramente burocrático, sem nenhuma solução efetiva para se projetar para o futuro.
     Eu acho até que essas indefinições e desencontros se dão pela maneira com que se olha o problema por uma ótica diferente da que deveria se encarada, considerando a origem das práticas no cotidiano das grandes nações, das cidades, enfim, das peculiaridades de cada região.
     Dificilmente haverá consenso sobre o melhor modelo a ser implementado e seguido para o meio-ambiente em nível global. Agora que a nomenclatura da chamada para essa próxima discussão também mudou de nome urge também a necessidade de uma outra visão, considerando as particularidades de cada região, de cada cidade, estado ou nação, que são distintos em seus aspectos geográficos, políticos e econômicos.
     Para os técnicos e especialistas enviados ao encontro, isso não chega a ser um obstáculo em si, pois não é de hoje que todo mundo monitora todo mundo, numa troca de informação incessante, o que poderia, pelo menos teoricamente, chegar ao tal do denominador comum, no momento em que cada representante  expuser o que tem feito, dentro das especificidades de sua região, considerando os recursos naturais disponíveis, as necessidades locais e as políticas públicas implementadas.
     Aquele negócio de cada um ficar puxando brasa para a sua própria sardinha não procede mais, pois, todos devem se empenhar nas discussões, assim como nos benefícios dispensados. Como está todo mundo discursando em torno do desenvolvimento sustentável, é bom que se lembre das lacunas de regiões, digo continente africano e demais localidades com baixo índice de desenvolvimento humano no mundo, que continuarão de fora das decisões acordadas por força de interesses de políticas ultrapassadas que não visam o bem comum.
     O grande desafio é a mudança de mentalidade em torno de um novo conceito de desenvolvimento, sem os resquícios da Revolução Industrial, que ao longo desses tempos promoveu a produção e o consumo desenfreados.
     Bom, o encontro está marcado. Resta saber o que as principais cabeças pensantes do planeta vão trazer em suas bagagens. Na verdade, não dá mais para discutir a questão do meio-ambiente com ênfase apenas na ecologia. Já há a consciência de que a fauna, a flora, os nichos ecológicos e os biomas precisam ser mantidos, assim como os recursos naturais que devem ser utilizados de foram coerente.
    Só falta agora o homem garantir o seu próprio bem-estar, dentro de um  mesmo pacote que preserve o futuro das outras gerações e estabeleça medidas que punam com rigor eventuais detratores da natureza de todos.