domingo, 24 de abril de 2016

Terra das gaivotas

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   Há uma outra questão que envolve a queda da ciclovia em São Conrado, que passa bem longe das discussões sobre quem é o culpado por mais uma obra mal projetada.
   A natureza mais uma vez não foi levada em conta, considerando os cálculos que os projetistas dessa empreitada usaram para fincar essa construção numa área em que tudo se movimenta, tudo é inconstante. Não é como reformar uma praça, colocar lâmpada numa rua escura ou podar uma árvore e depois botar uma faixa e pensar que o poder público já cumpriu o seu papel de representante da população.
    Muito tem se falado sobre a questão da ocupação do solo urbano, que não é diferente de quando se ousa a investir sobre a orla marítima, do mesmo jeito que se constrói uma estrada acima de placas tectônicas que se mexem a todo instante, ou de um projeto de urbanização em comunidades, onde o projeto de  contenção de encostas sempre se esbarra na fluência dos rios que têm um destino certo.
    Lá em São Conrado, na verdade, não era era pra ter nenhum projeto que invadisse aqueles recantos onde as gaivotas buscam seus peixes, onde  as ondas esgotam seu cansaço e renovam sua energia, para começar tudo de novo nesse fluxo incessante em que tudo se renova a todo instante, do jeito que a maré traz e busca, renovando tudo aquilo que o homem nunca vai reproduzir, mesmo que ele esteja antenado com os deuses dos ventos e dos mares.
   Ali naquele espaço em que os homens respiram e se divertem só poderia haver o barulho dos mares, das marés e do amanhã. Deve ser por isso que os tubarões, as baleias e os outros cardumes se arvoram com medo do que vem depois, já tendo a certeza que de que o homem pode interferir em tudo que se move ao seu redor.
   Portanto, da mesma forma que os jacarés, os passarinhos, os quatis e  as gaivotas parecem invadir as terras que a gente habita, as ondas e os outros ciclos dos mares também se movimentam no mesmo espaço em que os homens não poderiam jamais transitar.
  É lamentável que o prefeito da cidade do Rio de Janeiro Eduardo Paes não tenha a consciência de que o ordenamento do espaço urbano não pode desconsiderar os outros seres que já habitavam por aqui, bem antes de pensarem em pedalar por essas bandas, terra das gaivotas.
   

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Obra de fachada

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    Eu sempre acreditei que essas obras de intervenções urbanas tivessem o intuito de acrescentar para a cidade do Rio de Janeiro todos os elementos que fizessem de nossa cidade aquela metrópole que o mundo todo conhece, como sendo um lugar aprazível, não só para os visitantes como também, e principalmente, para todos aqueles que vivem por aqui e sofrem no seu dia a dia, no seu cotidiano, a efervescência de uma cidade que ainda não chegou ao seu apogeu.
   Essa tragédia na ciclovia de São Conrado não é o primeiro evento que demonstra a pouca eficiência do poder público, no caso, a prefeitura,  em alavancar o nome da cidade maravilhosa no cenário de grandes destinos para quem passa por aqui. Já houve outros sinistros que mostram para a própria população do Rio de Janeiro o quanto a municipalidade vacila nesses projetos de propaganda enganosa.
   Na verdade, já não adianta mais ficar discorrendo sobre o sofrimento e a angústia da população toda vez que uma tragédia para e mobiliza a cidade, sem que haja uma resposta que demonstre a preocupação de quem deveria trazer bem-estar e segurança para os cidadãos em sua hora de lazer e deslocamento.
  O que importa agora é apurar as responsabilidades, investigar as causas do acidente  e punir exemplarmente todos aqueles envolvidos na construção da ciclovia, que numa análise preliminar feita por especialistas consultados aponta falha na concepção do projeto. Isso é o suficiente para que alguém seja penalizado, porque há um culpado de fato.
   O prefeito Eduardo Paes tem o dever de se pronunciar sobre essa tragédia, considerando seu esforço em aprontar a nossa cidade para as Olimpíadas. É lamentável que nenhuma autoridade envolvida diretamente no projeto da ciclovia tenha se deslocado para o local da tragédia para dar assistência e satisfação à população.
   Que o cartão-postal da cidade maravilhosa está arranhado há muito tempo, todos já sabem. E a única forma de reparar mais um dano causado à população é punir todos os responsáveis por mais uma tragédia que abala o Rio de Janeiro.
     
   
      

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Nação partida

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  Pelo nível de maturidade política a que chegou a sociedade brasileira, todas as incertezas que se verificam na atual realidade já poderiam estar figurando no passado de nossa história. De todas as vezes em que fomos conclamados a fazer mudanças pelo sufrágio eleitoral, as tentativas visando ares mais modernos em nossas vidas continuam assim, como mero ensaio para tudo que pretendemos, quando já poderíamos estar mudando de fase a cada vez em que há essa mobilização em massa.
   Hoje, o que mais incomoda e perturba o sono de todos não é mais essa frequência com que nos reunimos para traçar novos rumos e outras diretrizes. O que salta aos olhos é a falta de perspectiva, é a ausência de resultados em todos os esforços que fazemos para sermos desenvolvidos e modernos à altura das tecnologias que desenvolvemos, nos moldes de nossas necessidades, na mesma proporção do suor que a gente verte e sangra ao mesmo tempo.
    O que ilustra essa angústia que reparte o nosso povo em dois, o ódio e a esperança como extremos de um mesmo vetor, é o sistema que não quer outra alternativa senão essa lacuna constante que nunca se preenche. No meio desse cipoal todo entre representantes e representados, cada um em seu ambiente de discórdia, obviamente, ninguém é capaz de traduzir em seus discursos ou palavrório a unidade que precisamos para galgarmos outros degraus e atingirmos outro patamar.
    E nisso, o Brasil continua assim, fragmentado enquanto caminha, dilacerado enquanto sobrevive, porque não se enxerga nenhum projeto que demonstre a preocupação de que somos uma só nação. Nos poderes constituídos, a prerrogativa de coletividade que grassa nas leis e demais códigos passa bem longe dos trâmites legais; o povo nas ruas segue o mesmo teleguiamento de confronto a todo custo.
   Infelizmente é preciso destacar o protagonismo da imprensa em todo esse cenário de guerra no ambiente político e na opinião pública. Como já sabemos de registros anteriores, a mídia em sua maioria em nada contribui para que haja a unidade que o Brasil precisa para dar ares de uma nação moderna. Se é aceitável e democraticamente legal que haja uma linha editorial para confirmar a proposta do veículo, não é direcionando opiniões com manchetes tendenciosas que a imprensa vai contribuir para trazer à luz da sociedade a reflexão num momento conturbado.
    Até as correntes políticas que se digladiam a todo instante têm em seus núcleos o separatismo, o racha, o que reforça ainda mais o clima beligerante que em nenhum momento traz os resultados que o Brasil como um todo necessita. Se a direita e a esquerda têm em suas hostes a parcela de culpa pelo destino do país, há que se diferenciar a forma como cada um tenta conduzir e enfiar na goela da opinião pública seus projetos para o país.
    A direita, mais próxima da elite do país, só demonstra sua insatisfação por não estar no centro do poder, mas ainda não trouxe soluções que abarque todas as classes, considerando sua propaganda de salvação nacional. Não é justo que a economia do país em seu estado de inconstância, hesitação e indefinição sofra críticas de quem não aponta outros mecanismos que revertam esse quadro. Além do mais, os vícios da política envolvendo seus integrantes põe a perder qualquer discurso que reivindique o desenvolvimento do Brasil.
    Quanto a esquerda, é inadmissível que a profusão de partidos dessa corrente não chegue a um consenso para reforçar o progressismo que o conjunto apregoa. Certamente foi essa a grande dificuldade da esquerda em solidificar sua posição no cenário politico brasileiro.
     Era preciso por parte deles também a consciência de um país para todo, desde que fossem mais flexíveis e menos radicais. Por outro lado, se é louvável as conquistas sociais que a esquerda implementou para as classes menos favorecidas, a participação de membros da corrente em eventos de malfeitos tratou de queimar o filme do segmento que em momentos do passado combatia essa prática com veemência.
    E pra não dizer que não se falou das flores, o Judiciário, sempre ele, o fiel da balança. O outro poder altamente constituído, que assim como os outros também oscila entre campos opostos, expondo a velha conveniência comum a todos. É fato que as letras da lei dão margem a interpretações diferentes, mas num momento de convulsão política, não vigora esse expediente de fritura e blindagem ao mesmo tempo, considerando que a corrupção é uma célula em todos os organismos.
    Com ou sem o impedimento da presidenta, falta a essa gente que fala duas línguas a consciência de um único Brasil. Pelo menos uma fatia menor da sociedade clama pela unidade do país toda vez que as questões política, econômica e social venham a afligir a população.
    Já não é mais interessante ficar  assim por muito tempo dividindo o país em dois