Pela importância que uma campanha eleitoral representa para o futuro de um país como um todo, é desolador perceber que esse processo que ocorre de tempo em tempo ainda não causa a expectativa positiva que outros eventos do calendário brasileiro costuma gerar na população.
A aflição e o nervosismo poderiam até representar algo extremamente positivo, se houvesse por parte, principalmente do eleitorado, a determinação de buscar as transformações que as cidades, os estados e o próprio país precisam operar para desenhar novos rumos e cenários.
Eu ouvi recentemente dentro do trem, naqueles sacolejos que embalam as composições um sujeito confidenciar ao seu interlocutor sua inclinação em votar no candidato que conseguiu interceder por uma consulta médica na rede pública.
Está neste cenário a marca principal de todos os pleitos eleitorais, onde os desejos, sonhos e aspirações ainda habitam o campo individual, em detrimento do interesse coletivo. Numa análise mais profunda e realista, tanto a ideologia e o bom-senso ficam em segundo plano, porque as pessoas votam por afinidade e não por princípios.
É como já se dizia antigamente, é cada um puxando brasa para sua sardinha, e com isso, um grande projeto que poderia abarcar um número maior de grupos sociais não toma corpo porque acaba sempre ferindo os interesses de alguém.
Os próprios políticos apostam alto nesse comportamento, conferindo aos representantes dos loteamentos, ou guetos eleitorais, como queiram, o poder de suprir minúsculas necessidades de um bairro, de uma comunidade, de uma rua, onde a reposição de uma lâmpada no poste, uma rua asfaltada ou o patrocínio de um evento festivo, baile funk, festa junina ou torneio de futebol de várzea pode arrebanhar votos e dividendos no cômputo geral.
Não é difícil perceber que as regiões administrativas, hoje, são pequenas capitanias hereditárias, onde as indicações políticas não fazem nenhum esforço para trocar um grande favor ou benesse por algo amplamente necessário.
E esse processo é tão eficaz que praticamente toda gama de políticos que adotam essa prática ainda conseguem repassar a seus herdeiros um expediente que parece não ter fim, principalmente nos pleitos regionais, onde o nível das disputas é muito baixo. E no Rio de Janeiro não é diferente, tanto no âmbito estadual quanto no municipal.
A tão reivindicada reforma política não chega a ser a garantia de que esse cenário nebuloso se modifique, pois, grande parte dos que almejam o poder já demonstram nos discursos o emprego do mesmo recurso, como ficou provado nas últimas eleições, nas quais a retórica de grandes transformações ficaram pelo palanque.
Nesse sentido, este será mais um pleito com a marca do descrédito, que só um movimento contrário a essa velha corrente pode perfeitamente desconstruir esse processo nefasto e desagregador da coisa pública.
Até porque, não adianta haver inclinação para mudanças apenas em relação aos mandatários do executivo, presidente e governador. É preciso concentrar esforços e preocupações na composição do corpo de parlamentares, que possam sinalizar com novos projetos, assim como a retomada de outros que ainda não entraram em pauta por força de interesses.
Enfim, em qualquer esfera política, em qualquer tempo, o desfecho positivo de uma eleição vai depender dessa percepção por parte do eleitorado.
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