O processo de ocupação irregular e posterior retirada dos invasores do edifício da Avenida Rui Barbosa só difere de outras invasões registradas pelo caráter particular do imóvel agora escolhido pelos ocupantes.
É claro que o abandono do prédio em função de planejamento malsucedido dos proprietários do local facilitou o expediente dos invasores.
Mas, considerando o déficit habitacional que se acentua nas grandes cidades, o mesmo poder público que agora mobiliza seu efetivo de segurança para conter a sanha dos invasores é o mesmo que hesita em proporcionar moradia digna em tempo hábil a quem realmente precisa desse benefício.
Só que numa dimensão maior, num outro contexto de desenvolvimento urbano e social, as seguidas invasões que se têm verificado, somadas ao transporte público saturado e à rede de saúde pública também congestionada, configura num só plano o inchaço de uma grande cidade, que sem planejamento para atender a demanda crescente na área de habitação, transporte e saúde torna praticamente ineficaz os respectivos serviços públicos.
Na área de habitação especificamente, o poder público com as três esferas de governo envolvidas em parceria de palanques e promessas promeveram intervenções urbanas em diversas comunidades carentes, Favela-Bairro em gestões anteriores e PAC na atual circunstância, com promessa de levar bem-estar aos moradores dessas localidades.
Mas um outro contigente maior que ainda não foi contemplado com tal benefício continua convivendo com esgoto a céu aberto, colheta irregular de lixo, ligações clandestinas de água e luz, enfim, condições completamente sub-humanas e insalubres que ferem a dignidade de gerações e mais gerações à espera de moradia decente.
No caso específico do Rio de Janeiro, esse déficit se acentua ainda mais, considerando que a cidade continua sendo destino de migrantes de outras regiões do país, o que dificulta qualquer planejamento que atenda uma demanda crescente.
A mesma dificuldade que as adminsitrações das cidades do interior do estado e regiões Norte e Nordeste têm para fixar a população em seu local de origem o governante de uma metrópole como o Rio de Janeiro terá para suprir as necessidades daqui.
Portanto, assim como já vemos o modelo de transporte público completamente saturado, justamente pela falta de oportunidades na região metropolitana, e rede de saúde pública igualmente esgotada pelo mesmo motivo, a questão da habitação torna-se um grande desafio para o poder público.
Afinal de contas, é a dignidade dessa gente que está em jogo.
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