domingo, 2 de junho de 2024

VITÓRIA DA RAÇA

    

  É sempre gratificante ver um jogo de futebol com todos os elementos que fazem de uma partida em especial um grande espetáculo, como foi esse jogaço da final da Liga dos Campeões, em Wembley, entre o poderoso Real Madri e o Borussia Dortmund.
     Mas diante de tudo que tem acontecido com esse garoto Vini Júnior, não tem jeito, a gente vê a disputa com olhos e sentimentos bem distantes da velha estética do futebol. Ou pelo menos o que já se vislumbra há muito tempo longe da praça do velho esporte bretão, mas que também assenta as arquibancadas, porque o público, ou parte dele é o mesmo, ou seja, o futebol acaba sendo uma extensão da roda girando, da terra em movimento. Então... é o futebol reproduzindo a própria translação do planeta.
     Sem fazer depreciação alguma ao Borussia Dortmund, em diversos lances do Vinícius Júnior suplantando um alemão, foram muitos, eu lembrei de Jesse Owens, atleta negro que nas Olimpíadas de 1936, em Berlim, superou os alemães nas provas de atletismo e deixou o Führer pê da vida na tribuna.
    É claro que o palco do jogo era outro, o time alemão, hoje, completamente miscigenado, o próprio Real Madri com jogadores alemães e tal, enfim, as principais equipes do mundo falando várias línguas, mas, quando via o neguinho iludindo o alemão, eu lembrei de como a historia se desenrola desde sempre e várias vozes, sejam as malditas ou as miseráveis tomando cada vez mais fôlego.
  E esse jogo só não teve as reverências dirigidas ao Vini Júnior em La Liga, mas, certamente, tinha na arquibancada do rival gente se coçando, se contorcendo todo para gritar aquele velho bordão que o Vini Júnior ouve quando entorta o marcador e corre para comemorar e confirmar em gesto que está ali, numa espécie de rito de passagem ou relação de pertencimento, seja lá onde couber a maestria de Vinícius Júnior com sua arte nos pés e a bandeira empunhada, porque o talento de Vini Júnior é o seu próprio ativismo.
    A grandeza do Real Madri já é reconhecida e eternizada, assim como a diversidade do público do futebol que prestigia o futebol cada vez mais globalizado, de clubes com várias nacionalidades, vários idiomas, e ainda assim há uma parcela que se incomoda que seja o Vini Júnior quem torna por hora o futebol mais vistoso, mais belo, como já fizeram no passado outros boleiros de canelas cinzentas.
    Até que surjam outros com o mesmo talento e vozes mais ativas no combate a toda sorte de preconceito, no momento é Vini Júnior quem ganha o jogo, o prestígio e o respeito na raça e pela raça.


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