segunda-feira, 1 de abril de 2013

A cultura da meia-sola

     Pelo nível de modernidade que se alardeia e a urgência dos grandes projetos para o Brasil, não há mais espaço para a mesquinharia que compromete o nível de excelência dos empreendimentos que sugerem metrópoles mais viáveis econômica e socialmente falando.
     Foi-se o tempo em que as promessas de grandes feitos ficavam no papel, engavetados, para depois, sim, se embrenhar na morosidade da burocracia quase perpétua, revelando os descaminhos da política nas mãos de agentes públicos nefastos ou inconsequentes, esses protagonistas da administração pública que transitam em todas esferas do poder, desconstruindo completamente o conceito de responsabilidade social, como fator de evolução, tanto dos grandes centros urbanos, quanto do país como um todo.
     Em meio a toda essa trapalhada governamental, seria apenas mais um caso de hesitação do poder público, se o desperdício do dinheiro público não ilustrasse esse cenário de desordem.
     Infelizmente, não há sinais de que esse processo degradante esmoreça, porque, paralelo à ineficiência do governo em realizar grandes feitos está a incapacidade da sociedade civil, sempre tímida, de se rebelar contra o que podemos chamar de verdadeiro atentado à vida e dignidade humana.
     Não precisa nem enumerar os desmandos passados do poder público para se ter uma ideia da dimensão dos estragos que a população vem sofrendo ao longo desses anos por conta de vacilações oficiais em larga escala. Basta olhar o velho projeto de redistribuição das águas do Rio São Francisco, quase parado, interrompido, por forças de interesses, enquanto vida de gente e de gado são ceifadas no semiárido e adjacências.
     No Morro do Bumba, em Niteroi, as residências construídas para abrigar famílias vivendo em áreas de risco, depois daquela tragédia, são impróprias para habitação e terão de ser demolidas porque foram mal feitas, ou seja, dinheiro jogado fora e a dignidade daquele povo nas mãos de quem os representa.
     A prefeitura do Rio de Janeiro construiu o bem intencionado BRT na zona oeste, mas toda hora é preciso interromper algum trecho da pista de rolamento, cuja qualidade da obra realizada dispensa comentários.
     Mesmo não tendo o costume de esbravejar contra o poder público, porque alguns membros da sociedade civil já o faz, mesmo que timidamente, a população faz a sua parte, pagando os impostos devidos, seja comprando um pacote de feijão, adquirindo um automóvel, ou descontando em  folha. A população ativa do país colabora, e muito, para que o governo converta o sacrifício do cidadão em bem-estar.
     Mas o eleitor brasileiro não vota em conselheiros de Tribunais de Contas, não elege procuradores, nem membros do Ministério Público e do judiciário, o que pode retardar um pouco mais o fim dessa cultura da meia-sola.
      
     
      

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