quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Sinal vermelho

      Eu fico imaginando o espanto das pessoas ao se depararem com a foto do Edmundo rindo, quase que de orelha a orelha, depois da decisão final da justiça, absolvendo-o de vez naquele processo... Bom, todo mundo sabe.
     Garanto que muita gente se sentiu ridicularizado com o que parecia um escárnio do Animal com a nossa paciência e tolerância, principalmente aqueles que choram até hoje o passamento de um ente querido, nessas tragédias que trafegam a torto e à direita.
    Ainda que o estado de indignação permita a racionalidade e o bom senso, fica difícil fazer a leitura e interpretação correta e sensata da expressão de bonomia que Edmundo passou ante a minha quase desesperança, no momento em que um universo de mortais se estarrecia tipo, pô, esse cara tá rindo de mim.  Calma, gente! Violência, já basta a que anda de quatro patas, ou melhor, de quatro rodas.
    Como não somos uma nação anômica Edmundo apenas se beneficiou das letras da lei que estão disponíveis a todos, ou quase todos, se lá... Para Edmundo, é melhor se refestelar desse estado de direito do que sucumbir por não poder usufruir dele.
    Obviamente que a insatisfação da opinião pública não recai sobre a pessoa do ex-jogador, mesmo porque ele não é o único famoso envolvido em acidentes de trânsito. Para o ex-presidente da Comissão de Trânsito de OAB, Armando de Souza, o objeto de indignação da sociedade é a lentidão da justiça no desfecho do caso. “Quando a justiça é morosa para decidir, acaba em impunidade”, lamentou Armando.
     O próprio Conselho Nacional de Justiça não se manifesta por questões éticas, mas é claro que há um desconforto quando um magistrado executa uma ação que causa indignação na sociedade, mesmo quando o aparelho jurídico tenha sido empregado de forma legal, sem arbitrariedade ou abuso.
     Assim, os instrumentos jurídicos disponíveis são legais, apesar do protesto da opinião pública. O procurador-geral da OAB-RJ, Ronaldo Cramer, lembra que os recursos são legítimos e o Supremo Tribunal Federal apenas fez o que determina a lei. As entidades que congregam a magistratura também só aparecem para a opinião pública quando um sinistro qualquer envolve um membro da classe, como aconteceu recentemente no atentado à juíza Patrícia Aciolli.
      O governo estadual, outro agente envolvido nesse cenário, apenas comemora a arrecadação estupenda pelas multas aplicadas nas operações de repressão aos motoristas. Criada há quase três anos, a Lei Seca freou o ímpeto de muitos motoristas, como sempre tem mostrado as estatísticas, mas não o suficiente para coibir e disciplinar os condutores sistematicamente flagrados sem condições de dirigir, pois a referida lei apenas multa e denuncia o motorista infrator à Justiça comum, onde o réu encontra as brechas que vão permitir que ele continue barbeirando tranquilamente pelas ruas da cidade, causando dor e desespero em sua própria família ou na de outrem.
       A hora é de mobilização, e até que se vislumbre o trânsito consciente, motoristas e pedestres ainda terão que percorrer um longo caminho, como vem fazendo a Associação de Parentes e Amigos e Vítimas de Trânsito, com combate de esclarecimento e conscientização durante das blitizen do Detran.
      Mas isso só não basta. É preciso despertar nas gerações futuras a responsabilidade ao volante de seus possantes. Isso pode ser feito através de seminários e mostras nas salas de aulas, já no ensino básico, para que tenhamos, num futuro bem próximo, gerações de condutores conscientes, sem o deslumbramento que se vê hoje, alimentado pela febre consumista, sem nenhuma contrapartida social e ambiental.
      É muito difícil especular ou, até mesmo, tripudiar sobre a dor das pessoas, mas no meio dessa gente que chora a perda em família muitos presenteiam seus filhos com carrões novos só porque o queridinho passou no vestibular, esquecendo de prepará-lo também para ser um motorista em toda a extensão da palavra.
      Se não se pode salvar essa geração que não sabe fazer a curva no seu traçado, preparemos o pessoal do segundo pelotão. 
    

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