Um achado importante na caminhada pelas ruas do Rio encontrou, não só uma construção em mal estado de conservação, como também uma história de luta, que passa ao largo dos barulhos ensurdecedores do rush urbano, no dia a dia da efervescência carioca. Na Avenida Radial Oeste, motoristas e passantes, que só miram os semáforos ao longo daquela via, apenas percebem o Maracanã, pela sua trajetória nessa pátria de chuteiras e contrassensos. Na tangência que a rua risca ou no alvoroço das torcidas em dias de jogos, um grito de alerta soa muito pouco enquanto o trem passa e o metrô desliza.
No velho prédio branco, vizinho ao Estádio do Maracanã, ou do esqueleto dele, as marcas do abandono já duram o mesmo tempo da história que gira ao seu redor. É mais um entre as várias edificações na fila de espera por um projeto que não deixe que seu destino caia no ostracismo.
Mas quem pensa que o descaso pela falta de conservação daquele prédio é o único problema a ser resolvido está redondamente enganado. Antes que se possa aprofundar sobre a viabilidade de um projeto de reforma da antiga residência da Princesa Leopoldina é necessário que se inclua num eventual projeto destinado à área uma ampla discussão a respeito de um velho problema que remonta de nossos antepassados: a questão indígena.
Como, dificilmente, a reforma daquele prédio será incluída na urbanização do entorno do ainda maior estádio do mundo, por ocasião dos preparativos para a Copa do Mundo, é bem provável que esse descuido pela conservação de nossos registros históricos se confunda com a nossa capacidade de promover eventos esportivos.
Do lado de fora do muro, pela perspectiva dos passantes, o abandono em questão se restringe ao aspecto físico, estrutural. Mas eis que dentro daqueles domínios a causa indígena está mais viva do que nunca. Um grupo de aproximadamente 20 etnias ocupa aquele espaço há 6 anos, reivindicando entre outra coisas, a criação da primeira universidade indígena do Brasil.
Se hoje o antigo prédio tem seu destino indefinido, num passado não muito distante, o local servia de sede do Serviço de Proteção ao Índio. Em 1910, foi residência do Marechal Rondon, o maior expoente da causa indígena do país. O antropólogo Darcy Ribeiro também freqüentou o lugar, escrevendo parte de suas importantes obras, abordando a cultura dos mais antigos habitantes do Brasil, tanto que em 1975 o pesquisador fundou o Museu do Índio naquele local, que durou até 1978.
Com o apoio dos estudantes de língua indígena da UFRJ, o grupo sobrevive no local graças às aulas de tupi-guarani ministradas ali, assim como as reuniões periódicas para narração de história e manifestação de danças. Com o objetivo de difundir sua cultura e angariar recursos eles também se apresentam em escolas públicas e particulares, onde arrecadam alimentos não-perecíveis.
E essa luta constante para sobrevivência das etnias ali representadas vai resistindo à efervescência urbana ao seu redor. Nesses seis anos de ocupação daquela área foram construídas algumas ocas no terreno. São, segundo eles, frentes de resistência para que as mais de 240 etnias espalhadas pelo Brasil possam usar o local para fazer reivindicações.
Só que as ações daqueles ocupantes não se restringem à informalidade de sua rotina. No universo de todo aquele envolvimento existe um grande projeto a ser implementado, o que pode representar um avanço para a grande causa indígena, o resgate de uma dívida histórica junto aos nossos antepassados.
Para o Pataxó Garápira, o líder do grupo naquela comunidade, o maior problema é a falta de um documento oficial do imóvel, o que inviabiliza qualquer tentativa de preservação daquele espaço, em que uma parte importante da história do Brasil se mantém viva, apesar dos tapumes como divisor de água entre o passado e o o futuro, ainda incerto. Algumas entidades e políticos saíram em defesa daquela causa, mas nada foi feito, até agora, para viabilizar esse importante projeto.
Não se pode desprezar os projetos que alavancam a nossa cidade, cujo desenvolvimento permite que o Rio seja cada vez mais viável, seja no aspecto político, econômico e social. Seria, no entanto, salutar que esses vestígios de desenvolvimento conservassem também os elementos culturais de nosso povo, das nossas origens.
Mas quem pensa que o descaso pela falta de conservação daquele prédio é o único problema a ser resolvido está redondamente enganado. Antes que se possa aprofundar sobre a viabilidade de um projeto de reforma da antiga residência da Princesa Leopoldina é necessário que se inclua num eventual projeto destinado à área uma ampla discussão a respeito de um velho problema que remonta de nossos antepassados: a questão indígena.
Como, dificilmente, a reforma daquele prédio será incluída na urbanização do entorno do ainda maior estádio do mundo, por ocasião dos preparativos para a Copa do Mundo, é bem provável que esse descuido pela conservação de nossos registros históricos se confunda com a nossa capacidade de promover eventos esportivos.
Do lado de fora do muro, pela perspectiva dos passantes, o abandono em questão se restringe ao aspecto físico, estrutural. Mas eis que dentro daqueles domínios a causa indígena está mais viva do que nunca. Um grupo de aproximadamente 20 etnias ocupa aquele espaço há 6 anos, reivindicando entre outra coisas, a criação da primeira universidade indígena do Brasil.
Se hoje o antigo prédio tem seu destino indefinido, num passado não muito distante, o local servia de sede do Serviço de Proteção ao Índio. Em 1910, foi residência do Marechal Rondon, o maior expoente da causa indígena do país. O antropólogo Darcy Ribeiro também freqüentou o lugar, escrevendo parte de suas importantes obras, abordando a cultura dos mais antigos habitantes do Brasil, tanto que em 1975 o pesquisador fundou o Museu do Índio naquele local, que durou até 1978.
Com o apoio dos estudantes de língua indígena da UFRJ, o grupo sobrevive no local graças às aulas de tupi-guarani ministradas ali, assim como as reuniões periódicas para narração de história e manifestação de danças. Com o objetivo de difundir sua cultura e angariar recursos eles também se apresentam em escolas públicas e particulares, onde arrecadam alimentos não-perecíveis.
E essa luta constante para sobrevivência das etnias ali representadas vai resistindo à efervescência urbana ao seu redor. Nesses seis anos de ocupação daquela área foram construídas algumas ocas no terreno. São, segundo eles, frentes de resistência para que as mais de 240 etnias espalhadas pelo Brasil possam usar o local para fazer reivindicações.
Só que as ações daqueles ocupantes não se restringem à informalidade de sua rotina. No universo de todo aquele envolvimento existe um grande projeto a ser implementado, o que pode representar um avanço para a grande causa indígena, o resgate de uma dívida histórica junto aos nossos antepassados.
Para o Pataxó Garápira, o líder do grupo naquela comunidade, o maior problema é a falta de um documento oficial do imóvel, o que inviabiliza qualquer tentativa de preservação daquele espaço, em que uma parte importante da história do Brasil se mantém viva, apesar dos tapumes como divisor de água entre o passado e o o futuro, ainda incerto. Algumas entidades e políticos saíram em defesa daquela causa, mas nada foi feito, até agora, para viabilizar esse importante projeto.
Não se pode desprezar os projetos que alavancam a nossa cidade, cujo desenvolvimento permite que o Rio seja cada vez mais viável, seja no aspecto político, econômico e social. Seria, no entanto, salutar que esses vestígios de desenvolvimento conservassem também os elementos culturais de nosso povo, das nossas origens.
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