quarta-feira, 30 de abril de 2014

UPP já era!

   É bom que a sociedade desmistifique de vez essa história de que as comunidades ocupadas por forças policiais estão pacificadas.
   Tanto quem mora nessas áreas quanto a população em geral já estão mais que acostumados com desfechos trágicos em conflitos envolvendo policiais, bandidos e os próprios moradores, aliás, a parte mais vitimada nesses confrontos.
   Apesar de vários registros de confusão em áreas com UPP instalada, ainda falta um fato novo que pudesse reconduzir o tão almejado processo de paz.
   Não é surpresa que muitos delinquentes ainda estejam infiltrados nessas localidades, mesmo depois da ocupação policial, haja vista, como já disse anteriormente, as poucas prisões efetuadas desde a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora.
   Se havia a expectativa de ações mais enérgicas à medida em que as forças policiais fossem reconhecendo esses territórios de geografia complexa, hoje não se vislumbra resultados promissores, justamente pela forma superficial com que o aparelho policial atua nessas regiões.
   No entanto, pelo tempo de ocupação do braço armado do Estado nas principais comunidades contempladas pela atual política de segurança, bastaria ações mais efetivas, com ênfase na inteligência, em conjunto com a outra força auxiliar, a Polícia Civil, como forma de preencher integralmente todos os espaços, todos os pontos nevrálgicos, onde o poder paralelo ainda se faz presente, inclusive com intimidações e domínio sobre grande parte da população local, que sempre se insurge contra as incursões policiais, toda vez que um morador engrossa a lista de vítimas fatais nos confrontos frequentes, mesmo que não haja a comprovação da culpabilidade da Polícia Militar quanto à disparos que vitimam fatalmente algum morador.
   Eu nunca quis acreditar que a implantação das UPPs, como item principal da plataforma do governo estadual, fosse mera propaganda da atual administração do Estado do Rio. Mas, diante dos parcos e tímidos resultados que se verificam, é bom que o poder público reveja todo esse procedimento adotado até o momento, assim como uma profunda reflexão por parte da sociedade sobre os métodos da atual política de segurança que ainda permitem ações nefastas e truculentas da marginalidade, bem como o evidente despreparo da Polícia Militar em lidar com situações extremas.
   Diante dessas incertezas, isso pode ter reflexos nas próximas eleições, no momento em que um cidadão qualquer se sinta parte de um todo. 

domingo, 20 de abril de 2014

A Paixão

   Não há registro de que no deserto escaldante as peregrinações tenham esgotado o fôlego dos camelos para apenas disseminar o ódio em cada metro de areia, até alcançar as grandes civilizações, mesmo com toda impertinência dos romanos em inaugurar a era dos maiores impérios no lado ocidental.
   Nem tampouco as águas sagradas da Mesopotâmia ungiram em vão as pequenas cabeças com o propósito da intolerância.
   Se o Egito hoje borbulha em sangue, tanto a Bíblia Sagrada, o Alcorão e a Cabala não traduziram jamais para seus seguidores o modelo de intolerância que o Diabo parece querer perpetuar. Se cada vertente de fé, cada espectro de crença tomou para si o poder da verdade, isso jamais será absoluto.
   O próprio conceito de sociedade monoteísta que há milênios fomentamos em nossa cultura não permite que haja essa discrepância, essa disparidade de manuais a serem seguidos. Se existe uma entidade máxima a seguir nossos passos, o bem e o mal nunca trocarão de lado, apenas se perpetuarão como extremos de um mesmo vetor.
   Por mais que façamos leituras diferenciadas dos códigos vigentes, o amor e o ódio continuarão com a mesma face de sempre. As dores e a bagagem que carregamos é que influenciarão o lado em que almejamos estar.
   A semente da vida é um tratado de paz entre os homens. Apenas o desenho da morte que é um grande mistério. A ressurreição é o símbolo de tudo aquilo que pode ser refletido, analisado, como forma de redirecionar nossos caminhos.
   A Luz Celestial é muito mais ampla que o Sol disponível a todos os seres, porque Ela reflete até nas trevas, para acariciar o mais miserável dos homens, dando-lhe a chance de usufruir da riqueza maior que a Terra oferece.
  Para nós que acreditamos no Amor, a escuridão nunca se alastrará.
    



terça-feira, 15 de abril de 2014

Política de improviso

   Já cantei algumas vezes a pedra sobre o potencial hidroviário do Rio de Janeiro que poderia ser aproveitado para a área de transporte público. Moradores da Ilha do Governador, São Gonçalo, Alcântara, Niterói e Zona Oeste já deveriam há muito tempo serem beneficiados por uma política pública do setor que trouxessem mais conforto e comodidade a essas regiões.
   Agora, o governo do Estado do Rio sinaliza com uma alternativa de improviso para viabilizar a vida dos visitantes da cidade que desembarcarem no Aeroporto Tom Jobim, com vistas à Copa do Mundo, em junho, de modo que os turistas tenham mais mobilidade em seus deslocamentos.
   É sabido que uma obra dessa magnitude requer altos estudos de impacto ambiental pelo manejo que se dará em área comprovadamente protegida. Pela celeridade com que o poder público pretende implantar essa linha experimental saindo do terminal do Galeão, certamente o processo de desassoreamento da Baía de Guanabara não será feito em tempo hábil, para que esse novo projeto revele um importante legado para a nossa cidade.
   Não custa lembrar que o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara, que se arrasta há mais de duas décadas, não teve suas etapas concretizadas dentro da agenda prevista no ato de sua concepção, o que interrompeu vários outros projetos associados a ele, principalmente a questão do saneamento básico que o governo do Estado não conseguiu implementar, desde gestões passadas.
   Segundo reportagem do jornal O Globo, o secretário estadual de Turismo, Cláudio Magnavita, disse que o aeroporto não pode ficar com apenas um acesso durante um evento de grande porte. Ora, não é de hoje que a cidade do Rio de Janeiro recebe um número expressivo de turistas durante o verão, Carnaval e festas de fim de ano.
   O mais importante é que a população do Rio de Janeiro e região metropolitana não fique dependente de grandes acontecimentos na cidade para que seja solucionado o problema que mais aflige todos aqueles que aqui reside e trabalha.
   Em qualquer cidade que tem a dimensão litorânea que o Rio de Janeiro apresenta todo esse potencial hidroviário já foi satisfatoriamente explorado dentro de uma agenda que proporcionasse o bem-estar e o conforto da população local.
    A própria Secretaria Estadual de Transporte não deu garantias de que o Plano Diretor de Transportes Urbanos, que integra outras linhas hidroviárias, vai, enfim, sair do papel. Por enquanto, apenas a ligação Galeão- Centro do Rio será executada em caráter de emergência, visando a Copa do Mundo.
   Nesse sentido, o tão falado legado à população fica comprometido, aumentando ainda mais a angústia de quem espera melhorias na área de transportes públicos.