Há uma particularidade que difere José Mujica dos outros líderes desses tempos e de agora. Enquanto muitos se firmaram pelo carisma de grandes palestrantes, de discursos impactantes, de boa imagem em aparições midiáticas, Mujica passou pelo crivo da opinião pública e sobreviveu às incongruências do poder com uma trajetória irretocável e transparente, o que lhe confere a condição do líder que outras personalidades não conseguiram alcançar.
Para quem se propõe a ser uma referência para a juventude não vale perder o fôlego no ápice do discurso e da mensagem ao sabor da incoerência, nem, tampouco, se entregar às tentações do poder.
Hoje, é menos importante que uma figura pública com um currículo imaculado como o de José Mujica tenha emergido de fora de nossos domínios. A própria juventude que se reuniu no campus da UERJ, semana passada, tão acostumada a quebrar fronteiras pelas redes sociais, certamente foi impulsionada ao evento pelo perfil do palestrante, não por sua pátria.
E diferente de tempos atrás, quando o universo de jovens com voz ativa era mais restrito, pelo menos aqui no Brasil Mujica veio convencido de que há por essas bandas uma massa acadêmica mais diversificada em níveis sócio-econômicos e culturais.
As recentes políticas públicas do governo federal no plano educacional aproximou um número considerável de jovens das classes menos favorecidas para o âmbito das universidades, dando-lhes a oportunidade de experimentar novas formas de conhecimento e discursos no meio acadêmico.
Talvez esses dados possam ter estimulado Mujica a vir falar aos estudantes, porque surgem amplas possibilidades de uma nova fala, um novo gesto e um outro modelo se embrenharem nos guetos pela facilidade de acesso que os antes excluídos agora têm.
Não há dúvida de que no seio dessa juventude hoje mais globalizada pairam ideias, exigências e necessidades também plurais. E diante dessa tendência que se verifica, José Mujica é quem melhor pode representar essa nova massa.
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