De todas as coisas que eu aprendi com a tia Wanda, o melhor foi o conceito de compreensão e amor.
Tabuada, caligrafia, pesquisa na biblioteca, ditado, cabeçalho até chegar à equação de segundo grau foram, sim, importantes para eu ser alguém na vida.
Mas, outro dia deu um branco na mente, esqueci quanto era oito vezes sete, ai eu perguntei para a Alexa, tá tranquilo. Hoje, o mais importante é saber pesquisar no Google e ter uma letra razoavelmente legível pra não sofrer bullying, tá ligado?
Equação de segundo grau, então... até hoje eu não sei pra que serve. Também, pudera...eu fiz humanas, não precisei me aprofundar nesse negócio. Mas, ditado...bom, ditado foi fundamental pra eu ter um blog no futuro.
No mais, a gente até tinha alguma dificuldade em assimilar certas questões, mas a tia Wanda facilitava tudo pra nós com aquela paciência que eu...na moral, eu não teria diante de tanta mente que bugava e a professora tendo de configurar uma por uma, de carteira em carteira com toda a calma do mundo.
Não é possível, ela devia tomar alguma coisa pra relaxar quando chegasse em casa, um Fogo Paulista, sei lá, acho que sim, era o energético daquela época.
A única coisa que realmente tirava a tia Wanda do sério era o falatório em sala enquanto ela explicava. Ela prendia a língua entre os dentes para demonstrar raiva e, claro, plantar o terror, mas era por uma causa nobre, e todo aquele destempero se transformava em amor rapidamente.
Ela era bonita, elegante. Não perdia a linha de jeito nenhum. Se tivesse algum aluno, talvez até eu mesmo, que ela quisesse esganar pela falta de empenho ou baixo repertório mesmo, ela se mantinha alí, ó, no salto, na disciplina, sem sair da graça de forma alguma. Acredito que até nisso ela fez escola.
A tia Wanda questionava a dúvida do aluno fazendo um afago no rosto ou na cabeça do moleque na maior demonstração de carinho de que se tem notícia. Hoje, ela certamente chamaria o garoto no zap quando chegasse em casa para concluir a explicação, porque os professores são assim, os únicos que trabalham fora de seu local de trabalho. Eles almoçam corrigindo prova. Afinal de contas, foram os professores que inventaram esse negócio de home-office, entende.
Ao longo da vida ou da carreira, como queiram, a tia Wanda certamente trincou os dentes muitas vezes no ano letivo, mas, com certeza, foi amada na mesma proporção.