quinta-feira, 12 de outubro de 2023

CADÊ AS PIPAS DE GAZA?



  “Bola ou búlica?”. Como se fala em outra língua? “Pipa no alto não tem letreiro” tem tradução literal?
    Em tempos normais estaríamos celebrando o dia dedicado às crianças. Esse dia em que a gente olha para nossas crianças, nossos filhos, sobrinhos, netos e muitos desses pequenos seres próximos de nós e a gente faz aquela viagem fantástica pelo tempo já vivido.
   Em tempos normais a gente se transportaria para quando éramos crianças para se renovar, eu sempre acreditei nisso, até hoje eu faço isso.
   Mas não dá agora, pelo menos hoje e em mais alguns dias, mais alguns meses, sei lá, porque a guerra interrompeu a brincadeira. Sim, é claro que a gente vai lembrar das crianças de qualquer quadrante do planeta. Qualquer lugar onde haja uma criança sendo criança. Qualquer lugar onde os sonhos não são interrompidos e nenhum moleque muda de fase fora do tempo.
   A gente fica aqui bem distante de toda aquela confusão, de toda aquela barbárie e lembra quantas brincadeiras nossas ficaram no currículo de qualquer gente grande. Dá até vontade de procurar onde tem um pião à venda, um saco de gude. Pipa, então...nossa!! Eu acho que na minha época a camada de ozônio era formada de pipa, mas deixa pra lá.
   Infelizmente, a gente se transporta para os céus de Gaza e arredores, clamando o fim do conflito que parece não ter fim e vai com certeza interferir no futuro de mais e mais gerações, enquanto durar essa implicância. Tem criança ali que nem sabe o que é Hamas, o que é Intifada. Tem criança ali que ainda não entende por que não pode brincar com o garoto que veste aquela roupa diferente, que reza de outro jeito.
   Mesmo assim as crianças brincam quando sobram espaço e oportunidade; mesmo sabendo que de repente o bicho pega e a brincadeira acaba antes de a bola cair na búlica; mesmo sabendo que a pelada de hoje pode ser cancelada por motivo de força maior em toda a extensão da palavra. O céu agora não tem pipas, só foguetes.
   Seria muito tortuoso e humilhante para as crianças daquela faixa de terreno ficar detalhando como se enquadram os escombros no cenário de milhares de crianças agora com o playground transformado em campo de batalha, de terrorismo, de angústia e medo. Ainda assim é triste imaginar como ficou o campinho de terra batida cheio de prédios amontoados e desmontados.
   Já sabemos que Gaza já é uma terra arrasada, mas é possível imaginar que as crianças voltarão para brincar e encontrarão a pracinha toda retorcida e cheia de entulho. 1, 2, 3, Salim, aí atrás da pilastra...! Criança se reinventa e retoca uma paisagem cinzenta e fúnebre num visual lírico. Criança recicla e refaz o castelo de areia. Criança inventa moda toda vez que precisar. Nós é que achamos bizarro, não tem graça alguma essa brincadeira, mas, vai fazer o quê?
    O pior da guerra é não livrar as crianças. É o primeiro sinal de que o futuro do mundo está comprometido quando as crianças recolhem suas pipas para os foguetes passarem.

3 comentários:

  1. Vi uma reportagem em que uma menina da Faixa de Gaza dizia que queria ser uma criança normal, sem guerra, poder brincar e estudar. Triste demais

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  2. Muito triste,ver inocentes passando por tudo isso sem nem mesmo saber o motivo 😔Deus tenha misericórdia desse povo sofrido 🙏🏼

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