“Bola ou búlica?”. Como se fala em outra língua? “Pipa no alto não tem letreiro” tem tradução literal?
Em tempos normais estaríamos celebrando o dia dedicado às crianças. Esse dia em que a gente olha para nossas crianças, nossos filhos, sobrinhos, netos e muitos desses pequenos seres próximos de nós e a gente faz aquela viagem fantástica pelo tempo já vivido.
Em tempos normais a gente se transportaria para quando éramos crianças para se renovar, eu sempre acreditei nisso, até hoje eu faço isso.
Mas não dá agora, pelo menos hoje e em mais alguns dias, mais alguns meses, sei lá, porque a guerra interrompeu a brincadeira. Sim, é claro que a gente vai lembrar das crianças de qualquer quadrante do planeta. Qualquer lugar onde haja uma criança sendo criança. Qualquer lugar onde os sonhos não são interrompidos e nenhum moleque muda de fase fora do tempo.
A gente fica aqui bem distante de toda aquela confusão, de toda aquela barbárie e lembra quantas brincadeiras nossas ficaram no currículo de qualquer gente grande. Dá até vontade de procurar onde tem um pião à venda, um saco de gude. Pipa, então...nossa!! Eu acho que na minha época a camada de ozônio era formada de pipa, mas deixa pra lá.
Infelizmente, a gente se transporta para os céus de Gaza e arredores, clamando o fim do conflito que parece não ter fim e vai com certeza interferir no futuro de mais e mais gerações, enquanto durar essa implicância. Tem criança ali que nem sabe o que é Hamas, o que é Intifada. Tem criança ali que ainda não entende por que não pode brincar com o garoto que veste aquela roupa diferente, que reza de outro jeito.
Mesmo assim as crianças brincam quando sobram espaço e oportunidade; mesmo sabendo que de repente o bicho pega e a brincadeira acaba antes de a bola cair na búlica; mesmo sabendo que a pelada de hoje pode ser cancelada por motivo de força maior em toda a extensão da palavra. O céu agora não tem pipas, só foguetes.
Seria muito tortuoso e humilhante para as crianças daquela faixa de terreno ficar detalhando como se enquadram os escombros no cenário de milhares de crianças agora com o playground transformado em campo de batalha, de terrorismo, de angústia e medo. Ainda assim é triste imaginar como ficou o campinho de terra batida cheio de prédios amontoados e desmontados.
Já sabemos que Gaza já é uma terra arrasada, mas é possível imaginar que as crianças voltarão para brincar e encontrarão a pracinha toda retorcida e cheia de entulho. 1, 2, 3, Salim, aí atrás da pilastra...! Criança se reinventa e retoca uma paisagem cinzenta e fúnebre num visual lírico. Criança recicla e refaz o castelo de areia. Criança inventa moda toda vez que precisar. Nós é que achamos bizarro, não tem graça alguma essa brincadeira, mas, vai fazer o quê?
O pior da guerra é não livrar as crianças. É o primeiro sinal de que o futuro do mundo está comprometido quando as crianças recolhem suas pipas para os foguetes passarem.
🥲
ResponderExcluirVi uma reportagem em que uma menina da Faixa de Gaza dizia que queria ser uma criança normal, sem guerra, poder brincar e estudar. Triste demais
ResponderExcluirMuito triste,ver inocentes passando por tudo isso sem nem mesmo saber o motivo 😔Deus tenha misericórdia desse povo sofrido 🙏🏼
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