quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Centro Brasileiro de Arqueologia

   Já está mais do que provado que não se pode evoluir sustentavelmente sem compreender os aspectos do passado, cujos elementos vão permitir que se prossiga adiante e sempre.
      Hoje, é fácil verificar o esforço que a comunidade científica vem fazendo para trazer à tona registros históricos, no espaço físico e documental, para o conhecimento público, de forma a viabilizar os empreendimentos, como construção de rodovias ou edificações, que porventura vierem a ocupar os espaços em que se encontrem os vestígios de outrora.
      Nesse transcurso de 50 anos do Centro Brasileiro de Arqueologia (CBA), o que essa entidade sempre buscou foi justamente os resultados que se verificam atualmente: trazer à luz da modernidade os conhecimentos necessários para o andamento sustentável dos projetos, em áreas urbanas ou rurais, onde estão depositados os materiais, sem desconsiderar a sua conservação.
      Esta semana, em comemoração a tão importante data, o CBA promoveu o II Encontro Latino Americano de Arqueologia ( II ELAA) com o objetivo de mostrar o quanto os arqueólogos vêm trabalhando para fazer chegar aos olhos da sociedade a riqueza arqueológica que pode resgatar toda a trajetória de nossos antepassados até os dias de hoje e elucidar todo o processo evolutivo das populações que habitaram nosso território, assim como as heranças deixadas para o período contemporâneo, em que as técnicas empregadas vêm sendo aprimoradas ao longo de dezenas de séculos. 
      Não foi difícil perceber que todo o trabalho do CBA ao longo desses anos vem trazendo os resultados no seio da comunidade científica, especificamente os especialistas em arqueologia, bacharéis, mestrandos e doutorandos, cujos trabalhos apresentados revelaram novos conceitos na forma de conservação dos materiais e manuseio do solo, tanto para permitir melhor aproveitamento nos trabalhos de campo, como também para adequá-lo às necessidades atuais, com ênfase na questão ambiental, e consequentemente, no espectro da sustentabilidade.
      A História Universal mostra que a sequência de fatos históricos da trajetória humana é uma adequação conforme seu meio e suas relações, o que pode ser comprovado pelas teorias postuladas em tempos remotos, diga-se Darwin, Karl Marx e outros que formularam ideias a partir de pré-conceitos.
     O CBA, dentro de suas prerrogativas de entidade científica, vai continuar seguindo o mesmo viés de tornar sempre coeso o passado e futuro, para que o homem consiga investigar sua trajetória, sem desconstruir a origem das coisas.
   
      
         

domingo, 20 de novembro de 2011

Consciência Negra

     Eu quero acreditar que houve mudanças no movimento negro no Brasil, que possam dar ao nosso país o rumo que deve ser tomado para que sejamos uma sociedade cada vez mais justa.
      Muito antes de o Almirante Negro se rebelar contra as chibatadas e Zumbi resistir bravamente em Palmares, os escravos já difundiam sua cultura nos canaviais, dançando a lida no campo para ludibriar o senhor, mas professando sua crença. No chiado do vento que balançava a cana caiana, a harmonia dos cantos que embalavam a labuta, enquanto a foice ceifava o vento e os pés descalços marcavam o massapê.
      Já vai muito o tempo em que começou essa trajetória de luta até os dias de hoje, quando muito pouco mudou. Depois que a Princesa Isabel deu aquela canetada, demorou um pouco mais para se discutir essa lacuna num país miscigenado.
      Hoje, infelizmente, ainda convivemos com o racismo impregnado nas relações sociais, nas picuinhas dos guetos, onde brancos e pretos se misturam na mesma miséria, mas batem de frente quando há um conflito em seu cotidiano; e na repartição, onde a hierarquia incolor ainda incomoda muita gente.
      Podemos comemorar alguns avanços que trazem alento a quem vê a sociedade com outros olhos, mas não o suficiente para diminuir as diferenças que se verificam nos números sociais, no que diz respeito às oportunidades dispensadas a cada estrato social.
      Como combate ao racismo demos um passo importante com a instituição da Lei Afonso Arinos, que busca reparações e punições para essa segregação que ainda insiste em se impregnar no tecido social. Ontem foi assinada a Declaração de Salvador, em que países de população negra, na África e América Latina se comprometeram a criar um fundo com o objetivo de construir mecanismos, não só para combater o racismo, com punições e reparações, como também programas de inclusão social como forma de trazer mais oportunidades na área de emprego, educação, cujos resultados podem remexer nos indicativos sociais, completamente desfavorável à comunidade afrodescendente.
      É muito bacana ver apresentadores de TV, artistas, esportistas e pessoas comuns, todos negros, ascendendo socialmente, mas é triste, por exemplo, ver a dilapidação de templos de Umbanda e Candomblé, no momento em que se discute a liberdade de expressão religiosa que os órgãos de imprensa não cansam de veicular.
      A própria instituição desse dia de hoje, para reflexão sobre a consciência de todos, mostra o quanto queremos erradicar de vez esse apartheid no nosso cotidiano.
       Axé!
        

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Rocinha

    Em meio a toda essa expectativa de retomada da Rocinha pelas forças de segurança apenas a tranquilidade estampada no semblante daquela gente pode ser comemorada. Pela dimensão daquela cidade com status de favela o desafio que o poder público vai encontrar é muito maior que a empreitada utilizada para prender o malfeitor daquela comunidade.
     Se formos considerar o histórico da Rocinha desde a sua gênese até os dias de hoje, esse projeto de implantação de Unidades de Polícia Pacificadora em comunidades carentes deveria ter começado lá, onde a expansão local se confunde, não só com a geografia, como também com a expansão da cidade maravilhosa. 
      É claro que todas as comunidades representam o descaso de todas as esferas de governo com as classes menos favorecidas, e se hoje o governo está mobilizando forças e recursos para tirar aquela sofrida população das mãos do poder paralelo é porque desde um passado muito distante aquela região ficou esquecida, sem a atenção devida dos governantes que maquiaram a cidade ao longo desses anos, sem considerar que a integração entre as classes não poderia ser desdenhada pelo poder dominante.
    Mas a Rocinha é o que a gente pode considerar como a convergência entre o êxodo rural e a expansão urbana, numa época em que o Brasil estava deixando de ser rural, mas dependia da mão-de-obra vinda do semi-árido e cercanias para mostrar a cara para o mundo em seu novo conceito de país em desenvolvimento.
     O tal dever de casa não foi feito e a distância social e econômica que existe hoje apenas serve para dimensionar a miséria das vielas e a incompetência que vai mudando de mão, desde a época das urnas analógicas.
      No longo período de expansão urbana e especulação imobiliária foram os retirantes, fugidos da seca da Região Norte e Nordeste que fincaram terreno por aqui, em ocupações irregulares, contribuindo para dar forma de metrópole a uma cidade cheia de contrastes e contrassenso. E se do topo dos morros se vislumbra a imensidão da nossa selva de pedra, a Rocinha contribuiu para essa explosão demográfica, por ter se tornado o principal polo acolhedor da massa migrante para o Rio de Janeiro.
     Talvez seja essa a grande diferença entre a Rocinha e as outras comunidades espalhadas pela cidade. Porque os problemas sociais que se acentuaram ao longo de décadas são marca registrada de qualquer favela do Brasil, até.
     Com a retomada da paz nessas localidades pelas forças de segurança, o poder público finalmente dá os primeiros passos para fazer de nossa cidade maravilhosa em todos os sentidos e classes sociais.
     Mas é bom que se diga que o braço armado do estado não vai resolver sozinho aquele emaranhado de problemas espalhados por todos os cantos e becos. A tal parceria, tão alardeada pelo governador Sérgio Cabral, deve se materializar agora, com ações concretas que conduzam efetivamente a vida das pessoas, não só na questão da violência, mas também em outros indicativos, como saúde, educação, moradia, cultura e lazer.
    Só assim será possível fazer a integração social, abrangendo todos os estratos, com oportunidades para todos, de forma que os serviços públicos disponíveis se estendam à rincões e guetos. O momento é esse, de arregaçar as mangas e refletir sobre os rumos de uma cidade que se pretenda moderna e justa.
     Está mais do que na hora de a sociedade se conscientizar de que esses problemas do submundo são de todos, independente da posição em que ocupam na pirâmide social. Se deixam de recolher o lixo nas comunidades a cidade toda fica exposta à enfermidades; quando não se investe em educação nessas paisagens íngremes e assimétricas, a violência escorre pelas vielas e se espalha pelo asfalto.
     Não há oportunidade melhor para se corrigir os erros e vícios do passado. Então, aproveita que está todo mundo com a mão na massa e vamos reverter esse quadro. 
      
      

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Estado de alerta

     O que pode ser mais grave nesse cenário de calamidade no Rio de Janeiro? A sequência de eventos de barbaridade e medo à vista da população, ou a inércia do governador Sérgio Cabral em se pronunciar sobre os últimos acontecimentos, que se não ferem diretamente o cidadão comum, vítima contumaz da violência no Rio, atinge-o de qualquer forma, porque atenta sobre os seus mais fiéis representantes.
      Tanto no atentado à juíza Patrícia Acioli, amordaçada para sempre; ou no caso do deputado Marcelo Freixo, "convidado" a deixar o país; e agora com o episódio do cinegrafista Gelson Domingos, atingido numa incursão policial, os sonhos e aspirações da sociedade viram pesadelo, no momento em que os poderes constituídos e a imprensa não conseguem trazer à luz a verdade escancarada dos fatos.
     Tudo bem que os assassinos da magistrada já estão presos e serão julgados pela pressão da classe, assim como os algozes do repórter certamente não ficarão impunes, mas e a população, como fica? Que perspectiva o povo do Rio pode ter quando quem é encarregado de mostrar as nossas mazelas já não consegue levar a cabo o seu velho expediente de estampar dia após dia a realidade nua e crua das vacilações dos agentes públicos?
     Diante dessas incertezas, é muito difícil acreditar que quem vier a substituir a juíza e o deputado vão dar prosseguimento e trazer os resultados que a magistrada e o parlamentar pretendiam.
      Ainda que o governador venha à público tranquilizar a população e prometer mais empenho da cúpula de segurança, ainda assim haverá dúvidas e preocupações rondando a cabeça do cidadão, que se depara, a cada amanhecer, com um fato novo a aumentar sua desesperança.
      Essas evidências de presos em Nova Friburgo pagando propina para ter visita íntima; de escolas tendo que fechar por causa de disputa entre traficantes, em Senador Camará; e o bandido da Rocinha impondo toque de recolher naquela comunidade, além de policiais presos, protegendo aquele delinquente, revelam que ainda falta muito para o aparelho de segurança do estado chegar a um nível considerado padrão para a atual realidade da cidade do Rio de Janeiro.
      E quanto mais o governador se esquiva de uma satisfação pública fica mais evidente que não existe ideias claras para extirpar esses tumores já incrustados no tecido social.
      Tudo bem que Sérgio Cabral está envolvido na questão dos royalties do petróleo, conclamando a população a gritar contra essa usurpação aos cofres do estado, mas o chefe do executivo deve estar atento aos principais problemas da população, sem perder o foco. Afinal de contas, ele foi eleito para isso, e até quem não lhe deu voto de confiança nas eleições passadas, a essa altura do campeonato está na expectativa  que o governador logre êxito em sua empreitada, não só de trazer os benefícios para o nosso estado, como também o bem-estar que o povo almeja.
       De qualquer forma, estamos aqui no Rio, de janeiro a janeiro, numa luta constante, e apesar dos reveses, a imprensa jamais se omitirá e estará sempre presente nas trincheiras dessa guerra urbana.