segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Rocinha

    Em meio a toda essa expectativa de retomada da Rocinha pelas forças de segurança apenas a tranquilidade estampada no semblante daquela gente pode ser comemorada. Pela dimensão daquela cidade com status de favela o desafio que o poder público vai encontrar é muito maior que a empreitada utilizada para prender o malfeitor daquela comunidade.
     Se formos considerar o histórico da Rocinha desde a sua gênese até os dias de hoje, esse projeto de implantação de Unidades de Polícia Pacificadora em comunidades carentes deveria ter começado lá, onde a expansão local se confunde, não só com a geografia, como também com a expansão da cidade maravilhosa. 
      É claro que todas as comunidades representam o descaso de todas as esferas de governo com as classes menos favorecidas, e se hoje o governo está mobilizando forças e recursos para tirar aquela sofrida população das mãos do poder paralelo é porque desde um passado muito distante aquela região ficou esquecida, sem a atenção devida dos governantes que maquiaram a cidade ao longo desses anos, sem considerar que a integração entre as classes não poderia ser desdenhada pelo poder dominante.
    Mas a Rocinha é o que a gente pode considerar como a convergência entre o êxodo rural e a expansão urbana, numa época em que o Brasil estava deixando de ser rural, mas dependia da mão-de-obra vinda do semi-árido e cercanias para mostrar a cara para o mundo em seu novo conceito de país em desenvolvimento.
     O tal dever de casa não foi feito e a distância social e econômica que existe hoje apenas serve para dimensionar a miséria das vielas e a incompetência que vai mudando de mão, desde a época das urnas analógicas.
      No longo período de expansão urbana e especulação imobiliária foram os retirantes, fugidos da seca da Região Norte e Nordeste que fincaram terreno por aqui, em ocupações irregulares, contribuindo para dar forma de metrópole a uma cidade cheia de contrastes e contrassenso. E se do topo dos morros se vislumbra a imensidão da nossa selva de pedra, a Rocinha contribuiu para essa explosão demográfica, por ter se tornado o principal polo acolhedor da massa migrante para o Rio de Janeiro.
     Talvez seja essa a grande diferença entre a Rocinha e as outras comunidades espalhadas pela cidade. Porque os problemas sociais que se acentuaram ao longo de décadas são marca registrada de qualquer favela do Brasil, até.
     Com a retomada da paz nessas localidades pelas forças de segurança, o poder público finalmente dá os primeiros passos para fazer de nossa cidade maravilhosa em todos os sentidos e classes sociais.
     Mas é bom que se diga que o braço armado do estado não vai resolver sozinho aquele emaranhado de problemas espalhados por todos os cantos e becos. A tal parceria, tão alardeada pelo governador Sérgio Cabral, deve se materializar agora, com ações concretas que conduzam efetivamente a vida das pessoas, não só na questão da violência, mas também em outros indicativos, como saúde, educação, moradia, cultura e lazer.
    Só assim será possível fazer a integração social, abrangendo todos os estratos, com oportunidades para todos, de forma que os serviços públicos disponíveis se estendam à rincões e guetos. O momento é esse, de arregaçar as mangas e refletir sobre os rumos de uma cidade que se pretenda moderna e justa.
     Está mais do que na hora de a sociedade se conscientizar de que esses problemas do submundo são de todos, independente da posição em que ocupam na pirâmide social. Se deixam de recolher o lixo nas comunidades a cidade toda fica exposta à enfermidades; quando não se investe em educação nessas paisagens íngremes e assimétricas, a violência escorre pelas vielas e se espalha pelo asfalto.
     Não há oportunidade melhor para se corrigir os erros e vícios do passado. Então, aproveita que está todo mundo com a mão na massa e vamos reverter esse quadro. 
      
      

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