segunda-feira, 23 de maio de 2011

Maquiagem

     Já foi dado o pontapé inicial nos preparativos para a Copa de 2014. Além da indefinição quanto aos estádios que ainda não estão prontos para receber os jogos existe também a questão da infraestrutura das cidades que sediarão o evento.
     Tão importante quanto a urgência das obras é o legado que vai ser deixado para a população como um todo, depois do apito final do espetáculo.
    Pela deficiência nos serviços de transporte, principalmente, o ideal é que o Brasil não fosse o anfitrião dessa próxima edição de Copa do Mundo, mas como um evento desta magnitude pode trazer visibilidade e prestígio aos organizadores, é natural que o governo e a iniciativa privada se esmerem para que tudo fique pronto dentro do prazo estabelecido.
   Hoje, quando vemos o corre-corre do poder público para cumprir as exigênciais da FIFA não é difícil perceber que essas obras em execução pelo país atingem única e exclusivamente a urgência do Mundial.
   Seria interessante que qualquer projeto voltado para o desenvolvimento das cidades fosse concebido pra acompanhar a evolução urbanística das grandes metrópoles, estas que serão cidades-sedes para a próxima disputa, daqui há três anos. No caso de recebermos um evento desse porte, só precisaríamos de fazer alguns ajustes de ordem técnica, como por exemplo, enquadrar os estádios às recomendações da FIFA.
   Agora, para não se fazer feio perante a comunidade internacional os governos federal, estaduais e municipais estão tendo que rever a questão dos transportes, segurança e rede hoteleira, numa ação que já deveria ter sido feita, bem antes, para atender uma demanda antiga que o inchaço das cidades causou. De 1950 até os dias de hoje muito pouco foi feito para suprir a referida demanda de crescimento desenfreado que se verifica nas principais cidades do país.
   No Rio de Janeiro, por exemplo, a construção do Metrô e das Linhas Amarela e Vermelha foi executada muito tempo depois de sua concepção no papel, quando uma grande parte da população já percorria um longo caminho para se deslocar de casa para o trabalho, principalmente depois que várias favelas da Zona Sul foram removidas para a periferia da cidade, inaugurando, entre outras coisas, esses engarrafamentos quilométricos e diários.
    Apesar de o Rio receber, diariamente, moradores da Região Metropolitana, como Niteroi, São Gonçalo e Baixada Fluminense, o serviço de Metrô não atende os cidadãos desses locais, em sua totalidade. E esse modelo de transporte só está sendo estendido para a Barra da Tijuca por causa da Copa do Mundo e das Olimpíadas que vamos receber.
     Também em São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Recife e outras capitais existem deficiências que serão maquiadas para que a bola da Copa role redondinha, redondinha.
     Esperamos um dia não precisarmos de legado algum, e num futuro distante lembrarmos apenas do gol do Gighia.

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