quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Vox Populi

     Tem muita gente achando que a presidente Dilma Rousseff resolveu fazer essa faxina nos ministérios envolvidos em irregularidades por conta das críticas que vem recebendo de todos os lados. Ela já tinha esse objetivo, essa intenção, desde a época em que não era ninguém, apenas incomodava o establishment, o status quo oficial.
      Outros presidentes também povoaram a cabeça com ideais vindos do berço, e quando assumiram acabaram se perdendo no cipoal ideológico, como contrapartida pelo poder alcançado, porque a própria busca pelo poder implica descaminhos que sinalizam o terreno pantanoso nas curvas que virão.
       Nada impede, porém, que o mandatário opere as mudanças pelo bem da coletividade, sem atropelar a legislação vigente e o estado de direito, como princípios fundamentais em eventuais reformas de qualquer natureza, mantendo intactas as garantias individuais e coletivas.
        É dentro desse cenário que Dilma Rousseff, por assim dizer, resolveu chutar o pau da barraca, e instituir a tal faxina que já começou no Ministério dos  Transportes, da Agricultura e do Turismo, e que pelo jeito vai se estender para as outras áreas onde houver indícios de falcatrua.
      Não há dúvida de que é um passo importante na longa caminhada que ela vai precisar percorrer para dar um basta na corrupção entranhada nos organismos  públicos. Mas, infelizmente, o Executivo sozinho não conseguirá reverter esse quadro. Ciente disso, a presidente começou a executar a parte que lhe compete, enxugando dos órgãos de sua administração as indicações mal intencionadas com a coisa pública.  
       Num regime democrático, a responsabilidade pelas mudanças é de todos, não só da presidente, mas, principalmente dos outros poderes constituídos que devem também tomar iniciativa pelo processo que a sociedade pleiteia para o futuro do país. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) lançou esta semana a Frente Suprapartidária contra a Corrupção e Impunidade, de apoio à presidente Dilma Rousseff. A timidez do movimento em seu lançamento, com nove senadores apenas, revela, de imediato, que muita gente naquela Casa ainda está presa às amarras do fisiologismo. Mas, pelo discurso dos parlamentares que se alinharam ao movimento, quem quiser abraçar a causa vai ter de cortar a própria carne para o bem da nação, como bem lembrou o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), não livrando seu próprio partido da limpeza que a presidente pretende fazer.
       Só que todo esse mutirão que o Executivo e parte do Congresso estão ensaiando não é garantia de erradicação da corrupção. Enquanto as leis vigentes no Brasil oferecerem brechas que impedem punição maior daqueles que surrupiam o país, todo o esforço da presidente fica no meio do caminho. Até que se façam as reformas políticas e do Código Penal, todas as práticas ilícitas na administração pública continuarão ao sabor da impunidade que a nossa arcaica legislação oferece como brinde aos malfeitores.
      Por incrível que pareça, antes que se ouça o clamor público, engrossando o coro de Dilma Rousseff, grande parte da comunidade política já começa a desenhar o revés político da presidente pela sua audácia de ensaiar um rumo certo para o Brasil. Para quem apenas quebrou as regras de bastidores da política, sem infringir uma letra sequer da lei, louve-se o compromisso pela democracia que foi conquistada com muita luta, da qual, aliás, Dilma foi protagonista.
       Apesar da divulgação de mais um episódio importante na vida de todos os brasileiros, é triste ver a alienação de grande parte da população, no momento em que o destino do Brasil depende de todos. Da mesma forma que os parlamentares de diferentes matizes podem empunhar essa nova bandeira, os eleitores que não contribuíram para levar Dilma Rousseff ao Planalto também têm a responsabilidade social e moral de lutar pelo futuro do nosso Brasil.
        Quanto à presidente, parece que ela vai pagar  um preço bem alto por chutar o balde, assim em nível nacional, e até estranha-se que ela ainda não tenha se dirigido à população, em cadeia nacional, para mostrar a sua postura. Mas a população brasileira pode perfeitamente referendar o seu compromisso por um país mais justo. Segundo o Coordenador do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo José Álvaro Moisés, a opinião pública é a variável mais importante na qual a presidente pode se apoiar.
     
   
      

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