Eu costumo andar nos trens da Central e não é difícil perceber umas placas afixadas nos vagões, alertando sobre a proibição de manifestações religiosas no interior dos trens, amparada por decisão judicial.
Muita gente se incomodava com aquele barulho ensurdecedor das pregações sempre acaloradas, de invocações estridentes e ferrenhas, de testemunhos intermináveis, que duravam quase o tempo do trajeto até Japeri. Era a palavra de Deus que acabava sempre embalando o sono de muita gente, que depois de um dia exaustivo aproveitava para cochilar até chegar ao seu destino. Apesar do balanço do trem e dos níveis de decibéis naquele vagão de atmosfera festiva, nada abalava a vida de quem viajava naquele trem que chacoalhava também o leite das crianças.
E como no meio de toda aquela multidão na hora do rush há certamente uma diversidade de práticas e costumes, inclusive de crença religiosa, isso por si só já seria motivo de desavenças pelo choque de opinião. Mas, não. Nunca houve confronto algum, que configurasse uma guerra santa. E a proibição em questão só se deu por conta do ordenamento que reprimiu também o fumo no interior dos trens.
Estou contando esta passagem no mesmo instante em que 24 cristãos coptas foram massacrados em uma manifestação que começou pacífica, e ainda persiste, no Egito.
Aqui no Brasil, não somos um primor de povo, de imagem imaculada, de comportamento exemplar. Nossas práticas também deixam a desejar, no que diz respeito ao futuro de nossas gerações. Nosso conjunto de regras não chega a frear o ímpeto dos ordinários, e o mais miserável dos indivíduos também conhece os atalhos para a sobrevivência. Mas somos também misericordiosos, filantropos. Se acontece uma tragédia a gente logo se mobiliza para juntar cobertor, fralda, água, remédio e doar sangue.
De qualquer forma, estamos sempre fazendo um esforço para que sejamos uma sociedade mais justa. Recentemente, aconteceu na Praia de Copacabana um evento pela intolerância religiosa, onde pessoas de várias correntes se juntaram para celebrar o que pode ser a chave para um mundo melhor. Não costuma se ver esse tipo de encontro em outro lugar do planeta.
As divergências religiosas que eventualmente ocorrem ficam restritas às instituições, partidos políticos e veículos de comunicações que procuram ampliar o seu espaço. O poder central não interfere, pois somos um Estado laico e a Constituição garante a liberdade de expressão a todos.
Lamentavelmente, o que ocorre no Egito é que o governo cerceia a liberdade das pessoas, com perseguição, porque a questão religiosa está intrinsecamente atrelada ao poder. Isso é grave, considerando que o Egito é o berço dessas três religiões do ocidente, que tentam agora impor, cada uma, a sua verdade, que nunca será absoluta. Num passado bem distante, o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo estavam ungidos no mesmo ideal de consagração universal. Infelizmente, com o passar dos tempos essa irmandade foi se dissipando, com esse sinistro expediente de desconstruir sua própria história, matando e morrendo em nome de um ser supremo.
Mesmo que não sejamos um exemplo para o mundo, um modelo a ser seguido, pelo menos fazemos a nossa parte. E não é de hoje. Quando várias outras culturas foram incorporadas à nossa, por força da imigração maciça, o sincretismo religioso surgiu como um processo natural, com o entendimento de que é possível dividir o mesmo espaço, apesar das diferenças.
Parece que depois que Anwar Sadat morreu pala causa, em 1981, a intolerância se oficializou naquele país, se impregnou no tecido social, na raiz que poderia brotar uma árvore frondosa.
Ainda dá tempo de balançar o berço da historia, para nascer uma nova era.
E como no meio de toda aquela multidão na hora do rush há certamente uma diversidade de práticas e costumes, inclusive de crença religiosa, isso por si só já seria motivo de desavenças pelo choque de opinião. Mas, não. Nunca houve confronto algum, que configurasse uma guerra santa. E a proibição em questão só se deu por conta do ordenamento que reprimiu também o fumo no interior dos trens.
Estou contando esta passagem no mesmo instante em que 24 cristãos coptas foram massacrados em uma manifestação que começou pacífica, e ainda persiste, no Egito.
Aqui no Brasil, não somos um primor de povo, de imagem imaculada, de comportamento exemplar. Nossas práticas também deixam a desejar, no que diz respeito ao futuro de nossas gerações. Nosso conjunto de regras não chega a frear o ímpeto dos ordinários, e o mais miserável dos indivíduos também conhece os atalhos para a sobrevivência. Mas somos também misericordiosos, filantropos. Se acontece uma tragédia a gente logo se mobiliza para juntar cobertor, fralda, água, remédio e doar sangue.
De qualquer forma, estamos sempre fazendo um esforço para que sejamos uma sociedade mais justa. Recentemente, aconteceu na Praia de Copacabana um evento pela intolerância religiosa, onde pessoas de várias correntes se juntaram para celebrar o que pode ser a chave para um mundo melhor. Não costuma se ver esse tipo de encontro em outro lugar do planeta.
As divergências religiosas que eventualmente ocorrem ficam restritas às instituições, partidos políticos e veículos de comunicações que procuram ampliar o seu espaço. O poder central não interfere, pois somos um Estado laico e a Constituição garante a liberdade de expressão a todos.
Lamentavelmente, o que ocorre no Egito é que o governo cerceia a liberdade das pessoas, com perseguição, porque a questão religiosa está intrinsecamente atrelada ao poder. Isso é grave, considerando que o Egito é o berço dessas três religiões do ocidente, que tentam agora impor, cada uma, a sua verdade, que nunca será absoluta. Num passado bem distante, o Cristianismo, o Islamismo e o Judaísmo estavam ungidos no mesmo ideal de consagração universal. Infelizmente, com o passar dos tempos essa irmandade foi se dissipando, com esse sinistro expediente de desconstruir sua própria história, matando e morrendo em nome de um ser supremo.
Mesmo que não sejamos um exemplo para o mundo, um modelo a ser seguido, pelo menos fazemos a nossa parte. E não é de hoje. Quando várias outras culturas foram incorporadas à nossa, por força da imigração maciça, o sincretismo religioso surgiu como um processo natural, com o entendimento de que é possível dividir o mesmo espaço, apesar das diferenças.
Parece que depois que Anwar Sadat morreu pala causa, em 1981, a intolerância se oficializou naquele país, se impregnou no tecido social, na raiz que poderia brotar uma árvore frondosa.
Ainda dá tempo de balançar o berço da historia, para nascer uma nova era.
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